O crescimento do capitalismo estatal em países emergentes

Para países emergentes, o capitalismo estatal tem um apelo óbvio.

A difusão de uma nova forma de fazer negócios nos países em desenvolvimento deve causar problemas cada vez maiores.

Ao longo dos últimos 15 anos grandes sedes corporativas transformaram as principais cidades dos países em desenvolvimento. O prédio da Central de Televisão da China se parece com um extraterrestre gigantesco atravessando o horizonte de Pequim, e as Torres Petronas de 88 andares, sede da companhia de petróleo da Malásia, reinam sobre Kuala Lumpur; esses são monumentos que caracterizam o despontar de uma nova forma de corporação híbrida, apoiada pelo Estado, mas que se comporta como uma multinacional do setor privado.

Com o Ocidente em crise e os mercados emergentes em ascensão, os chineses não veem mais empresas dirigidas pelo Estado como um ponto de parada na estrada para o capitalismo liberal; eles as veem como um modelo sustentável. Eles acham que estão redesenhando o capitalismo para fazê-lo funcionar melhor, e um número cada vez maior de líderes nos países em desenvolvimento concorda com eles. O governo brasileiro, que abraçou as privatizações nos anos 1990, agora interfere em empresas como a Vale e a Petrobras, e tenta convencer empresas menores a se juntar para formar grandes campeões nacionais. A África do Sul também está começando a flertar com o modelo.

Esses acontecimentos nos levam a duas questões. O quão bem-sucedido é o modelo? E quais são suas consequências – tanto entre mercados emergentes quanto além deles?

O retorno da lei da diminuição

Os defensores do capitalismo estatal argumentam que ele pode garantir tanto estabilidade quanto crescimento. O novo modelo pouco se assemelha à desastrosa onda de nacionalizações na Grã-Bretanha e em outros lugares há quase meio século. As empresas de infraestrutura chinesas conseguem contratos no mundo todo. Os maiores campeões nacionais são voltados para o exterior, e os governos são seletivos quanto a participações sociais. De maneira geral, o Estado chinês diminuiu seu controle da economia: seus burocratas estão se concentrando em indústrias onde eles podem fazer alguma diferença.

Deixe que floresçam

Ainda assim uma análise mais próxima do modelo revela suas fraquezas. Quando o governo favorece apenas um grupo de empresas, todas as outras são prejudicadas. Estudos mostram que companhias estatais usam capital com menos eficiência que empresas privadas, e crescem mais devagar. Em muitos países os mimados gigantes estatais estão torrando dinheiro em torres luxuosas em uma época em que empreendedores passam por dificuldades para levantar o capital que precisam.

E esses custos ainda devem aumentar. Companhias estatais costumam copiar umas às outras, em parte porque podem usar a influência do governo para se apossar de sua tecnologia; mas quando têm que usar ideias próprias elas se tornam menos competitivas. Estatais preferem fazer algumas grandes apostas ao invés de várias apostas pequenas; os maiores centros de inovação do mundo são geralmente redes de pequenas iniciativas.

O modelo também não garante estabilidade. Capitalismo estatal funciona bem quando administrado por um Estado competente. Na Rússia um pequeno grupo de burocratas, em muitos casos ex-oficiais da KGB, domina tanto o Kremlin quanto os negócios do país. Assim o modelo gera nepotismo, desigualdade e, finalmente, insatisfação – como aconteceu com o capitalismo estatal de Mubarak no Egito.

Mas pode levar anos até que as fraquezas do sistema se tornem óbvias, e, enquanto isto, deve causar todo o tipo de problemas. Uma preocupação é o impacto do modelo no sistema global de comércio – o que, com o provável candidato à presidência do Partido Republicano alegando que vai declarar a China uma manipuladora do câmbio em seu primeiro dia no cargo, já corre perigo. Garantir que o comércio é justo é mais difícil quando algumas companhias se aproveitam do apoio, seja aberto ou velado, de um governo nacional. Políticos ocidentais estão começando a perder a paciência com potências adeptas do capitalismo estatal que fraudam o sistema para favorecer suas próprias empresas.

Para países emergentes querendo conseguir espaço no mercado mundial, o capitalismo estatal tem um apelo óbvio, dando-lhes a proteção e influência que empresas do setor privado levariam anos para conquistar. Mas seus perigos são maiores do que suas vantagens. Tanto pela sua própria segurança, e pelos interesses do comércio global, os praticantes do capitalismo estatal precisam começar a se desfazer da sua participação gigantesca em empresas favorecidas e entregá-las a investidores privados. Se essas empresas forem tão boas quanto dizem ser, elas não precisam mais das muletas do apoio estatal.

* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.