Paris, França, 8/4/2011 – As revoltas no Oriente Médio e no Norte da África fazem disparar o preço dos combustíveis fósseis, obrigando os consórcios transnacionais a tomarem uma atitude defensiva, apesar da evidente cota de responsabilidade de cada parte na volatilidade dos mercados. “Quando se esteve na cama com esses ditadores, jantou com eles e os tornou ricos, se tem alguma responsabilidade”, disse o empresário nigeriano Ahmed Lukman. “Não se pode ficar sentado e adotar uma atitude passiva”, acrescentou.
Ahmed, filho do ex-ministro de Recursos Petroleiros da Nigéria, Rilwanu Lukman, porta-voz oficial da cúpula, disse ontem à IPS que os países em desenvolvimento costuma-se ver as companhias de petróleo como confabuladas com os governos corruptos. “Quando a situação foge ao controle, todo mundo diz ‘eu não fui’, é culpa do governo”, acrescentou. “Mas as empresas do setor devem começar a fazer algo. As pessoas que estão esperando não esperarão mais”, disse, por ocasião da 12ª Cúpula Internacional do Petróleo.
A renda procedente dessa indústria “deve ser destinada a serviços, saúde, educação” e outras áreas para beneficiar a população, disse o empresário nigeriano. “Alguém tem de reduzir a brecha em lugar de se concentrar nos milhões de dólares de lucro. Estive dos dois lados e sei o que está em jogo”, disse à IPS.
A cúpula do petróleo anual reúne grandes empresários do setor e funcionários governamentais para troca de informação e discussão dos desafios futuros. Mas as “revoltas” nos países árabes mudaram o foco da conferência. O desastre nuclear no Japão, após o terremoto e o tsunami de 11 de março, também concentraram a atenção sobre o setor. Além disso, ainda são analisadas as consequências do vazamento de petróleo na plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México, operada pela British Petroleum.
Os distúrbios no Oriente Médio e na África do Norte terão ramificações críticas no mercado energético de longo prazo, disse o ex-ministro de Energia da Argélia, Nordine Ait-Laoussine, encarregado de abrir a conferência de um dia. O preço do petróleo alcançou, no dia 4, seu teto máximo dos últimos dois anos e meio, antes de voltar a cair no dia seguinte. O tipo Brent do Mar do Norte chegou a US$ 121,29 o barril. A capacidade de produção da Líbia, de 1,6 milhão de barris diários, continua paralisada pelo conflito entre governo e rebeldes.
As companhias de petróleo estudam a forma de minimizar o impacto. O orador principal da cúpula, Chrisophe de Margerie, diretor-executivo da gigante francesa Total, disse que a empresa vai investir US$ 7 bilhões em energias alternativas até 2020, sendo sua prioridade a fonte solar e a biomassa. “Estamos muito comprometidos com as novas fontes de energia”, afirmou.
A Total também busca reservas de gás e petróleo, anunciou Chrisophe, acrescentando que a empresa reiniciará as operações na Líbia o mais rápido possível. A companhia ainda não definiu sua relação com o rebelde Conselho Nacional de Transição, com sede na cidade de Bengasi. Há uma “crise de confiança” na indústria energética, reconheceu. “Não é apenas com a alternativa nuclear. É geral, e temos de recuperá-la”, acrescentou.
Chrisophe defendeu as medidas do setor para melhorar a transparência, mas disse que “estamos em uma das indústrias mais transparentes do mundo. O público não deveria considerar as companhias de petróleo como inimigas, mas como sócias potenciais”, ressaltou. O mais importante do debate é como reduzir a demanda de petróleo, prosseguiu. “Devemos diminuir o consumo em todos os países”, afirmou aos jornalistas, sem dar maiores detalhes. Os Estados Unidos são o maior consumidor mundial de derivados do petróleo, mas países como China e Índia aumentam muito sua demanda.
O consumo de energia nos países em desenvolvimento aumentará 65% nos próximos 25 anos. Além disso, a população mundial chegará aos nove bilhões de pessoas em 2050, o que pressionará para cima a demanda, segundo especialistas do setor. “Poderemos entrar em uma zona de miséria ou de oportunidade”, disse Mark Williams, diretor de refino, venda e distribuição da empresa anglo-holandesa Shell, ressaltando os “benefícios econômicos e sociais” do petróleo.
Contudo, há pessoas que já sofreram as consequências das explorações petroleiras em áreas como o delta do Rio Níger. Um estudo publicado no ano passado pela organização Amigos da Terra diz que a Shell continua violando padrões ambientais internacionais nessa região africana e que há 250 vazamentos de óleo por ano.
“A verdade é que as petroleiras e os governantes estão presos em um casamento nefasto”, afirmou Nnimmo Bassey, presidente da Amigos da Terra Internacional e diretor-executivo do capítulo nigeriano. “Dizer que o setor é transparente é faltar com a verdade”, disse Nnimmo à IPS. “Se orgulham de publicarem o que pagam, mas isso é um pedacinho de transparência. Na Nigéria, as companhias petroleiras se negam a dizer quanto óleo extraem realmente dos poços. Se isso não é falta de transparência, então não posso definir a palavra”, ressaltou.
“As companhias enfrentam as novas normas de transparência prestes a serem adotadas na norte-americana Comissão de Valores e Câmbios porque não querem declarar pagamentos que fazem a determinados governos”, acrescentou Nnimmo, que obteve, em 2010, o Right Livelihood Award (Prêmio ao Sustento Bem Ganho), considerado um Nobel Alternativo. Envolverde/IPS