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O Talibã fica sem atacantes suicidas no Paquistão

 

A polícia endurece as medidas contra os recrutas do Talibã. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Peshawar, Paquistão, 22/2/2013 – Combatentes do movimento islâmico Talibã no Paquistão perdem a capacidade de treinar atacantes suicidas e não conseguem realizar as ações previstas. As ofensivas contra o Talibã e o assassinato de muitos especialistas em treinar esse tipo de atacante fizeram com que muitos voluntários ficassem com dispositivos em mau estado e sem poder cumprir suas missões, segundo numerosos especialistas.

O malogrado ataque contra uma base do aeroporto internacional Bacha Khan, em Peshawar, capital da província de Khyber Pakhtunkhwa, no dia 15 de dezembro, é um exemplo claro. “O veículo em que viajavam cinco terroristas explodiu longe das instalações de segurança e do pessoal. O plano era entrar no aeroporto e cometer um atentado suicida”, detalhou o brigadeiro Khalid Shah à IPS.

Segundo a imprensa, no dia seguinte, outras cinco pessoas, que supostamente estavam em uma missão suicida, foram mortas perto do povoado de Pawaka. Ao que parece, foram deixadas esperando sem comunicação com seu contato. Não conheciam o lugar porque os responsáveis não puderam entrar em contato com elas devido às rígidas medidas de segurança. “Foram enviados pela Tehreek Taliban Pakistan à base aérea de Peshawar”, disse Shah, que lutou contra o movimento islâmico nas Áreas Tribais Federalmente Administradas (Fata), na fronteira com o Afeganistão, até sua retirada em março de 2012.

O especialista em segurança, major da reserva Shehrayar Khan, disse que a morte do especialista em explosivos Badr Mansoor e do treinador de atacantes suicidas Qari Hussain Mehsud, entre outros, teve um impacto tangível sobre a capacidade do Talibã em manejar explosivos, bem como de treinar e equipar seus voluntários. A capacidade do Talibã para atingir com precisão seu objetivo diminuiu, assegurou. “O Talibã tentou fazer o melhor possível para minimizar as vítimas civis nos ataques terroristas e só golpear as forças e os membros do Partido Nacional Awami e outros opositores. Contudo, não conseguiu”, ressaltou.

O movimento islâmico foi duramente criticado por matar e ferir mulheres e crianças e outros inocentes em atentados suicidas e ataques com bomba. Seus esforços para atingir seus opositores e evitar outras vítimas foram em vão. Segundo Khan, o especialista Qari Hussain havia treinado bem os novos jovens recrutas ensinando-lhes a lidar com armas e explosivos, aplicando lavagem cerebral e desempenhando um papel fundamental no planejamento dos ataques.

“Os jovens entre dez e 18 anos são doutrinados com vídeos e sermões em acampamentos de treinamento no Waziristão e convencidos de que irão para o paraíso por matarem membros do exército e da política em atentados suicidas. Assim, o Talibã matou centenas de membros das forças de segurança”, contou Khan.

A morte de Mansoor – suspeito de ter agido como ligação entre a rede extremista Al Qaeda e grupos do Talibã no Paquistão e no Afeganistão e que coordenou vários ataques – foi um duro golpe para o movimento islâmico. Supõe-se que Mansoor idealizou numerosos ataques contra a comunidade ahmadia na cidade de Carachi e em Lahore, capital da província de Punjab, nos quais morreram cerca de cem pessoas em maio de 2010. Os muçulmanos ahmadia pertencem a um ramo repudiado pelos ortodoxos.

Jamil Khan, de uma área especial da polícia, disse à IPS que o fracasso de dois atacantes suicidas em atingir seu objetivo em Peshawar, no dia 2 de dezembro, se deveu, ao que parece, à falta de treinamento e de apoio logístico. O major Shehryar Khan observou que a rendição de um recruta e de seu suposto responsável em Peshawar, em 20 de novembro, bem como a morte de Dera Ismail Khan, que ia cometer um ataque suicida, três dias depois e antes de uma procissão de Muharram (primeiro mês do calendário muçulmano em que é proibido lutar), são claros sinais de que o Talibã está perdendo a capacidade de usar esta alternativa para cometer atentados.

O policial também disse que a organização perdeu especialistas em fabricar jaquetas carregadas com explosivos. “A polícia luta contra o terrorismo desde 2005, conhece melhor a forma como o Talibã planeja suas operações e tem melhor condição para desbaratá-las”, explicou Khan. Uma mulher enviada pelo Talibã para cometer um atentado contra o chefe do Jamaat-e-Islamici (KI), Qazi Hussain Ahmed, se imolou depois que seu comboio passou, no dia 19 de novembro, na agência de Mohamand, nas Fata, quando morreram cinco pessoas. Jamiat Ulemai Islam, chefe de Maulana Fazlu Rehman, se salvou de dois atentados suicidas em Swabi e Charsadda, dias 30 e 31 de março de 2012. No segundo ataque morreram oito pessoas e 29 ficaram feridas, mas o alvo escapou ileso.

“Agora o Talibã recorre a mulheres e crianças porque ficaram sem atacantes suicidas”, disse Mian Iftikhar Hussain, ministro de Informação de Khyber Pakhtunkhwa. “Mandam pessoas sem treinamento que são detidas a tempo ou detonam seus explosivos no momento errado”, acrescentou. O movimento islâmico agora também fica sem pessoal para essa tarefa e “os insurgentes não encontram voluntários com a suficiente motivação ideológica para cometer atentados suicidas. Por isso, muitos foram detidos nos últimos meses”, destacou.

Shafqat Malik, chefe da brigada de desativação de explosivos em Khyber Pakhtunkhwa, disse que foram frustrados mais de 700 tentativas de sabotagem em 2012 graças à efetividade de seu departamento e à redução da capacidade dos talibãs. “O movimento não é mais uma grande ameaça porque já não pode organizar ataques como antes”, assegurou. “Agora temos equipamentos de última geração, franco-atiradores e aparelhos que descobrem artefatos explosivos improvisados. As restrições do governo sobre o fornecimento de fertilizantes ajudou a diminuir os atentados terroristas”, enfatizou. Envolverde/IPS