Reikjavik, Islândia, 27/8/2012 – Alguém ter de pagar uma multa por excesso de velocidade enquanto dirige um veículo elétrico pode parecer uma possibilidade remota. Entretanto, pelo menos na Islândia, não é. Um diretor da Northern Lights Energy, empresa especializada na promoção de automóveis elétricos, foi multado por dirigir a 124 quilômetros por hora (Km/h) em uma área da Islândia onde o máximo permitido é de 90 Km/h. E o fez em um veículo Tesla Roadster.
O desenvolvimento desse tipo de automóvel percorreu um longo caminho, mas a eletricidade nunca poderá alimentar os veículos pesados, navios intercontinentais e aviões, que atualmente representam metade do uso de combustível nos países nórdicos. Em 2050, estes representarão 80% do uso de combustíveis. Serão necessários combustíveis ricos em energia. Aí que entrará o CO2 Eletrofuels. “CO2 Eletrofuels é o nome de um projeto nórdico conjunto, de dois anos, lançado em novembro passado que pretende usar novas técnicas de eletrólise a alta temperatura para produzir combustíveis a partir de dióxido de carbono e água”, explicou Claus Friis Pedersen, engenheiro pesquisador na empresa Haldor Topsoe.
“Isto pode encontrar aplicações onde existam disponíveis dióxido de carbono e eletricidade de baixo custo, por exemplo, na Islândia, ou combinando a produção de biocombustíveis com energias eólica e solar”, acrescentou Topsoe, que também coordena o projeto. A técnica também é reversível. Quando há disponibilidade de energia eólica excedente pode-se produzir metano que pode armazenar a energia. Quando há escassez, o sistema pode produzir eletricidade a partir do metano.
No processo de eletrólise, uma corrente elétrica é transmitida por meio da água, que depois se decompõe em hidrogênio e oxigênio, e é essencial para o CO2 Eletrofuels. A eletrólise convencional da água, que ocorre em temperatura ambiente, faz um uso intensivo de energia, necessitando quase tanta quanto a necessária para a produção de alumínio. Contudo, uma nova técnica que usa finas células eletrolíticas de óxido sólido (SOEC) permite que a eletrólise do dióxido de carbono e o vapor ocorram a temperaturas entre 750 e 850 graus, de modo mais eficiente do que em temperaturas menores.
As SOEC transformam o dióxido de carbono e a água em syngas (uma mistura de monóxido de carbono e hidrogênio) e oxigênio, que se obtém como correntes separadas. Depois, outro processo transforma o syngas em metanol ou em vários outros combustíveis, dependendo das concentrações utilizadas. Durante a operação se produz calor, que pode ser recuperado e reutilizado. A eletricidade requerida para a reação da eletrólise diminui com o aumento da temperatura. Em condições operacionais economicamente otimizadas, pode-se criar, a partir de uma determinada quantidade de eletricidade com SOEC em alta temperatura, mais combustível do que com células de eletrólise convencionais, de baixa temperatura.
Na Islândia, a empresa Carbon Recycling International (CRI) já utiliza dióxido de carbono na central geotérmica de Svartsengi para produzir metanol, que pode ser misturado à gasolina em várias proporções. Primeiro, se retira o sulfuro de hidrogênio que faz parte do vapor, depois combina-se o dióxido de carbono com hidrogênio para formar metanol. Na CRI o hidrogênio é produzido por meio da eletrólise a baixa temperatura, inferior a 100 graus.
Um dos sócios islandeses da CO2 Eletrofuels é a empresa de processamento de resíduos Sorpa, que vem produzindo metano como combustível alternativo, aproveitando o resultante dos aterros sanitários durante vários anos, mas no futuro próximo será construída outra unidade para atender a demanda.
Ao ser perguntado se as SOEC seriam usadas para aumentar a produção de combustível na nova unidade de produção de gás e compostagem, o engenheiro Bjarni Hjardar, da Sorpa, disse que isto não acontecerá de imediato. “No entanto, será possível usar o processo de SOEC em menor escala, depois de purificar o gás emanado do aterro sanitário, para elaborar metano e dióxido de carbono puros, porque gases como o sulfuro de hidrogênio serão eliminados com a água”, explicou. A tecnologia SOEC também poderá ser usada para modernizar a instalação por volta de 2020.
Segundo Hjardar, a Sorpa trabalhará de outras maneiras no projeto CO2 Eletrofuels, por exemplo, investigando insumos como biomassa, aterros sanitários e dióxido de carbono, além de examinar o uso de metanol líquido com combustível para veículos marítimos e terrestres.
A empresa finlandesa Wartsili avalia usar metanol em motores diesel de embarcações de variados portes. Johan Danbratt, gerente de produto da empresa, explicou que isto é particularmente importante, porque as emissões dos navios contribuem para a contaminação aérea e os problemas ambientais. Gudmundur Gunnarsson, do Centro de Inovação da Islândia, é o coordenador islandês do CO2 Eletrofuels. Na Islândia, como em outros lugares, a tecnologia SOEC poderia ser usada para produzir hidrogênio por meio da eletrólise da água, disse Gunnarsson.
O gás resultante seria mais barato, graças aos menores custos de instalação e ao reduzido uso de eletricidade. E isto, por sua vez, baixaria em até 50% os custos da produção de hidrogênio. “Outra vantagem importante é a possibilidade de eletrolisar dióxido de carbono e obter monóxido de carbono”, afirmou Gunnarsson. Na produção de metanol fica mais barato utilizar monóxido de carbono do que o dióxido, porque exige menos hidrogênio, e o caro é a produção deste último. “Esta será uma maneira mais barata de obter uma mistura de hidrogênio e monóxido de carbono para a produção de combustível”, ressaltou. Envolverde/IPS