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O Caribe prevê os caprichos do clima para os agricultores

Kenneth Kerr, do Serviço Meteorológico de Trinidad e Tobago, explica como são utilizados os modelos informáticos para fornecer serviços de agrometeorologia aos agricultores. Foto: Jewel Fraser/IPS
Kenneth Kerr, do Serviço Meteorológico de Trinidad e Tobago, explica como são utilizados os modelos informáticos para fornecer serviços de agrometeorologia aos agricultores. Foto: Jewel Fraser/IPS

 

Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 6/1/2014 – No sudoeste da península de Cedros, uma das zonas mais áridas de Trinidad e Tobago, Jenson Alexander planta um cacau há muitos anos usado por Cadbury, o gigante britânico da indústria do chocolate. Essa aridez implica que com frequência o agricultor sofra incêndios florestais, um problema agravado pelas crescentes alterações climáticas que dificultam a possibilidade de prever a probabilidade de ocorrer uma seca prolongada e os incêndios que a acompanham.

Assim, em maio de 2013, quando o Serviço de Meteorologia de Trinidad e Tobago (TTMS) começou a emitir boletins específicos para manter os agricultores atualizados sobre as previsões das condições meteorológicas, Alexander encontrou algum alívio. “Antes, era difícil quando se esperava pela chuva e o que vinha era a seca… e os incêndios florestais”, afirmou à IPS este produtor deste país do Caribe composto pelas duas ilhas que lhe dão o nome.

Os boletins são emitidos a cada dez dias e graças a eles os camponeses reduziram consideravelmente a incerteza, afirmou Alexander. “Agora temos atualizações, podemos planejar melhor no caso de uma estação seca prolongada para que os incêndios florestais não nos afetem” como antes, acrescentou.

Kenneth Kerr, meteorologista do TTMS, disse à IPS que “os produtores de cacau afirmaram que os boletins são de grande utilidade”. O cacau  da ilha de Trinidad está entre os melhores do mundo, tanto que a empresa Cadbury chegou a ser dona de uma propriedade local produtora de matéria-prima do chocolate.

Kerr é um dos dois meteorologistas de Trinidad e Tobago que realiza prognósticos a cada dez dias dirigidos especificamente à comunidade agrícola. A outra é Arlene Aaron-Morrison, uma agrometeorologista e especialista em clima. Ela explica que o trabalho de um meteorologista difere um pouco da de um agrometeorologista. “O enfoque é diferente. O meteorologista se dedica à meteorologia aeronáutica, enquanto o agrometeorologista se concentra na agricultura”, afirmou.

A decisão de proporcionar prognósticos climáticos para os agricultores se deve a uma iniciativa conjunta apresentada em 2010 pelo Instituto Caribenho de Meteorologia e Hidrologia, pela Organização Meteorológica Mundial, pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola do Caribe e pelos serviços nacionais de meteorologia e hidrologia de dez países do Caribe.

O esforço coletivo se conhece como Iniciativa Agrometeorológica do Caribe (Cami). Seu objetivo é aumentar e sustentar a produtividade agrícola na região caribenha “mediante melhoria das aplicações da informação meteorológica e climática e com um enfoque integrado e coordenado”. A página da Cami na internet diz que o apoio à agricultura na região é uma prioridade porque o setor contribui com a segurança alimentar, ajuda a reduzir a pobreza e estimula o crescimento econômico.

A Cami reconhece que “a região do Caribe é vulnerável a uma ampla gama de perigos naturais, que vão desde eventos catastróficos, como inundações, secas e ciclones tropicais, até pragas e enfermidades em plantas, animais e humanos”. segundo o site, “especialmente nas zonas rurais pobre estes desastres causam muito sofrimento, danos à infraestrutura e ao meio ambiente, e agravam a insegurança alimentar além de reduzir ou mesmo reverter os avanços do desenvolvimento”.

O site também recorda que “a variabilidade climática, a mudança climática e a degradação do solo estão intimamente vinculadas e geram efeitos inesperados, como, por exemplo, maior incidência de condições climáticas extremas na região do Caribe”.

Neste contexto, meteorologistas da região receberam formação em agrometeorologia e agora proporcionam atualizações regulares aos agricultores sobre as condições meteorológicas previstas nos próximos dias ou meses. “Essas atualizações são muito benéficas”, disse Alexander. “Agora podemos planejar melhor, tanto a semeadura quanto a colheita”, acrescentou.

Por sua vez, Kerr explicou que o TTMS produz um prognóstico Agromet, de duas ou três páginas, e um boletim de quatro a cinco páginas com o mesmo nome. O prognóstico fornece previsão para os próximos dez dias sobre chuvas e temperaturas das zonas norte, sul, leste oeste e centro de Trinidad e Tobago, com um breve resumo de como estas condições previstas afetarão o trabalho agrícola.

O boletim Agromet analisa em profundidade o tempo dos dez dias anteriores e o prognóstico dos dez dias seguintes. Inclui dados sobre velocidade do vento e umidade esperada. Além disso, analisa em detalhe a maneira como os produtores podem responder melhor às condições climáticas previstas.

Tanto o prognóstico quanto o boletim fornecem as previsões em termos de porcentagens de probabilidades. “Trata-se de uma ciência com grandes incertezas, e dez dias adiante é muito em função da variação da atmosfera. Por isso utilizamos a probabilidade”, explicou Kerr.

O prognóstico e o boletim apresentam definições dos termos utilizados e percentuais de probabilidades. Uma probabilidade acima de 70% significa que é muito possível que a previsão se concretize. “Quanto mais distante o dia em que se fez o prognóstico, menos preciso será. Dez dias é o máximo para qualquer grau de credibilidade”, afirmou Kerr, explicando como os camponeses podem utilizar as previsões.

Segundo Kerr, se há previsão de chuva para dois dos dez dias, o trabalho no campo se complicará. Por outro lado, “proporciona uma oportunidade para que o agricultor colete água de chuva ou possa reduzir a necessidade de risco durante esses dois dias. Ou pode atuar como um amortecedor para os dias mais secos ou reduzir o estresse do calor para os cultivos recentes ou em processo de germinação”.

Os boletins Agromet oferecem análise deste tipo sobre como os agricultores podem trabalhar com as condições meteorológicas iminentes. Os prognósticos se realizam através de modelos computadorizados. “Utilizamos vários modelos para ver o que está ocorrendo e o que é mais provável de ocorrer. Depois, empregamos nosso julgamento subjetivo com base em nossa formação e experiência, junto com a climatologia dos diferentes lugares, para chegar a uma previsão para os diferentes distritos”, explicou Kerr.

Os resultados são entregues aos agricultores por correio eletrônico, pelos meios de comunicação de massa e em contatos pessoais, disse Aaron-Morrison. Também são colocados à disposição através dos escritórios de extensão agrícola e outras organizações baseadas na agricultura, incluindo a Sociedade Agrícola de Trinidad e Tobago, o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola do Caribe e a Assembleia de Tobago, o órgão local de governo para essa ilha. Envolverde/IPS