A busca ansiosa por um emprego público, por meio de concursos, retrata um aspecto importante do mercado de trabalho. Cada vez mais pessoas procuram oportunidades que lhes tragam segurança, estabilidade, permitindo-lhes uma perspectiva de longo prazo. É uma atitude praticamente natural, porém um pouco preocupante.
A disputa pelas melhores vagas de emprego na iniciativa privada deixa muita gente boa de fora, é verdade, e a cobrança por desempenho ao longo do tempo provoca tensão e estresse, também é verdade. Mas a febre do concurso público pode conter uma característica importante: pouco espírito empreendedor, aversão a riscos.
O brasileiro empreendedor prova, no mercado, a duras penas, que não desiste nunca. A luta pela ascensão gera, muitas vezes, um ambiente inóspito. Chega a ser uma arena, à qual adentram os mais corajosos, e não é muito delicada com os inexperientes, os novatos. O mundo dos bons negócios do presente é território de peixe grande, próprio para quem tem bala na agulha. Para empreendedores pequenos faltam estímulo e financiamento adequado, além de informações e outros fatores. Aqueles que carregam fantasias demais e lastro de menos na bagagem se deixam assustar pelas chances de dar errado. Uns poucos remam contra a maré de incertezas, deixando-se levar pela chance de dar certo.
No início de um novo negócio, há pouca margem de manobra. Neste momento, os erros custam muito caro. Leis complexas, duras, o custo da folha de pagamento, falta de financiamento e a carga tributária são reflexos da falta de políticas públicas estimulantes. O pequeno empreendedor, num mar de adversidades, pode ser engolido pelos tubarões ou devolvido à praia por uma onda mais forte.
Os bons negócios tradicionais estão ocupados, águas de tubarões. Empreender, agora, significa inovar, criar. É a hora dessa “juventude mostrar seu valor” e criar os bons negócios do futuro. É a hora da tal da economia criativa, espaço onde se misturam conhecimento, informação, serviço, entretenimento e se oferecem opções para uma gente que tem cada dia mais tempo disponível e está disposta a pagar cada vez mais por uma “ experiência”. Não há, ainda, tubarões nessas águas.
Reconhecer quem fez algo nessa área pode significar o estímulo que falta para outros tomarem a iniciativa e se lançarem ao mar de oportunidades dessa “nova economia”. Ganhar ou perder não conta, tanto faz, necessário é viver. Navegar é preciso.
O segmento de grandes eventos musicais, marcado antes pela informalidade, mesmismo e baixa qualidade dos serviços, sem falar no desconforto e insegurança do público, é palco do exemplo de empreendedorismo. Enio Cabral, Pedro Neto, Alexandre Frota e Carvalhinho são protagonistas de uma iniciativa vitoriosa que merece atenção. O Siriguella é um fato relevante da economia cearense. Já tem um passado de vitórias, precisa ser estudado no presente. Seu exemplo pode jogar luz no futuro.
* Israel Araújo – e-mail: [email protected] – twitter: israelaraujorh.