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O dragão desperta para o mundo

Londres, Grã-Bretanha, 23/1/2012 – A China comemora hoje o início do Ano do Dragão. Apesar de as superstições asiáticas em torno das calamidades associadas a esses anos não terem muitos seguidores no Ocidente, é possível que os festejos sejam grandes e aconteçam em muitas capitais. Esplêndidas comemorações em Londres, Liverpool, Hawaii e Vancouver seguem tradições de longa data, estabelecidas por grandes comunidades chinesas.

Contudo, nos últimos anos, como leve gesto de assentimento à subida do gigante asiático e à sua influência onipresente, as festividades que marcam o começo do novo ano chinês se propagam além das comunidades dessa origem e se convertem em acontecimentos que atraem multidões diversas. “As celebrações em Londres, sem dúvida, cresceram e agora se diz que são as maiores fora da Ásia”, afirmou Theresa Booth, diretora do London Chopsticks Club, que promove intercâmbios culturais entre Grã-Bretanha e China.

“As comemorações estão listadas como um acontecimento especial no site Visite Londres, que sugere que elas sejam vistas como uma maneira de aproveitar o crescente interesse na China e de atrair mais turistas para Londres”, esclareceu Booth. Há cinco anos, as celebrações na capital britânica consistiam em apenas uma dança do dragão em torno do bairro chinês da cidade, um concerto em Leicester Square e muito movimento nos restaurantes, recordou.

Neste ano, haverá atuações em Trafalgar Square, realizadas com total apoio do escritório do prefeito, Boris Johnson, que fará um discurso. Luzes vermelhas aparecerão em Regent Street e Oxford Street, onde se concentram os comércios mais luxuosos de Londres. A livraria Waterstones está oferecendo uma seleção de livros dedicados ao novo ano chinês. Algumas cidades, como Bristol, esperam que os mercados chineses igualem o êxito das vendas do Natal ao oferecerem uma mistura de gentileza e artesanato chineses.

Parte da atração, que as celebrações do Ano do Dragão vão gerar, tem origem na associação com esse animal, o único fictício do zodíaco chinês. O dragão é reverenciado como ancestral mítico do antigo povo chinês, e frequentemente é visto como um símbolo da própria China.

Assim, não surpreende que a decisão do correio chinês de emitir um selo comemorativo ao ano que começa, mostrando o dragão como uma criatura temível, tenha causado críticas em seu país por “assustar” o mundo. O criador do selo, Chen Shaohua, foi atacado por retratar o dragão como uma figura com dentes afiados que brande suas garras, sob o argumento de que passa uma mensagem beligerante aos vizinhos e rivais da China.

O artista, que também criou o emblema dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, defendeu seu trabalho dizendo que a imagem do dragão buscava representar uma China confiante e em ascensão. Em seu blog, Chen afirmou que a China de 2012 está em uma situação totalmente diferente dos dois últimos anos do Dragão: 1988, quando atravessou uma dolorosa reforma econômica, e 2000, quando deu passos iniciais no cenário mundial. “Como um dos países mais influentes do mundo, a China está reconstruindo sua confiança nacional”, escreveu.

Entretanto, a belicosa imagem do dragão como emblema da China do Século 21 gerou sensações coincidentes. A escritora Zhang Yihe escreveu em seu popular microblog que tem “um medo mortal” da besta, enquanto outro cibernauta sugeriu com sarcasmo que o selo do dragão deveria ser usado como “mascote do Ministério das Relações Exteriores”.

Muitas das mensagens divulgadas no Twitter e em microblogs parecem insistir na história do dragão como representação do poder imperial chinês (os imperadores usavam insígnias de ouro com sua imagem para assinalar sua autoridade), enquanto outros se preocupam com a possibilidade de ocorrer um mal-entendido no Ocidente.
O dragão tem fortes raízes na cultura chinesa onde é tido em alta estima por seu poder para fazer o bem. Ao contrário das crenças tradicionais ocidentais, segundo as quais é uma criatura feroz inclinada à destruição, na China é reverenciado como fonte de bem-estar para o povo.

Por outro lado, os pontos de vista no Ocidente também mudaram. As comemorações pelo início do Ano do Dragão pela paz e pela boa sorte é o que a população do Ocidente espera nestes tempos de austeridade, segundo Dianne Francombe, vice-presidente da Bristol-China Partnership, que trabalha para vincular as comunidades britânica e chinesa nas cidades gêmeas de Bristol e Guangzhou. Francombe ponderou que “o dragão imperial simboliza fortaleza, solidez e magnificência”, em um momento em que “o céu está cinza e as manchetes dos jornais são sombrias”.

O Ministério da Cultura da China parece ter aproveitado este estado de ânimo. Em uma entrevista coletiva no dia 10, anunciou uma campanha ainda maior para celebrar o Ano Novo chinês no exterior e usá-lo como trampolim para promover os valores tradicionais chineses. A campanha “Feliz Ano Novo” foi lançada em 2010, capitalizando o crescente interesse mundial na China. Nesse contexto, este ano serão cerca de 300 atividades em mais de 80 países de diferentes continentes. O pianista Lang Lang e uma das apresentadoras de televisão mais famosas da China, Yang Lan, foram escolhidos embaixadores culturais para os festejos. Envolverde/IPS