Comentário para o programa radiofônico do OI, 26/4/2011.
A notícia está presente nas edições de terça-feira (26/4) de todos os jornais de circulação nacional: os principais representantes da Ciência no Brasil afirmam que o projeto de mudanças no Código Florestal, conforme foi apresentado para votação no Congresso Nacional, não se sustenta.
A poucos dias da votação, que está sendo conduzida por uma negociação entre os representantes da bancada ruralista e a maioria governista na Câmara dos Deputados, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) encaminharam pedido ao Parlamento para que a decisão seja adiada.
Segundo os cientistas, serão necessários dois anos de estudos e negociações para se chegar a um modelo aceitável de regulação, capaz de assegurar a defesa do patrimônio ambiental diante da necessidade de expandir a produção agropecuária. Como exemplo, eles afirmam que a redução das áreas de proteção da mata ciliar, da forma como o projeto apresenta, vai produzir um enorme impacto no meio ambiente.
Agenda mantida
Um dos brasileiros que integram o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas observa que a proposta defendida pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) não tem fundamento científico. Os cientistas reconhecem que a legislação precisa ser reformulada e que o Brasil precisa expandir a produção de alimentos.
O país é considerado um dos principais responsáveis pelo atendimento da crescente demanda mundial, que deve duplicar ou triplicar nos próximos anos, admitem os pesquisadores, mas, de acordo com seus estudos, a proposta apresentada por Aldo Rebelo não atende essa necessidade e ainda coloca sob risco o patrimônio ambiental. Eles dizem, por exemplo, que nem todas as áreas onde há reservas naturais são aptas para a atividade agropecuária. Por outro lado, pode-se aumentar muito a produtividade dos negócios rurais com a aplicação do conhecimento adequado.
Um dos argumentos apresentados pelos cientistas observa, por exemplo, que a pecuária brasileira era mais produtiva na década de 1940, com uma média de 2,56 cabeças de gado por hectare, do que agora, com a média de 0,93 cabeças por hectare.
Segundo o presidente da Câmara, citado pelos jornais, a votação do relatório de Aldo Rebelo será mantida para os dias 3 e 4 de maio.
Crescimento e preservação
A imprensa tem dado boa cobertura à divulgação dos estudos científicos sobre o Código Florestal, mas não vem mantendo o assunto entre seus principais destaques. No geral, o tema é tratado como se fosse uma disputa entre produtores rurais e ambientalistas.
No momento em que, nas páginas das seções de Economia dos jornais, se discute intensamente desafios relacionados ao modelo de desenvolvimento do Brasil, com temas como inflação e balança comercial, o núcleo da questão da sustentabilidade passa quase despercebido, em notícias esparsas.
O futuro do Brasil se define, em grande parte, por sua capacidade de assegurar o bom desempenho da economia rural e ao mesmo tempo preservar a riqueza da diversidade biológica.
* Publicado originalmente no site do Observatório da Imprensa.