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O mar ameaça a África ocidental

O nível do mar na costa da África ocidental aumentou este ano outra vez. Foto: Fulgence Zamblé/IPS

Abidjã, Costa do Marfim, 4/10/2011 – O nível do mar na Costa do Marfim e em outros países da África ocidental subiu novamente este ano, destruindo casas e infraestrutura em geral. A busca por soluções efetivas demora e a erosão da costa se acelera. Há muito tempo, no terceiro trimestre de cada ano ocorre uma elevação do nível do mar no Golfo da Guiné. Em Abdijã, principal cidade marfinense, várias casas foram destruídas e dezenas de famílias ficaram sem teto no mês passado.

O problema não se limita a áreas urbanas: não longe de Abdijã, a comunidade de pescadores artesanais em Grand-Bassam perdeu muitos equipamentos, o que afetou gravemente sua subsistência. Já a capital da Mauritânia, Nouakchott, sofreu grandes inundações, e algumas estimativas indicam que 80% da cidade estará debaixo d’água até 2020.

Milhares de quilômetros na costa de Cotonu, centro econômico de Benin, também sofrem erosão. Um artigo do jornal Nouvelle Expression questionou este mês o governo por não salvar a costa, e documentou a inundação em várias partes de roi de Langouste Hotel, leste da cidade. Há um projeto em andamento para construir sete novas barreiras contra a água em volta de Cotonu, bem como para reabilitar a barreira existente de Siafato, que já foi ampliada de 220 para 260 metros.

A mudança climática é um dos fatores que causam a elevação do nível do mar, mas outras atividades, como a extração não regulada de areia e a destruição de mangues têm um papel importante em toda a região. Na Costa do Marfim, especialistas dizem que é preciso reabrir a desembocadura do Rio Comoé. Com de 813 quilômetros de comprimento, este rio nasce entre as cidades de Banfora e Bobo-Dioulasso, oeste de Burkina Faso, e flui através da Costa do Marfim de norte a sul antes de alcançar a lagoa Ebiré, próximo de Abdijã.

A lagoa, que se estende por mais de cem quilômetros ao longo da costa, está aberta ao mar apenas através do canal artificial de Vridi, construído em 1950 para permitir que Abdijã se convertesse em um porto de água profunda. A água do Comoé também chega ao mar poucos quilômetros a leste, perto de Grand-Bassam, mas esta saída natural agora está bloqueada pela lama do Rio.

“Temos 500 quilômetros de costa que estão sendo absorvidos pelo mar, e em alguns casos esta retrocede até dois ou três metros por ano. O mar está ganhando terreno”, afirma Cédric Lombardo, ambientalista em Abdijã que trabalhou no tema para o governo por cinco décadas. Para Lombardo, o fechamento da desembocadura natural do Rio Grand-Bassam pelo acúmulo de sedimento teria consequências. O estuário de Comoé recebe grandes depósitos de lama, que variam de 60 centímetros a um metro por ano.

O canal de Grand-Bassam foi artificialmente reaberto quatro vezes, a última em 2004, só para ser bloqueado quase que imediatamente. Lombardo acredita que a nova operação para abri-lo, ao custo de US$ 30 milhões, deveria também criar outro acesso do Comoé à lagoa, e depois para o mar, permitindo, dessa forma, que a lama se estabilize na ribeira.

“Essas são as opções”, concorda o ambientalista Frédéric Kouamé, de Abdijã. “Contudo, ainda falta ver se funcionarão no longo prazo, e sem consequências negativas no curto prazo. Porque, geralmente, as soluções propostas são apenas temporárias”, acrescentou. Kouamé citou como exemplo a construção de dunas artificiais para proteger a costa há uma década e todas entraram em colapso pela pressão do mar. Acrescentou que os efeitos da mudança climática, em particular a elevação do nível do mar, só agravarão a erosão da costa da África ocidental.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) também observou que as respostas dos governos só tiveram o efeito de retardar ou deslocar um processo de erosão que se intensificará. Em uma reunião de ministros do Meio Ambiente da África ocidental realizada em maio passado em Dacar, no Senegal, a UICN destacou a necessidade de dar respostas mais sustentáveis.

No mesmo encontro, sete países costeiros, da Mauritânia, no oeste, aBenin, no leste, acordaram a criação de um observatório costeiro na África ocidental para reduzir os riscos relacionados com a erosão marinha. Os governos também reconheceram que a maioria dos métodos efetivos para estabilizar a costa inclui a proteção e extensão da infraestrutura natural, como mangues, dunas costeiras e lagoas. Envolverde/IPS