Washington, Estados Unidos, 30/8/2012 – O ataque contra um templo sikh no Estado de Wisconsin (norte) no começo deste mês e o tiroteio em um cinema de Aurora, no Colorado (centro), são indícios do aumento de atentados de direita nos Estados Unidos. Após o caso de Wisconsin, quase todos os meios de comunicação norte-americanos disseram que os disparos contra o templo sikh foi um caso de identidade errônea, pois o objetivo do responsável pelo atentado, Wade Michael Page, era a comunidade muçulmana e a profanação de uma mesquita.
A conferência O que faremos com o extremismo depois de Wisconsin?, organizada este mês pela New America Foundation, se concentrou nesse assunto e em destacar que os delitos contra a comunidade muçulmana não receberam a mesma atenção dos meios de comunicação quanto os últimos acontecimentos. No dia 6, uma mesquita de Joplin, no Estado do Missouri, foi incendiada. No dia anterior havia acontecido o tiroteio em Wisconsin. E no dia seguinte foram atirados pés de porco contra um templo no sul da Califórnia, e três dias depois disparos de chumbinho atingiram outro templo no Estado de Illinois, e a lista continua.
Haris Tarin, diretor do Conselho de Assuntos Públicos Muçulmanos, opinou que uma mudança de atitude em relação aos muçulmanos norte-americanos deveria proceder das hierarquias. “Democratas e republicanos devem se reunir para lutar contra a islamofobia. Não queremos que seja um assunto partidário”, ressaltou Tarin, acrescentando que a caça às bruxas lançada pela representante Michele Bachmann, do opositor Partido Republicano, é um caminho extremamente perigoso para as autoridades.
Os participantes da conferência disseram que a forma como os dirigentes políticos se referem aos muçulmanos norte-americanos tem um impacto significativo sobre a maneira como a comunidade os trata em seguida. “Quando o presidente Barack Obama fala, ajuda. Quando os políticos defendem uma comunidade, definitivamente ajuda”, disse Valarie Kaur, diretora do Visual Law Project. Talvez o mais perturbador seja que os muçulmanos nos Estados Unidos são considerados responsáveis e devem responder por atentados terroristas cometidos por uma pequena quantidade de extremistas islâmicos, na maioria estrangeiros, e que, segundo repetem os líderes moderados, não representam o verdadeiro Islã.
Spencer Ackerman, jornalista do Wired.com, discorda da ideia de que as pessoas não estivessem informadas sobre o Islã. “Sou judeu norte-americano e nunca precisei explicar nem defender atos de outros judeus no mundo. Sei que tenho uma posição privilegiada. Então, por que os muçulmanos norte-americanos devem dar explicações ou defender as ações de outros muçulmanos?”, questionou Ackerman. Por sua vez, Kaur disse que nenhum cristão branco será considerado responsável pelas ações de seus pares em outras partes do mundo.
Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington, a palavra “terrorista” se tornou sinônimo de “extremista muçulmano”. O tiroteio no cinema em Aurora e a tragédia do templo sikh foram considerados atentados terroristas pela imprensa local. A forma como a mídia cobre esses acontecimentos e a maneira como os dirigentes políticos se referem aos muçulmanos têm muito a ver com o modo como estes são vistos nos Estados Unidos.
“A retórica não cai em ouvidos surdos. É como o extremismo político se torna dominante”, observou Tarin. “Há uma correlação entre violência, retórica e extremismo político. Os crimes de ódio não acontecem em um contexto vazio”, acrescentou, para explicar como a mídia e o governo moldam a opinião pública contra determinados grupos. Dois incidentes que destacam essa correlação são a caça às bruxas de Bachmann contra dirigentes políticos muçulmanos e a declaração do representante republicano por Illinois, Joe Walsh, na prefeitura de Elk Grove Village, sobre os muçulmanos “tentarem matar norte-americanos todas as semanas”.
A prefeitura fica a 24 quilômetros da mesquita de Morton Grove contra à qual David Conrad disparou seus chumbinhos. Outros ataques como bombas de ácido, em Lombar, em Illinois, e grafitagem no parque Evergreen, no mesmo Estado, também aconteceram no distrito de Walsh. As percepções negativas sobre os muçulmanos atingiram níveis extremos e uma forma perigosa, mas há razões para crer que nem todos os norte-americanos têm uma ideia negativa sobre a comunidade islâmica.
Um grupo de evangélicos, entre eles um amigo de Tarin, pagou uma publicidade para a colocação de cartazes com os dizeres “Estou com meu irmão muçulmano. Estou com meu amigo sikh”. “Esta é a grandeza dos Estados Unidos, sua democracia e seu pluralismo, com as pessoas se defendendo e se apoiando mutuamente”, enfatizou Tarin. Porém, a falta de exposição a outras culturas e religiões talvez seja um dos principais fatores do medo e do ódio em relação a certas confissões.
Ackerman, por sua vez, disse que “os grupos mais pró-islâmicos nos Estados Unidos são os veteranos de guerra. A maioria dos norte-americanos não viaja, fazem suposições”. A redução da islamofobia nos próximos anos dependerá em grande parte do papel dos meios de comunicação e da disposição do governo dos Estados Unidos para colocar fim aos crimes de ódio e se contrapor às percepções negativas deste grupo religioso. Envolverde/IPS