O custo em carbono do impasse no EUA

O impasse da dívida no EUA tem implicações diretas para a política sobre mudança climática.

O miolo do impasse que impede um acordo para elevar o teto da dívida federal, limitada por lei e cujo teto deve ser ultrapassado por volta de agosto, tem a ver com a estratégia de corte de gastos. Esse corte é uma condição necessária para um acordo que permita elevar o teto da dívida.

Obama propõe cortar US$ 2 trilhões, metade disso com a retirada das isenções tributárias para as empresas produtoras de petróleo, produtores de etanol e proprietários de jatos executivos. Os republicanos são contra e querem cortar na assistência médica, o Medicare. São posições polarizadas radicalmente, que podem levar a uma ruptura. No caso, a ruptura maior seria uma moratória da dívida federal, com impacto calamitoso na economia mundial. Agravaria dramaticamente a crise na Europa e representaria um sério golpe para a China que há muitos anos é o principal financiador da dívida do EUA. Suas imensas reservas financeiras são basicamente em títulos do Tesouro do EUA de 30 anos.

Os democratas querem cortar privilégios e atividades de alto carbono. O petróleo é óbvio, é o coração da economia de alto carbono. O etanol de milho tem um balanço de carbono negativo, ou seja, emite mais na produção do que reduz emissões no uso. No Brasil, por exemplo, o balanço do álcool é positivo. Só complica no transporte, quando usa caminhões a diesel. Os jatos executivos são um privilégio e os ricos devem pagar inteiramente por ele. Têm uma das maiores emissões de carbono per capita, ou por passageiro.

Além disso, a rigidez fiscal imposta pela crise da dívida reduz dramaticamente os recursos para os programas de incentivos à economia verde que, como mostrei aqui ontem, está gerando mais emprego que a indústria de petróleo, cujos subsídios os republicanos querem manter. Essa crise, diga-se de passagem, foi criada pelos republicanos no governo Bush. No governo Clinton havia um grande superávit, que chegava até a preocupar o FED.

O republicanos são contra qualquer política de redução de emissões ou incentivo à economia verde. Estão matando na Câmara, por exemplo, projeto de lei que obriga a substituição de lâmpadas incandescentes, que representaria grande economia de energia. Querem retirar da agência ambiental, EPA, autoridade para limitar as emissões dos veículos automotivos.

Esse impasse político polarizou o Congresso radicalmente, além de impedir qualquer avanço na política federal para mudança climática. A ausência de política climática no plano federal e as dificuldades que ela representa para o avanço das políticas estaduais e municipais é o outro ponto de ruptura dessa polarização radicalizada.

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** Publicado originalmente no site Ecopolítica.