No dia 5 de junho é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente e da Ecologia. A criação desta data foi estabelecida pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1972, marcando a abertura da Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano.
O meio ambiente e a ecologia passaram a ser uma preocupação em todo o mundo, em meados do Século 20. Porém, foi ainda no Século 19 que um biólogo alemão, Ernst Haeckel (1834-1919), criou formalmente a disciplina que estuda a relação dos seres vivos com o meio ambiente, ao propor, em 1866, o nome ecologia para esse ramo da biologia. Haeckel foi um naturalista que ajudou a popularizar o trabalho de Charles Darwin.
Este ano a Semana do Meio Ambiente está inserida no contexto global do Ano Internacional das Florestas, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e em nível nacional em sintonia com a Campanha da Fraternidade realizada anualmente pela Igreja Católica Apostólica Romana.
O tema da Campanha da Fraternidade de 2011 é Fraternidade e a Vida no Planeta e está voltada para o meio ambiente. A Igreja propõe como objetivo geral: contribuir para a conscientização das comunidades sobre a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, e motivá-las a participar dos debates e ações que visam a enfrentar o problema e preservar as condições de vida no planeta.
Nesta data estabelecida pela ONU, em comemoração ao primeiro grande encontro internacional dedicado à temática ambiental, Gaia não tem muito o que festejar.
No caso do Brasil há uma forte contradição no governo, entre o que se prega nos debates internacionais e o que se pratica no dia a dia. Somos conhecidos mundialmente, até pouco tempo, devido ao setor energético ter praticamente metade do seu atendimento por fontes renováveis de energia, possuindo um eficaz sistema de gestão integrada das usinas hidrelétricas e uso de biomassa. Após a desastrosa privatização desse setor, com seu desmantelamento, os planejadores atuais identificam agora a necessidade de instalação de mega-hidrelétricas na região Amazônica, a instalação de usinas nucleares e de termoelétricas a combustíveis fósseis para atender a demanda futura de energia elétrica em nosso país. Assim caminhamos na contramão das ações que estão em desenvolvimento em outros países que têm privilegiado as fontes renováveis de energia em suas matrizes energéticas.
Em Pernambuco, o momento vivido deve ser analisado criticamente, pois seu atual crescimento econômico obedece a uma mentalidade que tem base na visão do século passado de “crescimento a qualquer custo”, ignorando a dimensão socioambiental. Pois então vejamos as ações propostas e em execução, e respondamos a pergunta “O que comemorar na Semana do Meio Ambiente?”.
Barragem de Morojozinho
Esta barragem, a ser construída em Nazaré da Mata (50 quilômetros de Recife), prevê o corte de 6,24 hectares de Mata Atlântica, no Riacho Morojozinho, no Engenho Morojó. Lembrando que em Pernambuco a Mata Atlântica ocupa menos de 2,5% da cobertura original.
Implantação e pavimentação do contorno rodoviário do Cabo de Santo Agostinho
A chamada Via Expressa prevê a ligação viária entre a BR-101 e o distrito de Nossa Senhora do Ó. O principal impacto ambiental é representado pela supressão de vegetação de Mata Atlântica. Dos 11,8 hectares a serem suprimidos, 2,6 hectares estão localizados nas margens de riachos, em Áreas de Preservação Permanente (APP).
Usina Termoelétrica Suape II
A construção da Usina Termoelétrica Suape II, no Complexo Industrial e Portuário de Suape, localizado entre os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, 40 quilômetros ao Sul de Recife. A potência instalada será de 380 megawatts, e consumirá óleo combustível, uma sujeira só para o meio ambiente. O projeto pertence a um grupo formado pela Petrobrás e a Nova Cibe Energia (Grupo Bertin), cujo início de operação comercial está previsto para janeiro de 2012. Estima-se a emissão anual de pelo menos dois milhões de toneladas de CO2, (considerando que para cada tonelada equivalente de petróleo (TEP) se produz 3,34 toneladas de CO2, e que um metro cúbico de óleo combustível é igual 0,946 TEP).
Previsão de outra Termoelétrica em Suape III
Anunciada em julho de 2010, durante a reunião do Conselho Estadual de Políticas Industriais, Comerciais e de Serviços (Condic). Esta nova térmica, a ser instalada também no Complexo Industrial e Portuário de Suape, consumindo óleo combustível, terá um potencial instalado de 1.450 megawatts. Estima-se preliminarmente que a emissão anual será de oito milhões de toneladas de CO2 .
Ampliação do Complexo Industrial e Portuário de Suape
Recentemente foi autorizado pela Assembléia Legislativa o desmatamento, para a ampliação do Complexo Industrial e Portuário de Suape, de 691 hectares (tamanho aproximado de 700 campos de futebol) de mata nativa, sendo 508 de mangue, 166 de restinga e 17 de Mata Atlântica. Inicialmente, estava previsto o desmatamento de 1.076,49 hectares de vegetação nativa, mas foi reduzido devido à pressão de organizações da sociedade civil pelo absurdo proposto.
Governo estadual disputa instalação de usina nuclear
Anunciado que o Estado vai entrar na disputa para receber uma das duas centrais nucleares que o governo federal planeja instalar no Nordeste. É sabido que o artigo 216 da Constituição Estadual proíbe a instalação de usinas nucleares enquanto não se esgotar toda a capacidade de produzir energia elétrica de outras fontes. Logo, terá que ser mudada a Constituição Estadual para instalar esta usina em Pernambuco.
Construção de Pequena Central Hidrelétrica (PCH)
Desmatamento de vegetação nativa autorizado pela Assembléia Legislativa de 7,4 hectares visando ao alagamento de uma área para a formação do reservatório da PCH de 6,5 megawatts denominada Pedra Furada, localizada nos municípios de Ribeirão e Joaquim Nabuco, na Mata Sul, distante a 87 quilômetros de Recife.
Termope (Termoelétrica de Pernambuco)
Foi iniciada a construção em 2001, como parte do Programa Prioritário de Termoeletricidade (PPT) do governo federal. Entrou em operação em 2004, e está localizada no Complexo Industrial e Portuário de Suape com potência instalada de 532 megawatts, e a plena carga consome dois milhões de metros cúbicos de gás natural. Emissões anuais de CO2 são estimadas em 1,8 milhão de toneladas (considerando que para cada TEP se produz 2,12 toneladas de CO2, onde .1 metro cúbico de gás é igual a 0,968 TEP). O terreno ocupado possibilita a duplicação da usina podendo atingir a potência de 1.064 megawatts.
Construção de um estádio e da cidade da copa, para a Copa do Mundo de 2014
Resultará no desmatamento de uma área considerável do fragmento da Mata Atlântica de São Lourenço da Mata, situada a 20 quilômetros de Recife. O projeto da Cidade da Copa prevê uma área de 239 hectares para construção de todos os equipamentos previstos (prédios residenciais e um hospital). O estádio ocupará cerca de 40 hectares desse total.
Implantação do Estaleiro Construcap S.A.
Para a instalação desta planta naval, que vai ocupar 40 hectares, a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) concedeu a licença de instalação, autorizando a supressão de 28 hectares de mangue (berçário natural de centenas de espécies) na Ilha de Tatuoca. Sendo que as atividades típicas desse tipo de empreendimento poluem em todas as suas formas, e a mão de obra necessária não é, na sua grande maioria, oriunda da comunidade e seu entorno, com vêm falando os interessados e o governador.
* Heitor Scalambrini Costa é professor associado da Universidade Federal de Pernambuco.