Tecidos sintéticos e químicas empregadas na fabricação podem causar doenças. Saiba como se prevenir.
Na hora de comprar uma roupa são poucas as pessoas que têm o cuidado de observar a etiqueta com a composição dos tecidos antes de definir se vão ou não levar a peça. Lavar o produto antes de usá-lo pela primeira vez é outro hábito pouco comum. Mas, práticas simples como essas podem prevenir o consumidor de estar comprando uma blusa ou uma calça e adquirindo uma doença. Segundo o chefe do setor de Dermatologia da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, David Azulay, as roupas são constituídas por tecidos e químicas que apresentam potenciais diferentes de causar problemas em nossa pele.
De acordo com Azulay, os tecidos podem gerar irritação primária, sobretudo os sintéticos, como lycra e nylon. Em alguns casos, chegam a provocar eczema de contato, com lesões que causam coceiras em locais em que apenas um elemento da roupa entra em contato com a pele, como elásticos de cuecas e calcinhas.
“As roupas novas devem ser sempre lavadas. Até porque são engomadas com uma substância chamada de formaldeído, que é uma das causas mais frequentes de eczema. É muito raro, mas existe também a possibilidade de certas peças causarem urticária de contato. Quanto mais natural o tecido (algodão) e a cor mais próxima do branco, menor é a chance de termos problemas desencadeados pelo uso de roupas”, afirma Azulay.
O farmacêutico Gustavo Boaventura, editor do site Cosmética em Foco, explica que a pessoa que tem alergia a corantes usados nos tecidos também sofre reação à tintura de cabelo. “Isso acontece porque, quimicamente, esses corantes têm estruturas semelhantes, e o organismo reconhece os alergênicos pela semelhança”.
Em crianças, as reações por irritantes como pequenos adornos de material sintético ou com cores fortes é mais comum, já que a pele é mais fina e, portanto, tem mais facilidade de se tornar irritada.
Um estudo recente divulgado pelo Greenpeace, intitulado Dirty Laundry 2 (Roupa Suja), revelou que roupas e sapatos de 14 marcas conhecidas, adquiridas pela ONG em lojas de 17 países, contêm substâncias químicas tóxicas que afetam os hormônios femininos. A substância etoxilato de nonilfenol (NPE), usada como detergentes na indústria e proibida na produção de têxteis na União Europeia e nos Estados Unidos, foi encontrada em produtos das marcas Abercombie & Fitch, Adidas, Calvin Klein, Converse, G-Star RAW, H&M, Kappa, Lacoste, Li Ning, Nike, Puma, Ralph Lauren, Uniqlo e Youngor. Mesmo que as peças tenham sido fabricadas em países orientais, elas acabam liberando níveis residuais de NPE quando lavadas e atingem os rios de países onde seu uso é proibido.
A própria pesquisa ressalva que os níveis detectados não constituem qualquer risco direto à saúde de quem usa o produto. Os componentes do NPE, no entanto, têm sido apontados como um dos responsáveis pela “feminização” de peixes machos em rios afetados pelo composto.
“Para que uma substância possa exercer uma ação que venha a interferir nos órgãos de reprodução dos seres humanos e causar perturbações hormonais é preciso que ela seja absorvida pelo organismo e atinja um determinado local, onde agirá. Ou seja, é necessário que ele atinja a corrente sanguínea. E isso dificilmente pode ocorrer pelo contato de roupas contaminadas com a pele”, explica Boaventura.
As peças usadas, compradas em brechós ou repassadas por amigos, podem estar mais livres de substâncias químicas oriundas do processo de produção, mas também representam outros riscos para a saúde. “É possível a existência de ácaros nas vestimentas encontradas em brechós, principalmente se o lugar não tomar medidas higiênicas satisfatórias como a lavagem antes da exposição ao público”, lembra Azulay.
No dia a dia, quem costuma sair para trabalhar ou fazer qualquer coisa fora de casa pode “economizar” a roupa usando-a algumas vezes antes de lavá-la novamente.
“O uso não necessariamente exagerado de sabão em pó, amaciante e desinfetantes são também causas de alergias, eczemas e irritações. Quanto mais enxaguadas forem as roupas, tanto as de crianças quanto as de adultos, melhor será”, garante Azulay.
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.