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Obama serve aperitivos no Oriente Médio e Norte da África

Washington, Estados Unidos, 23/5/2011 – O último discurso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama sobre Oriente Médio e Norte da África, no qual prometeu reforçar a prosperidade econômica e política na região, não satisfez plenamente os analistas, mas ao menos foi um aperitivo.

“Está em jogo não somente a estabilidade de nações, como também a autodeterminação dos indivíduos. O status quo não é sustentável. As sociedades unidas pelo medo e pela repressão podem passar uma ilusão de estabilidade por um tempo, mas são construídas sobre falhas que finalmente se partem em dois”, afirmou Obama no dia 19, em referência aos regimes repressivos árabes.

Porém, décadas de conflitos, corrupção e perdas de oportunidades econômicas para milhões enraizaram a percepção no Magreb de que os Estados Unidos são cúmplices, quando não o único instigador e perpetuador desses problemas, uma percepção que Obama tenta combater desde que chegou à Casa Branca. Analistas afirmam que é crucial para o mandatário mostrar um caminho em sua política para a região.

“A velha forma de fazer negócios no Oriente Médio já não é sustentável. O governo de Obama deveria redobrar seus esforços para apoiar a transição adotando um pacote de reformas mais completo para o Egito, reviver seus velhos esforços para resolver o conflito árabe-israelense e manter o curso no Irã”, escreveu na semana passada Brien Katulis, do Centro para o Progresso Norte-Americano. “Agindo com mais firmeza, como fez no ataque contra Osama bin Laden, serão criadas mais oportunidades de progresso e mudança na região”, disse Katulis.

Por sua vez, Paul Pillar, ex-analista da Agência Central de Inteligência (CIA), afirmou que o discurso não apresentou nenhuma mudança na política geral, mas deu lugar a algum otimismo. “A maioria dos estômagos, das diferentes partes envolvidas, ficará satisfeita com este discurso. Há aperitivos suficientes para criar esperança e depois, se conseguir um segundo mandato, Obama poderá servir o prato principal”, escreveu Pillar no blog Nationalinterest.com.

O discurso condenou as violações dos direitos humanos em países como o Iêmen, onde o governo de Obama apoiou uma iniciativa do Conselho de Cooperação do Golfo para promover o diálogo entre o presidente Ali Abdullah Saleh e a oposição. Também se referiu aos abusos no Bahrein, onde Washington continua apoiando um diálogo entre a oposição e o regime, que reprimiu violentamente os protestos e deteve inclusive médicos que atendiam as vítimas.

“O único caminho adiante para o governo e a oposição no Bahrein é participar do diálogo, e não se pode ter um verdadeiro diálogo quando a oposição pacífica está na prisão”, afirmou Obama. O presidente reconheceu a intransigência de alguns dos mais próximos aliados de Washington na região ao reprimir os protestos, mas não anunciou claras consequências se os governos mantiveram essa postura. “Os Estados Unidos têm de ter credibilidade. Devemos reconhecer que às vezes nossos amigos na região não reagem às demandas por uma mudança consistente com os princípios que temos assinalado hoje”, disse Obama.

Em contraste com o chamado para um diálogo político no Bahrein e no Iêmen, Obama foi claro em seu pleno apoio à resistência na Líbia e na Síria. O mandatário não anunciou nenhuma mudança profunda em sua postura sobre o conflito palestino-israelense. No dia 20, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reuniu-se em Washington com Obama, que lhe reiterou sua postura a favor da criação de um Estado palestino independente nas fronteiras que existiam antes da Guerra dos Seis Dias, de 1967. Também apoiou a divisão de Jerusalém e o regresso dos refugiados palestinos às suas terras. No entanto, se expressou contra a iniciativa para votar o reconhecimento do Estado palestino na próxima sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em setembro.

O ponto claramente ausente do discurso de Obama foi a Arábia Saudita, forte aliada histórica de Washington que adotou políticas bem diferentes das dos Estados Unidos diante dos levantes populares na região. “As políticas da Arábia Saudita e do Conselho de Cooperação do Golfo mudaram drasticamente nos últimos dois meses”, disse na semana passada Gary Sick, ex-membro do Conselho de Segurança Nacional. “Por um lado, temos uma enorme mudança impulsionada pelas pessoas em parte do mundo árabe, e, por outro, temos um verdadeiro movimento contrarrevolucionário”, afirmou. Envolverde/IPS