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ONU Mulheres “asfixiada ao nascer”

Nova York, Estados Unidos, 4/7/2011 – Quando a Organização das Nações Unidas (ONU) criou, em janeiro, a histórica agência especial para as mulheres, o secretário-geral, Ban Ki-moon, fixou uma meta inicial de US$ 500 milhões como seu orçamento anual. Porém, seis meses depois, o financiamento voluntário para a ONU Mulheres por parte dos 192 países-membros das Nações Unidas é extremamente lento.

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Stephen Lewis.
O embaixador Hardeep Singh Puri, representante permanente da Índia na ONU, expressou sua decepção pela falta de fundos. As contribuições e promessas chegam a apenas US$ 80 milhões. “Não há proporcionalidade com as aspirações e ambições referentes à ONU Mulheres”, acrescentou. Ao falar, na semana passada, na primeira reunião da Junta Executiva desta agência, com 41 membros, o embaixador disse que “não devemos ignorar o fato de que as atividades enumeradas no Plano Estratégico necessitam de recursos”.

 

O Plano Estratégico estabelece requisitos financeiros no valor aproximado de US$ 1,2 bilhão para o período 2011-2013. “Se queremos assegurar que a ONU Mulheres atue, a comunidade de doadores deve fazer contribuições generosas”, afirmou Puri.

Stephen Lewis, ex-subdiretor-executivo do Fundo das Nações Unidas e para a Infância (Unicef) e cofundador da organização internacional Aids-Free World, foi um dos principais incentivadores da ONU Mulheres desde antes de sua criação. Em entrevista à IPS, Lewis disse que o total de fundos obtido até agora (entre US$ 80 milhões e US$ 126 milhões) “é desesperada e pateticamente inferior ao necessário e ao esperado”.

Segundo Lewis, “ao que parece, a ONU Mulheres agora reduziu suas metas para US$ 250 milhões. Isto é uma farsa. É apenas um pouco mais do total das quatro pequenas entidades que formaram” a nova agência. Essas entidades eram o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), o Escritório do Assessor Especial para Temas de Gênero, a Divisão das Nações Unidas para o Progresso da Mulher, e o Instituto Internacional de Pesquisas e Capacitação das Nações Unidas para Promoção da Mulher.

O nome completo da nova agência é Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres e é liderada pela ex-presidente chilena Michelle Bachelet. Lewis, inclusive, afirmou que a meta de fundos fixada inicialmente por Ban, de US$ 500 milhões, é “ridiculamente baixa”. Por outro lado, considerou “suficiente” a sugerida por organizações não governamentais, de US$ 1 bilhão. “Neste momento, a ONU Mulheres está sendo asfixiada ao nascer por uma coalizão de ricos”, disse Lewis, ex-embaixador do Canadá nas Nações Unidas.

Para Lewis, “seguramente, todos os países misóginos, do Paquistão ao Sudão, estão rindo. Nunca desejaram a ONU Mulheres e agora os doadores ocidentais estão fazendo o trabalho sujo por eles”. Para o ex-embaixador, “isto mostra novamente que, quando se trata de mulheres, a ONU nunca pode agir unida. Como sempre, nós e outros daremos a Michelle Bachelet o benefício da dúvida. Ela é esplêndida, mas nem mesmo Bachelet pode mudar o mundo para as mulheres sem os necessários recursos”, ressaltou.

No entanto, Antonia Kirkland, assessora legal da organização Equality Now, com sede em Nova York, disse à IPS que, sem um significativo aumento do financiamento, a ONU Mulheres corre o risco de ficar relegada, como ocorreu com as quatro entidades que substituiu. “Devemos garantir que os governos cumpram plenamente suas obrigações legais para proteger os direitos das mulheres”, afirmou.

Kirkland disse que a Junta Executiva da ONU Mulheres deveria concretamente implementar os compromissos assumidos por seus membros e estes deveriam destinar recursos adequados à entidade, cuja criação foi resultado de incansáveis esforços do movimento internacional de mulheres e, em particular, da campanha Reforma da Arquitetura pela Igualdade de Gênero (Gear). Essa cruzada foi impulsionada por uma coalizão com mais de 300 organizações não governamentais internacionais.

Kirkland disse que os Estados-membros já investiram dinheiro e um tempo precioso na criação da ONU Mulheres. Agora é hora de implementar programas que beneficiem as mulheres de todo o mundo e dar-lhes a oportunidade prometida de alcançar a igualdade e gozar de todos seus direitos, acresc

Por sua vez, o embaixador Puri disse à Junta Executiva que para garantir que a agência atue é necessário apoiar “todos os esforços para garantir que os escassos recursos não sejam desviados de atividades de campo para gastos administrativos na sede da ONU”. A ONU Mulheres será avaliada pelo que faz, e não apenas pelo que simboliza, ressaltou. Envolverde/IPS