A maior conferência das Nações Unidas em todos os tempos, com mais de 50 mil participantes de 188 países, foi um fiasco. Para a maioria dos ideólogos ambientalistas, a única questão da conferência Rio+20 é se ela foi uma “piada” ou um “fracasso”. A executiva-chefe da Oxfam, Barbara Stocking, preferiu chamar de “piada” (hoax, em inglês). “Fracasso” foi o termo utilizado pelo porta-voz do Greenpeace, Kumi Naidoo.
Em resposta aos resultados da conferência do Rio, mais de mil ambientalistas e grupos de esquerda assinaram uma petição entitulada O Futuro Que Não Queremos. O título é uma brincadeira com o título do documento final, O Futuro Que Queremos, acordado entre os diplomatas no encerrar da conferência. Kumi Naidoo, do Greenpeace, prometeu que agora os ambientalistas insatisfeitos se engajariam em atos de desobediência civil para buscar o mundo que desejam.
Desde a Eco-92, o mundo passou por um grande desenvolvimento. Em 1992, 46% da população mundial vivia em pobreza absoluta (com renda equivalente a menos de US$ 1,25 por dia). Hoje, o índice está em 27%. Além disso, a expectativa média de vida cresceu em três anos e meio. Na Rio+20, ambientalistas e líderes de países pobres esperavam conseguir ajuda dos países ricos e receber centenas de bilhões anualmente em assistência oficial para o desenvolvimento. No entanto, a maior parte do desenvolvimento real conseguido nas últimas duas décadas não foi resultado da assistência oficial para o desenvolvimento (ou seja, do dinheiro dos contribuintes) dos países ricos para os países pobres. Na realidade, alguns pesquisadores descobriram que a assistência para o desenvolvimento, em geral, retarda o crescimento econômico e “tem impacto insignificante ou significantemente negativo na renda per capita”. Por quê? Porque em boa parte das vezes os recursos são roubados por cleptocratas que administram muitos desses países, e o resto é “investido” em projetos que não são rentáveis. Então, o que trouxe tantas melhorias aos pobres dos países em desenvolvimento desde a Eco-92?
“Lembremos que nos anos 1960, a assistência oficial para o desenvolvimento correspondia a 70% do fluxo de capitais para os países em desenvolvimento. Hoje, corresponde a apenas 13%, mas, ao mesmo tempo, os recursos para o desenvolvimento cresceram”, explicou Hilary Clinton, secretária de Estado dos Estados Unidos, na Rio+20. “E o que seria isso? Bem, acho que vocês sabem. Embora tenhamos continuado a prover assistência, os investimentos do setor privado, utilizando recursos direcionados e políticas inteligentes, catalisaram um crescimento mais equilibrado, inclusivo e sustentável”. Ou seja: o caminho para o desenvolvimento é o comércio, não as ajudas.
Socialismo ecológico versus capitalismo selvagem
Depois de uma semana ouvindo objetivos e esperanças dos ambientalistas, uma ideia particularmente intrigante surgiu. Evidentemente, muitos participantes da Cúpula dos Povos, organizada por 200 grupos ativistas paralelamente à conferência oficial, acreditam que propriedade privada é roubo. Na versão original do marxismo, o capitalismo entraria em colapso após o acúmulo de suas contradições. Em sua atualização verde, o capitalismo entrará em colapso após o acúmulo da poluição. Para muitos dos mais engajados, a solução para os problemas ambientais é um tipo de socialismo ecológico, no qual a natureza não é “privatizada” ou “mercantilizada”.
Olhando ao redor do mundo, parece que várias políticas ambientais estão deterioradas. Desde 1992, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) afirma que a biodiversidade caiu em 12%, 740 milhões de acres de florestas primárias foram cortadas e 85% de todas das reservas de peixes dos oceanos estão superexploradas, esgotadas, se recuperando, ou foram completamente extintas. Mas será que as calamidades ambientais são o resultado do capitalismo voraz? Não exatamente. O mesmo relatório aponta que 80% das florestas do mundo, as que abrigam o grosso da biodiversidade, pertencem aos governos. Na maior parte do planeta, as áreas que pertencem ao governo, na prática, não pertencem a ninguém. Essencialmente, são esses os aspectos da natureza pelos quais os ambientalistas estão se agitando.
O fato é que aquilo que a maioria das pessoas chamaria de “problema ambiental” ocorre em propriedades públicas, com livre acesso. Um rio está poluído? Mas não tem dono e ninguém está preparado para protegê-lo. A floresta está sendo desmatada? O problema é o mesmo. Estão pescando todos os peixes de uma mesma área? Sim. Falta água? Também.
Empiricamente, defender a expansão ou a reimposição de espaços públicos em relação a recursos ambientais é equivalente a defender a sua lenta destruição.
Em geral, países com direitos de propriedade fortes veem melhoras no meio ambiente, por exemplo, quedas na poluição do ar e da água, número estável de estoque pesqueiro e expansão das florestas. Isto acontece porque os donos protegem os seus recursos já que, caso contrário, sofrerão diretamente os custos e consequências. Um segundo efeito indireto é que os países com direitos de propriedade fortes são mais prósperos e podem cobrir os cursos das regulamentações ambientais, mesmo as menos eficientes.
Olhando para trás, o fracasso do ambientalismo como ideologia parece inevitável, já que ele interpretou erroneamente muitos dos problemas para os quais afirmava ter a solução. No fechamento da Rio+20, o ambientalismo atingiu seu ponto de maré alta e agora esvazia como força política internacional. Será interessante ver em qual direção correrão agora aqueles que acalentam permanentemente um animus contrário ao capitalismo democrático.
* Ronald Bailey é escritor e colunista da revista Reason.
** Pubicado originalmente no site OrdemLivre e retirado do site Opinião e Notícia.