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Ocidente com menos dinheiro para munição

Apesar dos cortes, os Estados Unidos continuam sendo o país que mais gasta em defesa. Foto: U.S. Navy

 

Nações Unidas, 17/4/2013 – A crise econômica mundial provocou uma redução no gasto militar do Ocidente no ano passado, enquanto as nações emergentes aumentaram seus investimentos em armas. Em um estudo divulgado no dia 15, o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri) registra uma queda, em 2012, no gasto com defesa nos Estados Unidos, Japão, Canadá, Austrália e Europa ocidental e central.

Esta redução, a primeira registrada desde 1998, foi atribuída às políticas de austeridade aplicadas em várias nações ocidentais para combater o déficit fiscal. “Estamos vendo o que poderia ser o começo de uma inclinação da balança do gasto militar mundial, passando dos países ricos ocidentais para as regiões emergentes”, disse o diretor do Programa de Gasto Militar e Produção de Armas do Sipri, Samuel Perlo-Freeman.

Desde a crise financeira mundial de 2008, 18 países da União Europeia, em sua maioria membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), reduziram seus investimentos em defesa em mais de 10% em termos reais. E, apesar dessas reduções, a Otan gastou em seu conjunto US$ 1 trilhão.

Os Estados Unidos e seus aliados continuam sendo os que mais gastam em armamentos. Este país, com o maior investimento em armas do mundo, anunciou na semana passada um orçamento de defesa para este ano de US$ 526,6 bilhões, o que significa uma redução de US$ 3,9 bilhões em relação ao que foi aprovado no ano passado.

Washington prevê “substanciais cortes” este ano para suas forças armadas, que participaram de longas operações militares no Afeganistão e Iraque. Estas reduções, entretanto, foram “substancialmente compensadas” com maiores gastos na Ásia, Europa oriental, América Latina, Oriente Médio e norte da África, segundo o Sipri.

A China, segundo país que mais investiu em armas em 2012, aumentou seus gastos em 7,8% (US$ 11,5 bilhões) em relação ao ano anterior, e a Rússia, o terceiro lugar, aumentou 16% (US$ 12,3 bilhões). Segundo o estudo, o gasto mundial em defesa totalizou US$ 1,75 trilhão em 2012, uma queda de 0,5% em termos reais com relação a 2011.

Consultado sobre se o gasto militar acontece principalmente em compras de armas no exterior ou de indústrias locais, Perlo-Freeman disse à IPS que os números incluem as duas fontes. E afirmou que há pouquíssimos países no mundo que dependem exclusivamente de suas indústrias locais para a “maior parte” de seu equipamento militar. Estes são Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia, Japão e, possivelmente, China e Israel.

Entretanto, muitos outros países, embora produzam parte de seus armamentos, dependem das importações para a maioria de seus equipamentos de defesa. Na Ásia, explicou Perlo-Freeman, a China tem uma indústria de armas cada vez mais avançada, capaz de produzir todo tipo de equipamento. Esse país conseguiu paulatinamente se dar o luxo de evitar comprar armas russas, das quais dependia. Porém, Pequim ainda precisa importar.

A Coreia do Sul também tem uma forte indústria em desenvolvimento, embora ainda tenha que comprar dos Estados Unidos, em particular aviões de combate avançados. A Índia, acrescentou o diretor do Sipri, conta com uma grande indústria armamentista, mas não muito efetiva, provavelmente devido à burocracia administrativa. “Apesar de décadas de esforços, os indianos não puderam desenvolver seu próprio sistema de fabricação de armas avançadas”, pontuou.

Por outro lado, Cingapura conta com uma significativa indústria, com fortaleza em certos nichos, mas ainda importa a maior parte de seu arsenal. Há muitos outros países asiáticos com níveis de produção um pouco mais baixos, como a Indonésia. “E a Coreia do Norte, naturalmente, tem uma grande indústria, embora seja um caso bastante especial”, detalhou Perlo-Freeman.

No Oriente Médio, Israel possui uma indústria avançada, especialmente em algumas áreas. Por exemplo, é líder mundial na fabricação de veículos aéreos não tripulados. Porém, fundamentalmente graças à ajuda militar norte-americana, os israelenses importam grandes aviões de combate que ainda não conseguem produzir. “Certamente, poderiam fabricá-los, mas por que se dar ao trabalho se os conseguem com os Estados Unidos?”, ponderou o especialista.

Segundo o diretor do Sipri, a Turquia tem uma indústria bem desenvolvida em algumas áreas, mas importa a maior parte de seu armamento. O Irã também possui indústria própria, embora não muito avançada, e teve que comprar muito da Rússia no passado. Agora as compras de Teerã estão afetadas pelas sanções internacionais impostas devido ao seu programa de desenvolvimento nuclear.

Os Emirados Árabes e a Jordânia produzem alguns veículos blindados, mas ainda importam a grande maioria de suas armas. Brasil e África do Sul são os únicos países com uma significativa indústria na América Latina e África, respectivamente, mas também precisam comprar no exterior a maioria de suas armas. Envolverde/IPS