Nações Unidas, 2/12/2011 – A Organização das Nações Unidas (ONU) reafirmou um temor que assedia as capitais do Ocidente: a crise econômica mundial se aprofunda e a recessão parece inevitável. “A situação é muito desanimadora” e a previsão é que vai piorar, disse aos jornalistas o secretário-geral de Desenvolvimento Econômico no Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Jomo Kwame Sundaram. Em seu informe bianual de 40 páginas, intitulado “Situação e perspectivas da economia mundial 2012” (www.un.or/en/development/desa/policy/wesp/index.shtml), divulgado ontem, a ONU retrata um panorama bastante sombrio.
A União Europeia e os Estados Unidos constituem as duas maiores economias do mundo e estão “profundamente entrelaçadas”, por isso “seus problemas podem facilmente se retroalimentar e expandir em outra recessão mundial”, alerta o documento. Os desafios mais graves – acrescenta – são a contínua crise de emprego e as más perspectivas em matéria de crescimento econômico, especialmente nos países industrializados.
O fato de os dirigentes políticos, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, não conseguirem abordar a crise de desemprego nem impedir uma escalada da dívida soberana e da fragilidade do setor financeiro, representa o risco mais sério para a economia mundial com vistas a 2012 e 2013, afirma o estudo.
Entre os principais países em desenvolvimento, espera-se que o crescimento na China e na Índia seja “robusto”. Porém, o produto interno bruto chinês diminuiu, passando de 10,3%, em 2010, para 9,3% este ano, e a projeção é que caia para menos de 9% no período 2012-2013. Quanto à Índia, calcula-se que sua economia crescerá de 7,7% para 7,9% nesse período, o que implicará uma queda em relação aos 8,5% que registrou em 2010.
Além disso, o documento afirma que os países em desenvolvimento serão afetados por meio dos canais comerciais e financeiros. “A crise da zona do euro é causa e efeito da desaceleração econômica na Europa”, disse à IPS o diretor da Divisão de Análises e Políticas de Desenvolvimento no Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, Rob Vos. Devido à crise, o déficit fiscal aumentou, o que fez crescer a proporção da dívida pública, acrescentou.
As medidas de austeridade fiscal adotadas em resposta à crise de dívida soberana em um contexto de alto desemprego e um setor bancário atolado prejudicam as economias europeias e exacerbam a pressão da dívida soberana, segundo Vos. No mês passado, a produção manufatureira da China caiu pela primeira vez desde 2009. O aumento da produção nos países pobres alcançará 6% este ano, o que já é 1,5% menos do que em 2010, e espera-se uma desaceleração ainda maior no ano que vem, principalmente em consequência da debilidade econômica na Europa e nos Estados Unidos.
Os problemas da dívida soberana na Europa, bem como nos Estados Unidos, causaram uma crise financeira mundial caracterizada pela instabilidade dos mercados de valores e das taxas de câmbio, explicou Vos, lembrando que isto exacerbou a volatilidade do fluxo de capitais. A incerteza financeira também afeta os preços das matérias-primas, que baixaram em relação aos valores do começo deste ano, mas que, sobretudo, mostram maior volatilidade, acrescentou.
Isto complica o manejo macroeconômico nos países em desenvolvimento e não é propício para os investimentos de longo prazo em seu desenvolvimento econômico. São altos os riscos de maior desaceleração e inclusive de uma recessão mundial, afirmou Vos. Para este especialista, embora alguns países individualmente tenham reduzido seu orçamento de assistência, em termos gerais, a ajuda ao desenvolvimento aumentou no ano passado e, apesar da maior austeridade fiscal, é possível que continue crescendo no período 2011-2013. Envolverde/IPS