Nova York, Estados Unidos, 4/11/2011 – Consideradas economicamente viáveis e socialmente responsáveis, as cooperativas operam em setores que vão desde a agricultura até as finanças e a saúde. No entanto, ocupam um lugar marginal no interesse dos governos. Ao lançar o Ano Internacional das Cooperativas 2012, a Organização das Nações Unidas (ONU) pretende reverter essa situação.
Para isso a ONU se propôs três objetivos: aumentar a consciência sobre esse modelo empresarial e sua contribuição positiva, promover sua formação e o crescimento e impulsionar seus Estados-membros para que adotem políticas que favoreçam sua expansão. E conta com o apoio de seu Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (Daes) e do Comitê para a Promoção e o Progresso das Cooperativas (Copac).
Sem importar o setor no qual atuam, as cooperativas são consideradas modelos de empresas bem-sucedidas porque seus integrantes são responsáveis por todas as decisões da instituição. Além disso, não objetivam a maximização dos lucros, mas atender as necessidades de seus membros, que participam do gerenciamento.
As cooperativas “podem fazer investimentos de longo prazo nos assuntos de maior interesse para seus usuários, proprietários e vizinhos”, disse à IPS o diretor do Centro para o Estudo das Cooperativas, de Saskatchewan, no Canadá, Michael Gertler. Essas características aumentam sua longevidade e suas possibilidades de subsistir em comparação a outro tipo de empresa do setor privado.
O potencial das cooperativas para ajudar a erradicar a pobreza, criar e fortalecer práticas sustentáveis e contribuir para o desenvolvimento são as características que a ONU pretende destacar para que os Estados-membros as promovam. Um dos principais assuntos que a agenda da ONU para o desenvolvimento propõe é destacar o aspecto humano, mais do que o financeiro. As cooperativas combinam ambos. “Permitem que as pessoas se organizem em empresas autogeridas”, disse o secretário-geral adjunto para Assuntos Econômicos e Sociais, Sha Zakang.
Para Zakang, a economia verde exigirá uma “mudança radical” na forma como os seres humanos produzem e consomem energia, e as cooperativas podem desempenhar um papel importante na transição para esse modelo mediante práticas sociais e econômicas responsáveis. Também destacou a importância das cooperativas para conseguir cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio até 2015.
Para a diretora do Departamento de Desenvolvimento e Política Social do Daes, Daniela Bas, as cooperativas podem ter um efeito positivo em populações vulneráveis como as indígenas e as comunidades rurais porque são empresas que colocam as pessoas no centro de suas operações.
Uma área em que as cooperativas ofuscaram o setor privado é a de finanças. A crise econômica mundial, iniciada em 2008, afetou a maioria das empresas. No entanto, as “cooperativas mostraram resiliência”, diz um informe da Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicado em 2009, que elogia os bancos cooperativos. O modelo não só “sobrevive à crise” como “resiste, preservando o sustento das comunidades onde opera”, acrescenta o estudo.
“O último pacote para salvar bancos privados pertencentes a investidores destacou as virtudes de um sistema bancário cooperativo que apresenta menos risco e não está sujeito a gerar lucro para os investidores e bônus para os gerentes”, diz o informe, acrescentando que “a fortaleza gerada nos bons tempos é que ajuda a minimizar a recessão”.
As cooperativas não recebem a devida atenção para se expandirem, disse o presidente da Organização Mundial de Agricultores, Jack Wilkinson, para quem o setor deveria receber apoio para ocupar um papel mais central. “O modelo empresarial cooperativo está subestimado nos meios de comunicação”, e foi esquecido por legisladores e contextos normativos, disse Piet Moerland, gerente do Rabobank e presidente da Associação Europeia de Bancos Cooperativos.
Segundo Gertler, “as cooperativas não competem como as corporações. Os governos devem reconhecer seu provado papel de oferecer assistência econômica e financeira, especialmente para as populações e os lugares mais vulneráveis”, concluiu o diretor do Centro para o Estudo das Cooperativas.
O início das cooperativas remonta à Europa dos anos 1800. Na Alemanha, em 1860, Friedrich Raiffeisen projetou uma empresa de poupança e crédito para ajudar os agricultores. Sua ideia de banco cooperativo se propagou a outras partes da Europa. Ao mesmo tempo, Schultze-Delitsch criou um banco semelhante em áreas mais urbanas.
Também surgiram cooperativas de consumo entre trabalhadores têxteis por volta de 1840 na Grã-Bretanha, em época de crise econômica. Posteriormente, na década de 1950, esse tipo de empresa constituía 12% do comércio varejista. Atualmente, as cooperativas contam com um bilhão de membros em mais de cem países. Envolverde/IPS