Istambul, Turquia, 10/5/2011 – Os enfoques dominantes sobre o desenvolvimento falharam com os mais pobres, e, portanto, devem ser descartados. Esta é a mensagem de mais de duas mil organizações não governamentais reunidas em Istambul, na Turquia, na IV Conferência das Nações Unidas sobre os Países Menos Adiantados (LDC-IV).
Arjun Karki, porta-voz do fórum, que começou oficialmente no dia 8 e continuará até o dia 17, afirmou que o fato de os Países Menos Avançados (PMA) não poderem superar esta classificação demonstra um claro fracasso do modelo de ajuda ao desenvolvimento defendido pelos líderes da comunidade internacional. As ONGs dizem que o enfoque da liberalização econômica e do comércio sem barreiras se aplica de forma desigual. Os países industrializados mantêm medidas fundamentais para proteger seus próprios interesses, enquanto pressionam as nações mais pobres a as abandonar.
Os PMA são obrigados a seguir as demandas das instituições financeiras internacionais em lugar de colocar em prática suas próprias políticas e seus programas alternativos para um desenvolvimento sustentável e de ampla base. Para deixar de integrar os PMA e passar a ser considerado “país de baixa renda”, uma economia deve superar os padrões do primeiro grupo em duas das três categorias durante seis anos. Desde que a classificação foi criada, em 1971, apenas três nações conseguiram isso: Botsuana, Cabo Verde e Maldivas.
“Os PMA enfrentam uma emergência de desenvolvimento, e é uma responsabilidade mundial unir-se e resgatá-los do círculo de pobreza, vulnerabilidade e instabilidade”, disse Karki, ativista social e trabalhador pelo desenvolvimento no Nepal, que também coordena o Comitê da Sociedade Civil para Observar a LDC-IV.
Além disso, afirmou que é uma triste realidade os povos pobres e marginalizados dos PMA terem avançado pouco na última década. Como se não bastasse, devem carregar o peso de novas crises de alimentos, água, mudança climática e finanças internacionais, ainda que esses problemas tenham sido criados por outros. “Não podemos continuar vendo como cresce o número dos PMA, como ocorre desde 1971, passando de 24 para 48. Devemos fazer algo melhor aqui em Istambul”, acrescentou Karki.
Os grupos da sociedade civil recomendaram soluções que passam por colocar as pessoas acima dos ganhos econômicos. As recomendações foram colocadas em um informe intitulado “Um Mundo sem PMA”, apresentado na abertura do encontro. O informe inclui alternativas para erradicar a pobreza e alcançar o desenvolvimento sustentável que deveriam moldar a agenda dos PMA.
O novo modelo proposto pela sociedade civil inclui um imediato e incondicional cancelamento de todas as dívidas dos PMA e uma revisão dos mandatos e das operações do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Também propõe uma reforma das políticas agrícolas e sua implementação a favor dos pequenos produtores, estabelecendo regras para a especulação, aquisição de terras, uso de sementes geneticamente modificadas e produção em grande escala de combustíveis.
O presidente do escritório na Turquia da organização humanitária médica Doctors Worldwide, Ihsan Karaman, concordou com Karki. Disse que, apesar de muitos PMA possuírem grandes recursos naturais, não conseguem a autossuficiência e a prosperidade por mais de um século. “A situação à nossa frente é uma vergonha para a comunidade internacional. No mundo globalizado é evidente que, sem importar o quanto estão longe um do outro, os países e as sociedades interagem entre si, e quando os recursos não são compartilhados nem usados de forma igualitária e saudável, a humanidade toda sofre”, afirmou Karaman.
Acrescentou não ser possível falar de uma consciência internacional sobre justiça global quando os membros da “elite do Norte” podem dormir comodamente apesar de saber que 12% da população do planeta vai se deitar de estômago vazio a cada noite. Karaman condenou o gasto de enormes quantias de dinheiro em tecnologia militar e guerras, enquanto se esquece dos menores compromissos em ajuda ao desenvolvimento. “Tomemos decisões juntos para mudar esta brutal ordem do mundo, que deixa os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Como parlamentares, governantes, representantes do setor privado, acadêmicos e grupos da sociedade civil, renovemos nosso voto e unamos forças por um mundo sem PMA”, disse Karaman.
A sociedade civil espera que a Conferência de Istambul crie consciência em nível mundial e estabeleça um precedente sobre valores compartilhados de priorizar a humanidade sobre as metas políticas e econômicas. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, participou do encontro e afirmou que todo o mundo deve trabalhar junto, e disse acreditar que a Conferência contribuirá para isso. Envolverde/IPS