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O calor vem de Washington

A secretária-executiva da CMNUCC, Christiana Figueres, na conferência de Durban. Foto: Zukiswa Zimela/IPS

Durban, África do Sul, 7/12/2011 – Com a cúpula das Nações Unidas sobre o clima entrando em sua reta final nesta cidade, só Estados Unidos surgem como maior obstáculo para se conseguir um novo regime climático internacional. “A postura norte-americana pode nos levar a um aquecimento de 3ºC a 4ºC, que será devastador para os pobres do mundo”, disse a ativista Celine Charveriat, da Oxfam International. “Propõem uma década morta sem novas metas para reduzir as emissões até depois de 2020”, afirmou.

Na 15º Conferência das Partes (COP 15) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre à Mudança Climática (CMNUCC), realizada em 2009 em Copenhague, a delegação norte-americana prometeu uma redução nas emissões desse país dos gases-estufa de 17% entre 2005 e 2020. Isto está muito longe do que se reconhece como necessário para controlar a mudança climática: redução das emissões entre 25% e 40% em relação aos volumes emitidos em 1990 pelos Estados Unidos e por todas as demais nações ricas.

A ciência reitera que a contaminação climática – os gases-estufa liberados por atividades humanas como desmatamento, agricultura, transporte e indústria – deve atingir seu ponto mais alto em meados desta década e depois começar a cair ano a ano. Entretanto, o negociador norte-americano, Jonathan Pershing, insiste que o compromisso de Copenhague é suficiente até 2020.

“Dessa forma não evitaremos uma mudança climática desastrosa”, disse o diretor-geral do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Jim Leape. Com o atual aumento da temperatura média mundial de apenas 0,8 grau em relação à era pré-industrial, os próprios Estados Unidos sofreram este ano perdas sem precedentes devido às severas condições climáticas em seu território, disse Leape. Se Washington “não moderar essa postura, deveria afastar-se” das negociações, acrescentou.

Para o diretor-executivo do Greenpeace, Kumi Naidoo, “os delegados devem ouvir seus povos e não alguns interesses corporativos”. O governo de Barack Obama está traindo o povo norte-americano e os municípios e as empresas que estão adotando ações sérias para reduzir suas emissões, acrescentou.

Um delegado do bloco de Países Menos Adiantados, Pa Ousman Jarju, de Gâmbia, reclamou que Washington dê um passo atrás e deixe de bloquear as conversações da COP 17, que começaram dia 28 de novembro e terminarão no dia 9, e que ontem entraram em seus segmentos de alto nível. Jarju reiterou o compromisso do mundo em desenvolvimento com um segundo período de Protocolo de Kyoto, que expirará em 2012 e que estabelece obrigações para todas as nações ricas (exceto os Estados Unidos) no sentido de abaterem suas emissões de gases-estufa em 5,2% em relação aos níveis de 1990.

As emissões do Canadá são quase 30% maiores do que as de 1990, e o governo desse país já anunciou que não vai aderir a uma segunda fase de obrigações. Japão e Rússia tampouco estão dispostos. Assim, o Protocolo de Kyoto regularia somente um quarto das atuais emissões globais.

Havia rumores de que o Protocolo adotado na cidade japonesa de Kyoto em 1997 encontraria a morte em Durban, mas a secretária-executiva da CMNUCC, Christiana Figueres, desmentiu isso. Naidoo admitiu que o Protocolo não está morto, mas estará “em terapia intensiva nos próximos dois anos” de novas negociações. Para Jarju, além de Kyoto, é crucial o encaminhamento paralelo de discussões para regulamentar e reduzir os outros 75% da contaminação climática.

É neste encaminhamento que Washington se mostra reticente em ir além do que prometeu em Copenhague, porque a China, principal emissor mundial de dióxido de carbono, até agora se negava a assumir reduções obrigatórias. Contudo, pela primeira vez, Pequim disse que aceitaria adotar esse compromisso a partir de 2020, uma mudança que Figueres considera “muito positiva” e que faz parte dos avanços que ela espera que aumentem com a chegada dos ministros a Durban.

Além da China, outras duas grandes potências emergentes, Brasil e África do Sul, mostraram sua vontade de aderir a reduções obrigatórias a partir de 2020. A Índia é o único país do grupo Basic (que forma com Brasil, África do Sul e China) que continua se negando a isso.

A outra grande questão é a implantação do Fundo Verde para o Clima, que deve oferecer US$ 100 bilhões por ano para financiar a adaptação dos países em desenvolvimento à mudança climática, mas está paralisado porque não há acordo sobre sua estrutura e seu funcionamento, embora o mais complicado seja saber de onde virá o dinheiro.

Por outro lado, há modestos avanços nas conversações para reduzir o desmatamento, uma grande fonte de gases-estufa. A negociação do programa de Redução de Emissões Provocadas por Desmatamento e Degradação das Florestas (REDD+) centra-se em assuntos complexos, como a verificação das reduções, enquanto a questão de como financiar estes planos ficou adiada até a COP 18, que acontecerá no próximo ano no Catar. Envolverde/IPS