Obama não cumpre meta de aproximar as Américas

Logo após assumir a presidência em 2009, Barack Obama compareceu a um congresso de 34 países em Trinidad e se comprometeu a promover uma “nova era de parceria” entre as duas Américas no lugar de debates e ideologias antiquadas. Honrar essa promessa não tem sido fácil: Obama tem outras prioridades, tanto fora quanto dentro dos Estados Unidos, e acontecimentos na região, como um golpe em Honduras apenas dois meses após o congresso , reviveram alguns desses debates antiquados. Não obstante, o governo Obama tomou algumas iniciativas modestas na América Latina. Mas agora a nova parceria corre o risco de ser abatida por brigas partidárias internas em Washington.

Em julho, a maioria republicana num comitê da Câmara excluiu financiamento à Organização dos Estados Americanos (OEA) do orçamento de 2013. Os conservadores não se dão com o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, um social-democrata chileno acusado pelos republicanos de cumplicidade com ameaças à democracia e à liberdade de imprensa de autocratas esquerdistas, como Hugo Chávez. Na mesma linha, os republicanos usaram seus poderes para manter em suspenso indicações a cargos diplomáticos feitos pela administração Obama no caso de indicados considerados conciliatórios demais em relação a Chávez e seus amigos na região. Ao mesmo tempo, embaixadores norte-americanos foram expulsos ou não aceitos na Venezuela, Equador e Bolívia.

Mais preocupante é o destino de acordos de livre comércio que a Colômbia e o Panamá negociaram sob a administração de George Bush. Muitos democratas não gostam destes acordos, sobretudo por questões protecionistas, mas também por preocupações em relação ao assassinato de sindicalistas colombianos. O governo Obama ainda tem a esperança de aprovar os acordos comerciais na reunião do Congresso deste mês. Mas com o aquecimento da campanha para a eleição presidencial de 2012, isso não pode ser garantido. O fracasso seria outro exemplo do modo como as questões que importam para a maior parte da América Latina – drogas e imigração, assim como o comércio exterior cubano – são hoje em dia determinados pela política doméstica norte-americana.

Responsabilidade compartilhada

Obama tem sido mais enfático do que seus predecessores quando à “responsabilidade compartilhada” em relação aos problemas causados à América Latina pelos hábitos de consumo de drogas de seu país. Os EUA e o México também estão trabalhando com mais proximidade para acelerar o comércio legal através da fronteira. Mas ainda há irritações. A maior delas é a decisão de Obama de não enfrentar o lobby das armas ao tentar renovar uma proibição à venda de certas armas semiautomáticas que expirou em 2004. A administração Obama teve que lutar arduamente para incluir um requerimento que obrigasse às lojas de armas ao longo da fronteira a notificar o governo quando um mesmo tipo de arma for vendido ao mesmo comprador.

Enquanto os EUA têm as mãos atadas por politicagens domésticas, a América Latina tem mudado rapidamente. Uma década de crescimento econômico, grande volume de comérico com a China, democracias mais robustas e o advento de governos à esquerda do centro contribuíram para tornar a região mais confiante. Isso se aplica mais especialmente ao Brasil, cujas relações com os Estados Unidos têm um histórico de distância e desconfiança. Mas Obama fez uma visita bem sucedida ao país em março e fala-se que tem uma boa relação com Dilma Roussef. Na prática, o Brasil hoje tem mais peso em boa parte da América do Sul – mas não na do norte – que os Estados Unidos. Mas apesar de acontecimentos ocasionais atestarem pelo contrário, os Estados Unidos continuam a ter tanto interesses vitais como influência na América Latina. Como se desenvolverá a relação entre os dois maiores países da região pode ser mais importante do que os mexericos partidários de Washington a respeito da OEA.

*publicado originalmente no site Opinião e Notícia.