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O interesse dos fósseis aqueceu as areias de Doha

A esperança do homem diante de Doha. Foto: M.V. I - IPS

Já está circulando a revista ECO 21 de dezembro de 2012. Uma das principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, a ECO 21 deste mês traz excelentes textos. Veja abaixo do editorial o índice da edição.

Editorial

Pela segunda vez na história das Convenções da ONU, o documento final de uma COP, neste caso, a COP-18 da Convenção sobre Mudanças Climáticas, em Doha, aprovou-se no dia 8 deste mês com o dissenso do governo da Rússia; anteriormente a discordância foi da Bolívia, durante a COP-16, em Cancun.

Em Doha, quando o Presidente da COP-18, Abdullah Bin Hamad Al-Attiyah abriu a plenária de encerramento, Oleg Shamanov chefe da delegação russa, tratou de mudar o statu quo afirmando que a Rússia era contra, mas o catariano respondeu que seu protesto seria simplesmente adicionado ao documento final (um intricado pacote chamado Portal Climático de Doha) e depois explicou para a imprensa que ele tinha captado o “desejo da plenária” entendendo que houve um consenso em relação aos documentos discutidos e que um único país não poderia desestimar a vontade de todos os outros.

A pressão do lobby dos interesses das empresas de energias fósseis dos países desenvolvidos obteve uma grande conquista em Doha: continuar discutindo o Protocolo de Kyoto, único tratado internacional obrigatório para reduzir as emissões de gases de Efeito Estufa durante mais três anos. Para cada ano que se adiem as medidas para conter o aquecimento global, a temperatura da Terra aumenta pelo menos 0,2°C. Há 20 anos, o IPCC estimou que as temperaturas médias globais subiriam entre 0.35 e 0.75°C até 2010 e hoje vivemos 0.39°C mais quente. A previsão até 2030 é que o aquecimento seja de 1,5°C.

Segundo o jornalista Stephen Leahy, da IPS, os delegados de Washington bloquearam todas as referências que estabeleciam compensações ou responsabilidades admitindo abertamente que temiam represálias políticas domésticas. “Os países industrializados haviam prometido destinar US$ 100 bilhões por ano ao Fundo Verde para o Clima a partir de 2020. Com o objetivo de preencher a lacuna até essa data, as nações em desenvolvimento pediram US$ 60 bilhões até 2015. Alemanha, Grã-Bretanha e mais um punhado de governos prometeram entregar US$ 6 bilhões, mas de forma voluntária”, escreve Leahy.

As 195 partes da Convenção que aprovaram o “Portal Climático de Doha” não diminuíram as emissões contaminantes nem garantiram assistência econômica aos países pobres que sofrem agora, ou sofrerão no futuro, o impacto da mudança climática. “Doha é uma traição para as pessoas que estão sofrendo”, afirmou Kumi Naidoo, Diretor do Greenpeace Internacional.

A boa repercussão, na COP-18, dos mais recentes números sobre desmatamento na Amazônia colocou o nosso país numa posição de vantagem. Na COP-18, o Brasil e outras nações em desenvolvimento defenderam a segunda fase do Protocolo de Kyoto. Não participam dele com metas de redução vinculantes, mas de forma voluntária, por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

Graças à inoperância dos governos em Doha, a fria Polônia, que acolherá a COP-19 acontecerá num tórrido dezembro boreal.

A equipe da ECO 21 deseja a todos boas festas!
Feliz 2013, com amizades e realizações sustentáveis!

Gaia Viverá!

Índice

04 Silvia Dias – Varsóvia espera os desafios da COP-19 do Clima
6   Morrow Gaines Campbell III – O Brasil na (e depois da) COP-18
8   Izabella Teixeira – A principal tarefa em Doha é o 2º período de Kyoto
12 George Monbiot – O neoliberalismo tolhe a luta contra a mudança climática
16 André Trigueiro – Prefeitos, mãos à obra!
18 Washington Novaes – Os inúteis caminhos na derrota da seca no Nordeste
20 Nelton Miguel Friedrich – Cultivando Água Boa, um movimento regional
23 Rafaela Ribeiro – Cuidando da Bacia do Prata
24 José Monserrat Filho – O espaço revela a desigualdade global
28 Oscar Niemeyer – A cidade do ano 2000
32 Janez Potocnik – Europa celebra 20 anos de proteção à natureza
34 Natasha Ísis – O manguezal pede socorro
35 Jimena Felipe Beltrão – A floresta respira
36 Celso Lopes – Monte Mor retrata a vida no agonizante Rio Capivari
38 Alana Gandra – Oceanógrafo defende controle ambiental na área do pré-sal
40 Julianna Malerba – Novo Código Minerário: perdas sociais e ambientais
42 Valéria Dias – Reciclagem não impede a destruição ambiental
43 Alessandro Azzoni – O destino do produto eletrônico é a reciclagem
44 Denise Oliveira – Crianças pedem a Dilma uso de energias renováveis
46 Julia King – Desenvolvimento sustentável: a chave do mercado hoteleiro
48 Leonardo Boff – O caminho como arquétipo
50 Mayana Zatz – O Nobel de Medicina e as células-tronco embrionárias

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