
Documentos da indústria do tabaco revelam 614 aditivos nos cigarros.
Existem muitos mitos sobre o cigarro, como por exemplo, que filtros realmente filtram seus males. Outro mito é que o cigarro é apenas tabaco enrolado em um papel. Nada poderia estar mais longe da verdade. O cigarro é um artefato surpreendentemente complexo, como mostraram os documentos de cerca de 80 milhões de páginas das indústrias do setor, antes indisponíveis. O acesso a estes arquivos tem melhorado ao longo do tempo e todos estão disponíveis na internet. O que os documentos revelam é a grande quantidade de ingredientes utilizados nos cigarros.
Um documento de 1992, elaborado pelo escritório de advocacia Covington & Burling, lista 614 diferentes aditivos nos cigarros. Entre eles estão: glicerol, propileno glicol, cacau, alcaçuz, fosfato de diamônio, ureia, mentol, chocolate, sorbato de potássio e noz-moscada em pó. Vinte anos depois, as fórmulas exatas dos cigarros permanecem como segredos comerciais, mas as empresas agora divulgam os produtos químicos adicionados. Em seus sites, a Philip Morris lista mais de cem diferentes aditivos; a Reynolds, 158; e a Lorillard, 137. Muitos destes aditivos são agentes aromatizantes, por isso as listas incluem itens como óleo de bergamota, extrato de feno-grego, óleo de gerânio de Bourbon, óleo de tangerina, sândalo, óleo de canela, extrato de café, óleo de coentro, xarope de milho e um óleo feito a partir de flores de camomila.
Alguns compostos são adicionados para efeitos fisiológicos. Mentol acrescenta um sabor fresco de hortelã, por exemplo, mas também tem efeitos anestésicos, ajudando os fumantes iniciantes a terem uma sensação “medicinal” ao fumar. Os açúcares são adicionados para produzir um efeito mais suave, mais inalável, mas também porque, quando queimados, geram aceladeído, aumentando a potência viciante da fumaça.
A nicotina em si não é normalmente adicionada, além daquela que já se encontra nas folhas de tabaco plantadas com precisão e misturadas na embalagem de cada cigarro, mas é utilizado amoníaco em abundância, milhões de toneladas por ano. O amoníaco se liga à molécula de nicotina, aumentando sua eficiência em agir no cérebro. O cacau é adicionado para melhorar o aroma, mas também pelo seu impacto como broncodilatador: o cacau contém o alcalóide teobromina, que ajuda a abrir os pulmões para “receber” a fumaça.
É claro que, sempre que você fuma um cigarro, você “fuma” também o papel, que contém alvejantes e colas e às vezes aceleradores para a queima (citratos de sódio ou potássio). Outros produtos químicos são adicionados para ajustar a cor e a qualidade óptica da fumaça.
Os arquivos também estão cheios de reclamações de fumantes que encontraram “raridades” em seus cigarros. Em 1994, a Philip Morris documentou queixas sobre borracha, lubrificantes, tintas, solventes, fibras de vidro e plástico e manchas “de cor de sangue” em seus cigarros. Fumantes também se queixaram de encontrar insetos e minhocas em seus cigarros, às vezes mortos, às vezes vivos.
O consumo mundial de cigarros já atingiu a marca de seis trilhões por ano. Se fossem enfileirados, formariam 300 milhões de milhas de cigarros. Daria para formar uma corrente contínua de cigarros da Terra ao Sol e de volta à Terra, com sobra suficiente para algumas viagens paralelas a Marte. Nessa longa jornada, os fumantes merecem saber exatamente o que existe em seus cigarros e por quê.
* Publicado originalmente no The Wall Street Journal e retirado do site Opinião e Notícia.