Doha, Catar, 20/12/2011 – Kim Jong-un, filho mais novo do falecido Kim Jong-il, caminha para ser o líder da Coreia do Norte. O próprio Jong-il aproveitou uma incomum conferência do governante Partido dos Trabalhadores, em setembro de 2010, para preparar o caminho para seu filho, após anos de especulações sobre sua sucessão. Após a morte de Jong-il, no dia 17, os meios oficiais pediram aos membros do Partido, ao pessoal militar e à população em geral para “permanecerem leais” a Jong-un. “À frente da revolução coreana está Kim Jong-Un, um grande sucessor da causa Juche (como se conhece a base ideológica do regime norte-coreano) e destacado líder de nosso Partido, de nosso exército e de nosso povo”, disse a agência oficial de notícias.
Entretanto, Christopher Hill, ex-subsecretário de Estado norte-americano, que encabeçou as negociações das Seis Partes sobre o programa de desenvolvimento nuclear norte-coreano, disse à rede britânica BBC, em entrevista no dia em que foi anunciada a morte do “amado líder” Kim Jong-il, que seu filho mais novo ainda não está pronto para assumir como novo chefe de Estado.
Jong-un sempre manteve um perfil mais baixo do que seus dois irmãos mais velhos, fator que, no entanto, teria melhorado suas chances de suceder o pai. Acredita-se que Jong-un nasceu em 8 de janeiro de 1984. Sua mãe, Ko Yong-hui, ou Ko Young-hee, integrou um destacado grupo de dança norte-coreano. Não está claro se Ko, falecida em 2004, foi a esposa oficial de Jong-il, ou sua amante. Jong-un frequentou um colégio internacional na Suíça, onde estudou inglês, alemão e francês. Acredita-se que tenha se formado em 1998. Depois regressou à Coreia do Norte para estudar ciência militar na Universidade Militar Kim Il-sung, entre 2002 e 2006.
A rede de televisão árabe Al Jazeera obteve imagens de vídeo exclusivas do jovem em uma aula da música, e falou com um de seus ex-companheiros, Marco Imhof. Imhof contou que muitas vezes jogou basquete com o futuro líder norte-coreano, que era conhecido no colégio pelo pseudônimo de “Pak Un”. “A maior parte do tempo era um tímido, tranquilo, mas quando jogava basquete se abria, podia ser muito agressivo, mas de forma positiva, e era um pouco provocador”, afirmou.
Devido à sua juventude, inexperiência e falta de popularidade entre os norte-coreanos, a transferência do poder seguramente será gradual. Como no caso de Jong-il, que foi designado oficialmente sucessor em 1980 mas só assumiu o poder de fato três anos após a morte de seu pai, Kim Il-Sung, em 1994. A designação de Jang Song-taek, cunhado de Jong-il, para a poderosa Comissão Nacional de Defesa, foi interpretada por muitos analistas como uma tentativa de dar a Jang o papel de guardião dessa transição. As primeiras fotografias de Jong-un adulto foram divulgadas pelo governo em novembro de 2010. Logo, sua imagem estava pendurada em muitos locais junto com a de seu pai e a de seu avô.
Kenji Fujimoto, ex-assessor pessoal de Jong-il, escreveu um livro dizendo que Jong-un é, dos três filhos, o que mais se parece com o pai. Fujimoto e outras fontes concordam que Jong-un era o favorito do falecido chefe de Estado, e ele sempre demonstrou mais dotes de liderança. Porém, o provável sucessor não goza em absoluto do culto popular criado em torno da imagem de seu pai ou de seu avô, Il-Sung, que era uma espécie de deus para a nação. Jong-un nunca foi mencionado na mídia até que se converteu em general das poderosas Forças Armadas.
Il-Sung morreu em 1994, mas ainda é oficialmente considerado o presidente do país, enquanto Jong-il já era visto como um herói revolucionário décadas antes de assumir o poder. A promoção de Jong-un como futuro líder norte-coreano foi realizada nos bastidores. Em 2006, foram distribuídas insígnias com seu rosto entre os altos chefes militares. Um ano depois, os meios de comunicação informaram que o jovem trabalhava em um posto nos departamentos encarregados de vigiar os membros do Partido e das Forças Armadas. Em 2010, Jong-un foi promovido por seu pai a general e designado vice-presidente da Comissão Central Militar.
Desde então, sempre esteve ao lado do pai e participou dos assuntos estatais, enquanto os meios de comunicação começaram a se referir a ele como “general Kim”, em uma tentativa de apresentá-lo como destacada figura da revolução, afirmam analistas “As últimas medidas indicam que Kim Jong-un está sendo promovido formalmente como um líder poderoso como seu pai”, disse em outubro à agência de notícias AFP o analista Cheong Seong-Chang, do Instituto Sejong, especialista em transições norte-coreanas. “Jong-un é conhecido por ter potencial de se transformar em um forte e firme líder. Tem uma personalidade dominante”, acrescentou. Envolverde/IPS