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Oásis de sal em Níger ameaçado pelas dunas

A região de Ténéré é formada por vastas planícies desérticas que se estendem desde o nordeste de Níger até o oeste do Chade. Foto: Photomatt28/CC BY 2.0

 

Bilma, Níger, 16/5/2013 – A localidade de Bilma, em um oásis de Ténéré, região desértica do norte de Níger, dependeu durante séculos da exploração das salinas. Mas o avanço da areia e a queda dos preços do sal ameaçam sua subsistência. “Se não protegermos este local, a extração de sal desaparecerá debaixo da areia”, disse à IPS o diretor de meio ambiente de Bilma, Abdoulaye Soumana, enquanto contemplava a salina de Kalala. Ténéré é uma região no sul do Deserto do Saara formada por vastas planícies desérticas, que se estendem do nordeste de Níger até o oeste do Chade.

Segundo Soumana, um especialista ambiental, debaixo da areia existe uma camada de argila que, por sua vez, cobre grandes quantidades de sal. “Algumas salinas estão submersas, e as autoridades locais ainda não entenderam o grau da ameaça. Só se preocupam com o dinheiro”, alertou. O prefeito de Bilma, Abba Marouma Elhadj Laouel disse que a localidade tem seis mil habitantes, todos participando da extração de sal e que muitos trabalham nas minas por anos.

“O sal representa a principal forma de sustento para a população de Bilma. Mesmo sendo difícil vender, cada família tem um poço para extrair sal”, disse à IPS o presidente da cooperativa de mineiros de Kalala, Boulama Laouel. Um estudo, realizado em 2011 por Soumana, concluiu que os mineiros de sal de Bilma ganhavam cerca de US$ 800 ao ano, enquanto seus colegas da localidade de Siguidine, ao norte, obtinham mais de US$ 1.800 anuais.

A mineira Fadji Boulama, de 35 anos, não conhece outra forma de vida. “A extração de sal é uma atividade aqui, em Bilma. Meus avós eram mineiros, meus pais assumiram o negócio e depois o passaram para mim. É nossa principal fonte de sustento”, contou à IPS. “Meu marido emigrou para a Líbia, por isso meus filhos, de nove, 12 e 14 anos, me ajudam quando não estão na escola. As vendas de sal cobrem todos os dias as despesas da casa”, acrescentou.

Na região são extraídos dois tipos de sal: o de cozinha e o que é usado para alimentação animal. Bilma produz por ano 12 mil toneladas do primeiro e 20.700 do segundo. “O sal de Bilma contém muitos nutrientes minerais cruciais para o saudável crescimento dos animais e a qualidade de sua carne”, explicou à IPS o veterinário Oumarou Issaka, de Niamey, a capital do país.

Os habitantes do lugar se queixam de não poderem vender seu produto a preços razoáveis por falta de estradas para levá-lo desta região isolada. Yagana Arifa, que extrai sal de um poço perto de Boulama, disse à IPS que “este trabalho nos dá o suficiente para comer e cobrir nossas despesas, mas sem uma estrada é difícil obter bom preço”. E acrescentou que “nossos principais clientes são mercadores que chegam em caravanas. Pagam US$ 0,10 por um bloco de sal de dois quilos, que revendem a US$ 1 em Agadez (principal cidade do norte) ou a mais de US$ 1,20 no sul”.

Salifou Laouel, prefeito da municipalidade rural de Fachi, 240 quilômetros a oeste de Bilma, confirmou que os produtores locais enfrentam problemas semelhantes. “Somos obrigados a vender a preço muito baixo por estarmos isolados. Os caminhões comuns não podem cruzar o deserto para levar nosso produto a mercados mais rentáveis no sul”, disse à IPS. “Há uma grande demanda de sal para alimento animal. Em Fachi produzimos 450 toneladas ao ano, o que nos permite ganhar US$ 138 mil”, pontuou.

Denise Brown, representante do Programa Mundial de Alimentos, da Organização das Nações Unidas (ONU), disse que a agência apoiará os mineiros comprando seu sal de cozinha para usar em seus programas de alimentação em escolas. “Estamos avaliando como poderemos comprar uma quantidade fixa de seu produto, desde que cumpram os requisitos de conteúdo idôneo estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde”, enfatizou à IPS. Envolverde/IPS