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Olhando com medo para o céu

Carachi, Paquistão, 9/5/2011 – Os Estados Unidos e os europeus “deveriam fazer as malas e partir”, disse o paquistanês Imran Khan, jogador de críquete e dirigente político, para quem a morte de Osama bin Laden não impedirá a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de realizar novos ataques com aviões teledirigidos na região. “Já conseguiram seu objetivo: Bin Laden não está mais aqui, então não há motivo para que fiquem”, disse à IPS por telefone.

Khan, presidente do partido Paquistão Tehreek-Insaf, acredita que a morte de Bin Laden não impedirá que os Estados Unidos lancem os ataques teledirigidos que seu partido vem combatendo. Esses ataques são feitos com aviões não tripulados enviados para coletar dados de inteligência e tomar por alvo supostos esconderijos de terroristas. Washington lançou dez ataques desse tipo entre 2004 e 2007, e 226 entre 2008 e 2011. Cerca de duas mil pessoas foram assassinadas nessas ocasiões. Entre 23 e 24 de abril, Khan liderou uma manifestação em Peshawar para impedir que contêineres da Otan entrassem no Afeganistão. A estratégica escolha do lugar ajudou a atrair milhares de pessoas.

Khan disse que a luta de seu partido continuará. “Bloquearemos rotas usadas pela Otan para envio de suprimentos aos seus soldados no Afeganistão se houver outro ataque teledirigido”, afirmou. O dirigente prevê que os que têm uma “alta estima” por Bin Laden, mesmo após sua morte, darão um “grande contragolpe”. Também acredita que haverá mais pressão sobre o Paquistão por proteger e abrigar terroristas, já que a morte de Osama alimenta as suspeitas de que o governo paquistanês está em conivência com os extremistas.

As autoridades paquistanesas terão que assumir a responsabilidade pelo enorme apoio dado ao presidente Asif ali Zardari, disse Khan. “A percepção no exterior é que estávamos protegendo Bin Laden”, afirmou. Em conversa com o jornal britânico The Guardian, Zardari disse que isso não passa de meras conjecturas. “Essas especulações sem base podem render emocionantes notícias, mas não refletem os fatos”, afirmou, dizendo que o Paquistão é “a maior vítima mundial do terrorismo”. O presidente paquistanês também qualificou Bin Laden de “fonte do maior mal do novo milênio”, em um artigo publicado no dia 3 pelo jornal The Washington Post.

Mas, para todos é inconcebível que o homem mais procurado do mundo estivesse comodamente instalado em um povoado onde era vizinho de generais da reserva e de uma das academias militares de maior prestígio. Um editorial do Daily Times alertou que será difícil convencer os Estados Unidos de que o governo do Paquistão nada teve a ver com a presença de Bin Laden no país.

O jornalista Najam Sethi, editor do Friday Times, concordou com Khan quanto aos ataques teledirigidos continuarem, mas disse que agora será preciso ver quais serão os alvos. “Se forem a Al Qaeda e o Talibã do Paquistão, isso significará que os ataques teledirigidos contam com apoio tácito do exército paquistanês”, afirmou. Por muito tempo o Paquistão fez vista grossa enquanto os aviões não tripulados sobrevoavam regiões tribais, matando civis.

Mas, se essas aeronaves não atacarem a rede Haqqani significará que o país selou um acordo em troca de Bin Laden, acrescentou Sethi. A Haqqani é uma organização extremista vinculada à Al Qaeda, que opera a partir do Waziristão do Norte, e é a maior ameaça para as forças dos Estados Unidos e da Otan. O Paquistão lhe deu refúgio. Por outro lado, segundo Sethi, se a rede Haqqani for atacada, significará que o Paquistão nada teve a ver com a morte de Osama.

“Precisamos monitorar a mídia norte-americana e altos funcionários norte-americanos, como a secretária de Estado Hillary Clinton”, já que será ela quem informará os meios de comunicação, disse Sethi à IPS. Ele também afirmou que nos próximos dias ficará mais claro o papel do Paquistão na morte de Bin Laden. De todo modo, ele considera que “este governo não tem controle algum sobre sua política externa e o exército é quem dirige o espetáculo”.

No entanto, acredita que se Washington quer os méritos por realizar a operação que matou Osama e que o Paquistão não deseja se envolver – Bin Laden é um semi-herói e teme-se uma sangrenta represália – seria melhor que o governo paquistanês declarasse publicamente que se tratou de uma operação conjunta. O Paquistão também deve compreender que não ajuda escolher insurgentes para eliminar e outros para proteger, acrescentou Sethi. Envolverde/IPS