Com a qualidade editorial cada vez mais comprometida pelos interesses econômicos, a meu ver, os veículos de comunicação, em especial as TVs abertas e as rádios, pelo alcance nacional, pouco contribuem para o desenvolvimento dos cidadãos.
A exceção fica a cargo das emissoras públicas ou de alguns canais sem fins lucrativos que procuram oferecer alternativas de programação que valorizam as nossas diversidades regionais, culturais e ambientais, além de apresentar opções jornalísticas menos tendenciosas.
Ao vasculhar as atrações disponíveis nos canais abertos e fechados percebe-se que os conteúdos são, na maioria de qualidade duvidosa, parte deles preconceituosos, que fortalecem a nossa incapacidade de nos reconhecermos como um País plural, de vários sotaques, cores e características.
As riquezas brasileiras são tamanhas, mas pouco visibilizadas na telinha. Nos programas de abrangência nacional, notadamente aqueles veiculados nos horários nobres, imperam o sotaque e a visão do Sudeste, com pouquíssimos espaços para as diferenças regionais.
Em período de eleição e de maneira articulada, a turma da grande mídia escolhe os lados e joga todos os seus pesos para impor as suas vontades e os seus poderes. Travestidos de “imparciais”, os meios de comunicação imprimem um jornalismo superficial, rasteiro, que às vezes se confunde com mero marketing ou a serviço da sustentação dos seus projetos políticos.
Como vivemos em um regime democrático e de liberdade de expressão, tudo bem a mídia defender determinadas visões de mundo e de nação. O problema é que isso não é explícito, e tenta-se passar para a sociedade uma imparcialidade que não existe.
Felizmente, os avanços tecnológicos e a ampliação das plataformas comunicacionais, possibilitam o acesso a outras fontes de informações, fornecendo contrapontos fundamentais a certas notícias, as quais muitas vezes, têm apenas a finalidade de emitir determinadas opiniões e não fornecer subsídios isentos para que os cidadãos tirem suas próprias conclusões e, com isso, desenvolvam, visões críticas e se posicionem perante os desafios da vida pública. Embora poderosa, a grande mídia não surfa mais com tanta tranquilidade, porque o povo não é bobo, tem tutano e está cada vez mais conectado. Por aqui, fico. Até a próxima.
* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.