Um acordo entre o Governo do Estado de São Paulo e Associação Paulista de Supermercados (Apas) colocou, em abril deste ano, fim às sacolinhas plásticas distribuídas em supermercados. Em julho, por força de uma decisão judicial, elas acabaram retornando. Entre idas e vindas, o que ficou, além da polêmica, da falta de informação e das brigas na justiça, foi um questionamento sobre qual o real papel do consumidor nessa discussão. Afinal, as sacolinhas, antes abolidas pelos supermercados com a justificativa de estarem tomando uma atitude e prol do meio ambiente, voltou por uma reivindicação dos consumidores.
Em agosto do ano passado, muito antes dessa polêmica ganhar o noticiário do país, a Fundação Espaço ECO (FEE), o primeiro Centro de Excelência em Gestão da Socioecoeficiência e Educação para a Sustentabilidade da América Latina, divulgou uma análise de ecoeficiência que comparou o uso de diferentes tipos de sacolas para transporte de compras de supermercado. O estudo, que compreendeu a avaliação dos impactos ambientais e econômicos das alternativas, chegou à conclusão de que o impacto de cada uma das sacolas depende, sobretudo, do uso feito pelo consumidor de cada uma das opções, ou seja, está relacionado à quantidade de idas ao supermercado, ao número de vezes que cada tipo de sacola é reutilizada e como ela é descartada, entre outras características.
Há muito, nossos atuais padrões de consumo têm sido apontados como um dos principais desafios ao desenvolvimento sustentável do nosso Planeta. Uma pesquisa desenvolvida pela ONG WWF, por exemplo, demonstrou que se todas as pessoas do planeta consumissem como os paulistanos, seriam necessários 2,5 planetas para sustentar esse estilo de vida.
Mas como entender e medir o impacto desse consumo nas nossas escolhas diárias? Uma alternativa é compreender que, conscientes ou não, ao adquirirmos um produto, consumimos também toda a sua história, o que chamamos de Ciclo de Vida. E, a partir da compra, passamos a fazer parte deste ciclo, sendo também responsáveis por este processo.
Que tal se, no ato da compra, obtivéssemos informações sobre a origem do produto, seu processo de fabricação, uso de matérias-primas e condições de trabalho dos profissionais envolvidos na produção, entre outras? E mais: o que faremos com os aparelhos antigos, que abrirão espaço nas nossas salas para a chegada dos novos? E o que faremos com esses novos aparelhos quando eles também não atenderem mais às nossas necessidades?
Para alguns, podem parecer absurdos esses questionamentos, já que o país vive uma fase em que, pela primeira vez, milhões de brasileiros têm o poder de compra. Outros abordariam ainda a importância da demanda interna por bens de consumo para que o Brasil enfrente a crise econômica que assola o mundo. Todos teriam razão se a única ótica que valesse fosse, ainda, a do lucro. Entretanto, não podemos mais desassociar aspectos econômicos de questões sociais e ambientais, uma transformação real e necessária.
Devemos sim consumir. Mas devemos também cobrar mais informações e transparência dos fabricantes sobre suas práticas sustentáveis, seja durante a produção ou na oferta de soluções para o correto descarte de tais produtos. Assim, teremos um cenário em que produtores ecoeficientes e consumidores conscientes desempenham papéis decisivos na busca pelo desenvolvimento sustentável.
* Emiliano Graziano é gerente de Ecoeficiência da Fundação Espaço ECO.