Sociedade Brasileira de Hepatologia informa que País não está preparado para enfrentar essa epidemia grave e silenciosa
Estima-se que cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas com o vírus da hepatite B, cuja transmissão também é sexual, e aproximadamente 170 milhões com hepatite C.
No Brasil, um inquérito feito nas capitais entre 2004 e 2008 apontou que o vírus B da hepatite foi encontrado em 0,6% das pessoas entre 20 a 69 anos e o C em 1,56%. A hepatite A foi observada em 39,5% das crianças e adolescentes entre cinco e 19 anos.
Para o Presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), o baiano Raymundo Paraná, as hepatites virais são as maiores endemias mundiais. “Na maioria das vezes elas não têm sintomas, são silenciosas e de fácil contágio”, justiça.
A transmissão da hepatite A pode ocorrer por contato humano ou por ingestão de água e alimentos contaminados; a B em relações sexuais desprotegidas, da mãe para o bebê, em transfusão de sangue e até mesmo por compartilhamento de escovas de dente e alicates de unha; e a C principalmente por contato com sangue contaminado, como no compartilhamento de seringas, lâminas de barbear e outros objetos cortantes.
Dr. Paraná afirma que o sistema público de saúde ainda não está preparado para o enfrentamento dessas doenças. Segundo ele, o acesso ao diagnostico e ao tratamento é restrito e elitizado.
Na Bahia, por exemplo, uma pesquisa feita em 2010 mostrou que quase 30% das pessoas que se tratam de hepatite nos hospitais públicos têm plano privado de saúde. “Percebemos que esses pacientes são diagnosticados nos centros particulares e jogados para o SUS (Sistema Único de Saúde)”, comentou.
De acordo com o Ministério da Saúde, 11.660 pessoas recebem hoje tratamento contra a hepatite B e 11.862 contra a hepatite C no SUS.
O especialista diz ainda que faltam hepatologistas e centros de hepatologia no sistema público, mas ressalta que a doença ganhou mais visibilidade, em 2009, quando o Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde se tornou Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.
Marcelo de Freitas, gerente da Área de Cuidado e Melhoria de Vida do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, explica que as experiências obtidas no enfrentamento de uma doença foram usadas para outras. “Agora brincamos que ninguém tem mais o seu bicho de estimação. Não existe uma pessoa responsável só pela aids e outra só pelas hepatites. Ficou tudo integrado”, comenta.
Governo melhora tratamento e oferecerá teste rápido
No último dia 18, passou a valer uma nova diretriz terapêutica para o tratamento da hepatite C na rede pública. A iniciativa amplia o uso do remédio interferon peguilado e facilita o acesso ao tratamento em alguns casos que não necessitam de biópsia prévia.
O protocolo anterior, publicado em 2007, permitia a extensão do uso do interferon desde que houvesse aprovação do Comitê Estadual de Hepatites Virais. Agora, o médico que acompanha o paciente já pode prescrever a continuidade do tratamento, de acordo com os critérios estabelecidos no documento.
Com essa iniciativa, prevê-se a ampliação do uso do interferon peguilado para portadores de outros genótipos do vírus C para pelo menos mais 500 pacientes ainda este ano.
O uso desta formulação trará mais conforto aos pacientes, pois é utilizada apenas uma vez por semana – no caso do interferon convencional, são três doses a cada semana.
A partir de agosto, o SUS irá oferecer também testes rápidos de detecção das bepatites B e C. Os exames, cujos resultados ficarão prontos em 30 minutos, serão oferecidos inicialmente nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) das capitais do país, para depois serem estendidos às unidades básicas de saúde.
“Queremos acolher os pacientes o mais rapidamente possível. Com o diagnóstico precoce, podemos orientá-los para evitar a transmissão da doença e iniciar a oferta do tratamento adequado, garantindo melhor resposta do organismo e mais qualidade de vida”, reforça o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
*publicado originalmente no site da Agência Aids.