O potencial social e humano dos biocombustíveis

Genebra, Suíça, julho/2012 – Em 2010, a produção mundial de biocombustíveis (bioetanol e biodiesel) foi de 105 bilhões de litros e estima-se que duplicará até 2020.

A maioria dos biocombustíveis é consumida em âmbitos nacionais e locais, enquanto se exporta apenas 7% da produção total. Isto ilustra o fato de serem usados principalmente para estratégias de diversificação da energia e de segurança energética nacional.

Muitos aspectos da produção de biocombustíveis mudaram radicalmente durante a última década, impulsionados pela preocupação com as consequências sobre os solos agrícolas e a segurança alimentar.

Foram adotados novos métodos na colheita dos cultivos usados para sua produção, no tipo de insumos, nos sistemas produtivos e nos esquemas de armazenagem e distribuição, para garantir um processamento mais eficiente e sustentável.

Com as atuais tecnologias, os biocombustíveis também podem ser produzidos com uma gama mais ampla de cultivos comestíveis, bem como com vários recursos biológicos não comestíveis como algas e resíduos agrícolas.

Embora o total dos cultivos não comestíveis ainda seja baixo, a incorporação de tecnologias de segunda geração pode mudar significativamente as fontes dos biocombustíveis na próxima década.

Os biocombustíveis foram, em sua origem, usados sobretudo no setor do transporte, mas agora também são empregados para geração de energia, na indústria química, e inclusive na aeronáutica. Essas opções e possibilidades realçam seu valor para o desenvolvimento humano.

Além disso, devido ao alto preço dos combustíveis de origem fóssil e aos incentivos econômicos e de outros tipos, os biocombustíveis estão se convertendo em uma opção para a geração de eletricidade em pequena escala em áreas isoladas de países em desenvolvimento.

Tudo isso demonstra seu crescente potencial como fonte alternativa de energia. Por outro lado, têm importantes funções sociais e de desenvolvimento econômico.

Quando concebidos e manejados com cuidado, os projetos e investimentos sobre biocombustíveis podem não só melhorar a segurança energética como também criar trabalho e oportunidades de renda nas áreas rurais, promover a inovação nos sistemas locais e agregar valor à produção agrícola.

Isto é particularmente certo em relação aos biocombustíveis de segunda geração, cujos graus de valor agregado no processo de produção e as qualificações exigidas dos trabalhadores e profissionais são muito maiores.

Por exemplo, recente estudo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) aponta que a produção de biocombustíveis com resíduos agrícolas no México teve com resultado um substancial aumento da ocupação.

A bioeletricidade de resíduos agrícolas pode gerar mais de 39 mil novos postos de trabalho (diretos e indiretos), o bioetanol mais de 49 mil, o biodiesel 71 mil e o biogás quatro mil. Essas oportunidades incluem melhores salários e demanda por trabalhadores com qualificação mais alta do que a atual média na agricultura mexicana.

Estima-se que em 2010 trabalhavam em todo o mundo 1,4 milhão de pessoas na produção de biocombustíveis, e que, se a taxa de crescimento atual continuar, serão criados outros dois milhões de empregos até 2020.

Além disso, muitos países estão projetando e adaptando com sucesso seus sistemas de produção e distribuição de biocombustíveis para satisfazer as necessidades locais, por exemplo, por meio de iniciativas para levar energia a regiões isoladas ou para fazer dos biocombustíveis um componente explícito das estratégias de desenvolvimento nacional, regional e local.

As experiências no Nepal e na Amazônia brasileira demonstram que não é apenas economicamente factível a adoção de modelos de produção de biocombustíveis em pequena escala como também contribuem para a criação de empregos, a inclusão social, o uso de espécies de plantas locais e o fornecimento de eletricidade a baixo custo nas áreas sem acesso aos serviços de energia modernos.

Entretanto, nem todas as experiências são positivas. No Peru, por exemplo, teme-se que o cultivo de insumos para biocombustíveis na Amazônia afete a conservação da floresta tropical e dos solos agrícolas, provoque efeitos negativos indiretos no meio ambiente, com a construção de estradas e infraestrutura, e o assentamento humano desorganizado em regiões de selva, sem mencionar os riscos potenciais para as áreas protegidas.

A produção de biocombustíveis somente será sustentável se for observada a devida consideração das questões ecológicas, sociais e econômicas específicas nos respectivos países e se prevalecer a vontade política de desenvolver e instrumentar estratégias adequadas e efetivas de avaliação e mitigação de eventuais danos. Envolverde/IPS

* Supachai Panitchpakdi é secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).