Pesquisa mostra as causas da obesidade e aponta maneiras de driblar o aumento de peso
“Uma caloria é sempre uma caloria”. A frase significa que uma caloria proveniente de proteína gera exatamente a mesma quantidade de energia que uma caloria proveniente de carboidrato, quando metabolizada no organismo. Ou seja, o que comemos não importa. Nós engordamos se consumirmos mais calorias do que gastamos e emagrecemos quando fazemos o oposto. Por essa lógica, qualquer um que fale algo diferente está tentando te vender alguma coisa.
Contudo, nem todos concordam com esse argumento, e a polêmica voltou à tona com força na semana passada, quando o Journal of the American Medical Association publicou os resultados de uma pesquisa realizada pelo Dr. David Ludwig, do Boston Children’s Hospital. Embora a mídia tenha tratado a pesquisa como mais um estudo sobre dietas, o Dr. Ludwig abordou o assunto mais profundamente, tentando responder as seguintes perguntas: o que atualmente está causando a epidemia de obesidade? Por que começamos a engordar? Muitas calorias ou alguma outra coisa?
A noção de que uma caloria é sempre uma caloria data de 1870, quando o nutricionista alemão Max Rubner determinou o que chamou de lei isodinâmica. Essa lei passou a ser aplicada à obesidade a partir de 1900 por outro alemão, Carl Von Noorden, que tinha duas teorias sobre o assunto. Uma delas era que a obesidade se tratava da soma e diminuição entre as calorias ingeridas e a quantidade de energia gasta. A outra teoria era sobre como o corpo divide suas calorias, seja para produzir energia ou para armazenamento.
Desde então, este último tem sido o ponto central da controvérsia. Se a obesidade é um problema na divisão do que será armazenado ou queimado, então o problema passa a ser não a quantidade, mas a qualidade do que se come e a forma como essas calorias são metabolizadas. Assim, o carboidrato passa a ser o principal suspeito, especialmente os refinados que são digeridos facilmente, como o açúcar e alimentos com alto índice de glicose. O mecanismo é óbvio: o carboidrato estimula a produção de insulina que, dentre outras funções, é responsável por armazenar gordura nas células.
O experimento
A equipe do Dr. Ludwig fez algo nunca antes testado: reuniu voluntários obesos e os manteve sob uma dieta rigorosa até que perdessem de 10 a 15 por cento de seu peso. Em seguida, alguns tendiam a ganhar de volta o peso reduzido, pois sofriam uma queda no gasto de energia e passavam a queimar menos calorias do que pessoas com o mesmo peso. Isso significava que os voluntários pesquisados teriam de lutar permanentemente para controlar o apetite e manter o peso alcançado. A ideia era que perdas de peso causavam adaptações no metabolismo que, inevitavelmente, fariam o obeso voltar a ganhar o peso perdido.
A partir daí, a equipe do Dr. Ludwig passou a medir quantas calorias os voluntários que perderam peso estavam gastando por dia e passou a alimentá-los com o mesmo número de calorias. Além disso, Ludwig dividiu os voluntários em três grupos de diferentes dietas durante um mês. As três dietas continham o mesmo número de calorias, mas a composição de nutrientes era bem diferente.
Uma dieta consistia em baixo teor de gordura e alto teor de carboidratos (a dieta que todos somos orientados a seguir quando precisamos emagrecer). Nesta dieta era permitido comer grãos, frutas, vegetais e fontes de proteína magra. A segunda dieta se baseava em um baixo índice de glicose e em carboidratos de digestão mais lenta, como feijão, legumes e alimentos não processados. A terceira era a popular dieta de Atkins, que consiste em baixo teor de carboidratos e alto teor de gordura e proteína.
Os resultados foram incríveis. Quanto menos carboidratos consumiam, mais energia os voluntários queimavam. Na dieta de Atkins, de baixo teor de carboidrato, não houve adaptação do metabolismo após a dieta. Os voluntários gastaram em média 300 calorias a mais do que os voluntários que seguiram as dietas de baixo teor de glicose ou baixo teor de gordura.
Nem todas as calorias são iguais
O estudo concluiu que a composição de nutrientes na dieta pode provocar uma predisposição a engordar, independentemente do número de calorias consumidas. Quanto menos carboidratos comemos, mais facilmente nos mantemos magros. Quanto mais carboidratos, mais difícil é manter o peso. Em outras palavras, carboidratos engordam, e a obesidade pode ser definida como um defeito no armazenamento da gordura. O que importa não é a quantidade, mas a qualidade das calorias que consumimos e seu efeito sobra a insulina.
A partir desta perspectiva, o estudo sugere que uma das decisões ruins que tomamos quando queremos emagrecer é exatamente o que as organizações governamentais e médicas nos mandam fazer: consumir dietas ricas em carboidratos (mesmo que sejam grãos integrais, frutas e legumes) e com baixo teor de gordura.
Uma conclusão controversa? Com certeza, e os resultados da pesquisa de Ludwig não devem ser encarados como normas rígidas. As dietas devem durar mais de um mês, algo que ele pretende fazer em um próximo estudo. Como em qualquer ciência, os resultados da pesquisa devem ser testados por outros investigadores independentes também. As implicações destes resultados para a saúde pública, entretanto, são potencialmente enormes.
* Tradução: Opinião e Notícia.
** Publicado originalmente no jornal The New York Times e retirado do site Opinião e Notícia.