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O mundo se esqueceu da Palestina

A população de Gaza tem apenas os túneis sob a fronteira com o Egito para sua ligação com o exterior. Foto: Eva Bartlett/IPS

 

Jerusalém, Israel, 9/10/2012 – A questão da criação de um Estado palestino parece apagado da agenda da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ao contrário de 2011, bem como de outros fóruns internacionais. Parados diante do plenário lotado da 67ª Assembleia Geral há 15 dias, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, deve ter se sentido muito sozinho sabendo que seria o único a defender a solução de um Estado independente para seu povo, ao lado do de Israel.

Pela enésima vez, Abbas descreveu como a política de Israel, de construção de assentamentos ilegais nos territórios palestinos que ocupa, faz com que, ano após ano, seja mais difícil, impossível, concretizar a solução de dois Estados. Seu discurso foi, em essência, semelhante ao que fez exatamente há um ano nesse mesmo lugar, salvo que desta vez só apostava em conseguir o status de Estado observador não membro, e não a integração plena às Nações Unidas.

Então, a tentativa de Abbas de ser reconhecido como Estado pleno foi arquivada. Estados Unidos e seus aliados ocidentais pressionaram o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral da ONU para que não fossem além de um voto simplesmente simbólico. Depois, por instâncias de Washington, as potências do Conselho argumentaram que deveria ser dada nova oportunidade às iniciativas consensuadas com Israel, não de forma unilateral.

O prêmio de consolação para a ANP foi conseguir fazer parte da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como membro pleno. Este ano, só o que Abbas conseguiu foram as clássicas expressões de reconhecimento e de aprovação que gera a questão palestina em todos os fóruns globais.

A Assembleia Geral foi o primeiro e principal fórum a apoiar a solução de dois Estados para o conflito palestino-israelense. Em novembro de 1947, aprovou o Plano de Participação da Palestina e a criação de um Estado árabe no Mandato Britânico da Palestina. Mas, desde aquela histórica votação, os Estados-membros fizeram apenas promessas insípidas e expressaram seu compromisso com um Estado palestino.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, simplesmente ignorou a apresentação de Abbas. Naturalmente, cumpriu o protocolo: “Temos que negociar e chegar a um compromisso mútuo”. Mas, terá destinado, no máximo, dois minutos de seu discurso para esse assunto, deixando claro, se é que alguém tinha dúvida, que a redação contundente de uma resolução sobre o futuro da Palestina continuará sendo uma grande interrogação.

Netanyahu já havia escutado o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que salvo pela tradicional ode (ou, talvez, um elogio?) ao antigo sonho de uma solução negociada de dois Estados, expressa em um único parágrafo, não dissimulou o fato de que, neste momento, é urgente a via diplomática, mas não entre Israel e a ANP. O primeiro-ministro israelense focou em seu discurso na reclamação de uma “linha vermelha” para o programa nuclear do Irã, para “evitar a guerra”.

Com os murmúrios de uma guerra contra o Irã como cenário de fundo dos debates da Assembleia Geral, embora Obama tenha pedido para “silenciar tudo o que estivesse ao redor”, não é de estranhar que a única receita para o conflito palestino-israelense sejam expressões compungidas de solidariedade com a causa. Houve um tempo, não muito distante, em que os assuntos internacionais giravam em torno do conflito palestino-israelense.

No ano passado, as três rodadas de conversações entre representantes de Israel e da palestina em Amã não deram resultado. A Palestina ficou no esquecimento, orbitando ao redor de uma “gestão de conflito”, imposta por Israel, em lugar de gravitar em torno da “resolução do conflito”, encabeçada pelos Estados Unidos. Um problema de “baixa intensidade” ficou relegado a segundo plano no cenário internacional.

A discutível máxima jornalística de que “se há sangue, tem prioridade” desviou a atenção do público do conflito palestino-israelense. Se derrama muito mais sangue em outras áreas, entre xiitas e sunitas, entre liberais e islâmicos, entre ditadores árabes e militantes democráticos, entre jihadistas e todos os anteriores. A verdade é que, se o compararmos com a agitação que vive o mundo árabe, sobretudo a Síria, mas também em outros lugares do norte da África e do Oriente Médio, o conflito entre Israel e Palestina não parece tão maligno.

E se derramará muito mais sangue caso se recorra a uma guerra para conter o programa nuclear iraniano. Entretanto, se a atenção não voltar a se concentrar no conflito palestino-israelense, será difícil os Estados Unidos e seus aliados ocidentais (incluindo Israel) convencerem os governantes árabes, além de China e Rússia também muito preocupadas pela questão iraniana, a adotar um enfoque unificado e mais contundente.

Para impulsionar as negociações entre palestinos e israelenses, os Estados Unidos poderiam, talvez, convencer a opinião pública, impregnada por um profundo sentimento pró-palestino derivado do sentimento antinorte-americano de humilhação que invadiu muitos países árabes, como ficou provado pelo violento ataque contra suas representações diplomáticas no Egito e na Líbia.

Por sua vez, isso poderia convencer os aliados árabes, como também China e Rússia, a aderirem à crescente pressão sobre o Irã. Mas, tal iniciativa de Washington deverá esperar o novo governo que surgir das urnas em novembro. Além disso, o argumento da “linha vermelha” de Netanyahu provavelmente seria mais convincente se também colocasse um limite à sua própria política nos territórios palestinos ocupados por Israel, tradicionalmente muito criticada em diversos âmbitos.

No entanto, por que optaria por introduzir uma moratória na construção de assentamentos ilegais, semelhante à que, reticente, teve de aceitar por dez meses em 2010? Afinal, por acaso não aceitou de forma implícita na ONU que, até o ano que vem, Israel deixará que a diplomacia e as sanções sigam seu curso? Netanyahu previu que até lá Teerã terá completado a etapa decisiva de enriquecimento de urânio.

Além disso, poderia ter de convocar eleições em seu país em fevereiro. Governantes como Netanyahu estão acostumados a caminhar na corda bamba. A dele pende entre uma guerra com o Irã e a paz com a ANP, e pode ir para qualquer lado. E, enquanto os governantes iranianos e sírios balançam em suas cordas, por que ele se moveria? E assim é com o conflito palestino-israelense, que segue no limbo. Envolverde/IPS