Diversos estudos têm mostrado que a obesidade da mãe, principalmente durante a gestação, pode trazer uma série de consequências à saúde do filho logo ao nascer. Agora pesquisadores apontam que a obesidade gestacional afeta os níveis de ferro no sangue do bebê, levando à anemia ferropriva e consequentes problemas na formação do sistema nervoso.
O estudo foi feito com base em uma análise de hepcidina materna, um hormônio que é fundamental em manter os níveis de ferro equilibrados. Participaram 15 mulheres grávidas com índice de massa corporal (IMC) superior a 30 (obesidade) e 15 mulheres grávidas de peso saudável – com IMC entre 20 e 25 – como grupo controle. O sangue materno que serviu de base para o estudo foi colhido durante o segundo trimestre de gravidez e de ferro do recém-nascido foi colhido do cordão umbilical.
Os pesquisadores descobriram que os recém-nascidos de mães obesas e com níveis elevados de hepcidina foram associados a menores níveis de ferro ao nascimento. Segundo a pesquisa, sabe-se que a obesidade faz com que o organismo dos adultos produza altos níveis de hepcidina em comparação àqueles de peso considerado saudável e os autores sugerem que a superprodução do hormônio interfere com a transferência de ferro da mãe para o bebê.
Durante a gravidez, os níveis de hepcidina são mantidos em níveis baixos para otimizar a transferência de ferro da mãe para o feto. “Quando há excesso de hepcidina em uma célula, ela se liga e inibe a função de ferroportina, a proteína que permite que o ferro passe através da membrana celular para a corrente sanguínea”, diz o líder do estudo, Simin Nikbin Meydani, do Centro de Pesquisa de Nutrição Humana no Envelhecimento da Universidade Tufts (USDA HNRCA), nos Estados Unidos.
“A inflamação crônica de baixo grau, que pode ser um resultado da obesidade, desencadeia uma resposta imunológica anormal, aumentando a produção de proteínas que aumentam os níveis de hepcidina”, acrescentou Maria Carlota Dao, que também participou da pesquisa.
Como o ferro desempenha um papel crucial na formação do sistema nervoso central, as crianças nascidas com deficiência de ferro estão em maior risco para atrasos no desenvolvimento motor e cognitivo.
“Os dados sobre o impacto dos baixos níveis de ferro materno sobre o feto vem de populações subnutridas”, explica Sarbattama Sen, neonatologista que também participou do estudo. “Este nosso primeiro estudo demonstra que a obesidade pode dificultar a transferência de ferro da mãe para a criança e oferece alguns insights sobre o mecanismo de como isso ocorre. Futuros estudos, no entanto, são necessários para confirmar o papel da obesidade associada à inflamação durante a gravidez”, conclui.
Os autores salientam ainda que mais pesquisas são necessárias antes que se proponha qualquer alteração às orientações dietéticas ou recomendações para as gestantes com sobrepeso ou obesas. Mas eles lembram que os suplementos vitamínicos pré-natais contêm 27 miligramas de ferro, a quantidade diária recomendada atualmente pelo Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas.
“Durante a gravidez, as mulheres devem tentar manter uma dieta variada e saudável e tomar as vitaminas recomendadas por seus médicos”, Sen acrescenta. “Metas de ganho de peso devem se basear no IMC da mulher antes de ela engravidar.
O estudo foi publicado no periódico Journal of Perinatology.
* Publicado originalmente no site O que eu tenho.