Amr Musa, candidato à Presidência do Egito, em plena campanha. Foto: Khaled Moussa al-Omrani/IPS.

Cairo, Egito, 22/3/2012 – Mais de 800 cidadãos egípcios de diferentes orientações políticas pretendem se candidatar nas primeiras eleições presidenciais após a queda de Hosni Mubarak (1981-2011). Porém, analistas coincidem em afirmar que as eleições previstas para o final de maio serão dominadas por algumas poucas figuras de conhecida trajetória. É possível que se registrem mais candidatos até 8 de abril, quando termina o prazo de inscrição.

“É muito cedo para prever um ganhador”, disse à IPS o professor de ciências políticas da Universidade do Cairo, Seif Abdel-Fattah. “Não saberemos a quantidade definitiva de candidatos enquanto não terminar o período de inscrição, e os favoritos, certamente, vão mudar nos próximos dois meses, na medida em que forem revelando suas propostas”, afirmou.

A Comissão Superior de Eleições Presidenciais do Egito informou que os candidatos poderão fazer campanha entre 30 de abril e 21 de maio, e a votação acontecerá nos dias 23 e 24 de maio. Se ninguém obtiver maioria absoluta, haverá segundo turno em 16 e 17 de junho. O resultado definitivo será anunciado no dia 21 de junho. O governante Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) prometeu entregar formalmente o Poder Executivo ao novo presidente após essa data.

Os aspirantes à Presidência só podem apresentar sua candidatura se tiverem apoio de um partido político representado no parlamento atual, se contarem com apoio de 30 legisladores ou conseguirem juntar 30 mil adesões de cidadãos. Duas destacadas figuras políticas consideradas favoritas ficaram fora da disputa. No ano passado, foi proibido o registro de Ayman Nur, um dos favoritos nas eleições presidenciais de 2005 e atual presidente do partido Ghad al-Thawra, devido a uma condenação por fraude eleitoral. Em janeiro, Mohammad el-Baradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, se retirou da disputa alegando que temia falta de transparência no processo eleitoral.

O afastamento de Baradei, a quem eram atribuídas possibilidades certas de triunfo, deixou o campo liberal sem um claro candidato, segundo Andel-Fattah. “Baradei era a maior esperança dos liberais, e sua saída deixou o setor sem um candidato preferido”, destacou. “Os islâmicos, entretanto, que praticamente controlam o parlamento, se dividem entre três destacadas figuras”, acrescentou. O mais conhecido é Abdel Moneim Abul-Fotuh, do sindicato de médicos egípcios e ex-dirigente da Irmandade Muçulmana.

Abul-Fotuh foi expulso da organização após a revolta popular do ano passado, quando insistiu em se apresentar às eleições presidenciais apesar de a Irmandade Muçulmana ter decidido que não teria um candidato oficial. Os outros dois postulantes islâmicos são Hazem Sallah Abu Ismail, destacado advogado e defensor da implantação da shariá (lei islâmica), e Selim al-Awa, professor de direito islâmico e ex-secretário-geral da União Internacional de Eruditos Muçulmanos, que defende um Estado laico com um contexto de referência religioso.

Desses três, Abul-Fotuh parece ter maior popularidade, segundo Abdel-Fattah. “É um religioso moderado que usa a linguagem da modernidade, e que é querido por ter lutado contra a corrupção durante o regime de Mubarak”, explicou. “Se fizer uma aliança com um candidato laico viável, um como presidente e o outro como vice, terá grandes possibilidades de vencer”, acrescentou. Nenhum dos dois principais movimentos islâmicos, a Irmandade Muçulmana e os salafistas (integristas), que juntos controlam mais de 70% dos assentos no parlamento, apoiou publicamente nenhum candidato em particular. Segundo disseram, o farão após o fim das inscrições, no próximo mês.

No tocante aos candidatos seculares, o mais popular é Amr Musa, ex-secretário-geral da Liga Árabe (2001-2011).

Musa foi chanceler de Mubarak entre 1991 e 2001, quando passou à Liga Árabe. Muitos analistas atribuíram sua “promoção” ao temor do então presidente egípcio de que seu espontâneo ministro se tornasse muito popular por suas duras críticas à violência de Israel contra os palestinos. O ex-chanceler prometeu um plano de cinco anos para a primeira fase de renovação econômica e política do Egito. “Trabalharei para restaurar o papel histórico do Egito como líder regional, para lutar contra a corrupção e garantir a justiça social, o que se pode conseguir em dez anos”, declarou Musa à IPS.

Outros destacados candidatos laicos são Ahmed Shafik, ex-ministro da Aviação de Mubarak e o último primeiro-ministro, de janeiro a março de 2011, e Hamadin Sabahi, ex-legislador (2000-2010) e fundador do partido Nasserist Karama (Dignidade, em árabe). Sabahi, que se opôs ao tratado de paz com Israel em 1979 e à invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos em 2003, foi detido várias vezes por sua atividade política durante o regime de Anwar Sadat (1970-1981) e no de Mubarak.

Restam outros dois candidatos que, aparentemente, teriam apoio do CSFA. O primeiro, Hossam Khairallah, ex-diretor do departamento de inteligência geral, nega ser o candidato dos militares. “Sou da área militar e me alegro por seu apoio, mas não sou o candidato do CSFA. Sou apenas um cidadão com um plano para promover a renovação do Egito”, afirmou à IPS. O segundo, Mansur Hassan, presidente do conselho assessor do CSFA, confirmou sua intenção de ser candidato, apesar de ter desmentido isso várias vezes. Ocupou diversos cargos importantes durante o regime de Sadat, e se diz que este o considerava como possível substituto do então vice-presidente Mubarak.

Segundo a imprensa, Hassan seria um candidato bem visto tanto pela Irmandade Muçulmana quanto pelo CSFA. Mas ele destacou em várias oportunidades que não recebeu o apoio de nenhuma das partes antes de apresentar sua candidatura. Abdel-Fattah opinou que Hassan “poderia ser a opção final do CSFA para colocar um candidato que tem significativo apoio e que, enquanto chefe do conselho assessor, saiba como lidar com os altos comandos”.

Os principais candidatos se declararam a favor da justiça social, de reformar o decadente sistema de saúde pública e a educação, de recuperar o papel regional do Egito, lutar contra a corrupção e empregar os investimentos estrangeiros para reafirmar a economia nacional. Também concordam em manter o Artigo 2 da atual Constituição, que estipula que a legislação se baseie nos princípios do direito islâmico. Entre os aspirantes à Presidência do Egito também estão o ex-chefe de inteligência de Mubarak, Omar Suleiman, a ativista feminista Buthaina Kamal, e Hosni Mubarak, primo-irmão do presidente deposto. Envolverde/IPS