Se existem criaturas, e se elas não podem criar a si mesmas, então, na falta de explicação melhor, a razão aponta para a existência de um criador. Entretanto, restam outras questões que sempre desafiaram a humanidade: quem é – ou quem são – esse criador? É ele ou ela ou nem uma coisa nem outra? Teve um propósito em criar ou criou por criar? Se podia criar desde sempre, então, por que escolheu um determinado tempo para dar inicio à Criação e não antes? Por que fez os humanos com consciência de si próprios, e capazes de imaginar um Criador, a Perfeição, o Bem, o Infinito, e às outras espécies não deu esta mesma capacidade? O que espera de nós? Temos um papel a desempenhar na Criação?
A questão pode não estar nas perguntas nem nas respostas, mas no quanto se consegue conviver com o conforto ou o desconforto do mistério.
Para os que creem, o Sagrado não é uma ilusão ou uma mera questão metafísica de acreditar ou não. Ao longo da história humana, desde quando ainda se confundia os fenômenos da natureza com deuses e diabos, a espécie humana tem mostrado uma tendência a dar sentido ao mundo buscando respostas para seus mistérios, quase como se fosse um desafio. Isto por que a percepção da realidade depende do olhar do observador. A realidade, embora seja a mesma para todos, é percebida diferentemente por cada um em função de sua cultura, informações, valores, necessidades espirituais e existenciais. Assim, o Sagrado assume um papel fundamental para aqueles que creem ao dar sentido à realidade e um propósito para a própria existência. Nessa busca, a humanidade desenvolveu diferentes visões de mundo, em função de suas diferentes culturas, tempo e lugar, dando origem ao Cristianismo, Judaísmo, Hinduísmo, Budismo, Animismo, e muitos outros ramos e sub-ramos religiosos, todos se autoproclamando os únicos verdadeiros, e são mesmo, para os que acreditam neles.
Para os que não acreditam – e ainda não desistiram de buscar pelas respostas – surgiram novas questões. Tudo o que existe, existe desde sempre, eternamente? Então não acabará nunca? Se teve um início, como o caos pode ter dado origem à ordem que existe na natureza? Antes de iniciar uma jornada na busca das respostas, talvez seja prudente pensar se precisamos mesmo de respostas para vivermos a vida e ser felizes? Pensar se podemos conviver com o mistério! Aceitar que talvez não tenhamos a capacidade e as ferramentas para encontrar as respostas ou, se as encontrarmos, talvez não consigamos compreender!
No campo ambiental, sempre que se está diante de incertezas, a lei manda adotar o princípio da precaução. Talvez seja prudente seguirmos o mesmo princípio sobre o Criador e a Criação. Se não podemos ter certezas das respostas, melhor viver a vida procurando fazer o bem, sendo o melhor que pudermos para nós próprios e para os outros, cuidar da Criação como se não fosse nossa, por que não é mesmo!
* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a Rebia (Rede Brasileira de Informação Ambiental) e edita, deste janeiro de 1996, a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.