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Os furacões ficam cada vez mais fortes no Caribe

Rua da periferia de Santiago de Cuba depois da passagem do furacão Sandy. Foto: Jorge Luis Baños/IPS
Rua da periferia de Santiago de Cuba depois da passagem do furacão Sandy. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

Havana, Cuba, 28/6/2013 – Meteorologista de longa trajetória, José Rubiera prefere falar de “perspectivas” em lugar de prognósticos diante desta nova temporada de furacões na região do Caribe. Sua aposta passa pela redução de vulnerabilidades e por uma boa preparação das pessoas, à margem de previsões. Especialistas do Instituto de Meteorologia de Cuba preveem, para o período que vai do começo de junho ao final de novembro, a formação de 17 tempestades tropicais, nove delas podendo atingir a categoria de furacão em toda a área norte do Atlântico, que inclui o Golfo do México e o Mar do Caribe, e um deles poderia causar impacto em Cuba.

Rubiera, diretor do Departamento de Previsões do Instituto de Meteorologia, começa a entrevista à IPS esclarecendo que se trata de uma área muito grande, onde uma cidade qualquer, como a própria Havana, cabe milhões de vezes, porque “são pontinhos no mapa”. Não é possível saber com tanta antecedência por onde um furacão vai passar. “A perspectiva de uma temporada ativa só quer dizer que as condições meteorológicas gerais indicam que pode haver uma geração maior do que em um ano normal”, afirmou o também vice-presidente do Comitê de Furacões da Região IV da Organização Meteorológica Mundial (Oriente Médio).

IPS: A temporada de ciclones de 2012 foi muito ativa. Depois de três anos de calma para Cuba, passou o Sandy pela região oriental, causando estragos e pegando muitos de seus habitantes de surpresa. Por que isso ocorreu?

JOSÉ RUBIERA: Houve vários fatores. Primeiro, por Santiago de Cuba haviam passado até então somente dois furacões, nenhum de grande intensidade, e suas trajetórias foram de leste para oeste. São os casos de Ella, em 1958, e Inez, em 1966. O furacão Sandy foi o primeiro que atingiu a província de Santiago de Cuba, e com trajetória de sul para norte. Seu centro tocou em terra na madrugada de 25 de outubro, perto da praia Mar Verde da capital provincial, que tem o mesmo nome. Portanto, o anel de ventos máximos do Sandy cruzou a cidade de Santiago de Cuba, cuja topografia é montanhosa e tem prédios com uma grande concentração de pessoas. Seus habitantes não tinham a visão histórica do que era, na realidade, um furacão.

IPS: O furacão Sandy deixou alguma lição para Cuba?

JR: Creio que sim. A lição deixada é que todo furacão é perigoso e que não se deve menosprezar os efeitos que possa causar. Também, que toda grande cidade deve estar preparada, já que apresenta maior vulnerabilidade do que no caso de povoados isolados ou menores. Nas áreas do país que não sofrem estes eventos com frequência ou grande intensidade é necessário reforçar a educação e elevar a percepção do risco.

IPS: Que condições propiciaram este tipo de furacão tão intenso, devastador?

JR: Eu não diria que foi muito intenso. Ao chegar a Cuba já era categoria três. Pode-se falar de sua rápida intensificação, o que não é a mesma coisa. Desde que Sandy se transformou em furacão categoria um, ao sul e próximo da Jamaica, até chegar à costa de Santiago de Cuba se passaram 17 horas. Nesse período subiu da categoria um para a três. Qual a razão? Bem, ali existiam condições extremamente favoráveis para esse desenvolvimento. A temperatura do mar era altíssima, 31 graus, e na atmosfera superior havia condições que levaram a uma grande instabilidade atmosférica.

IPS: Esse fenômeno é novo?

JR: Nos últimos furacões deste início de século 21, estamos acostumados a ver casos de rápida intensificação, como o Wilma, que em sua passagem pelo Mar do Caribe, em outubro de 2005, subiu da categoria um para a cinco em 18 horas. Esta é uma manifestação de que vivemos uma época em que a temperatura do mar aumenta e as condições da atmosfera superior propiciam a intensificação. Estes casos agora são um pouco mais frequentes, quer dizer que alguma coisa está mudando.

IPS: Parece haver consenso de que a mudança climática não é causadora de mais furacões, mas que levaria estes sistemas a aumentarem sua intensidade, qual sua opinião a respeito?

JR: Exato. Embora o furacão seja um fenômeno de escala muito pequena comparável com os modelos usados para a estimativa da mudança climática, há determinados elementos que parecem indicar que o número não será maior, talvez seja igual ou mesmo menor. Mas a intensidade destes sistemas será maior, assim como os níveis pluviométricos até 2010. Este é o consenso do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) e de especialistas em ciclones tropicais que discutem o assunto. Eu concordo com essa apreciação.

IPS: Quais desafios a mudança climática impõe à meteorologia?

JR: A mudança climática impõe desafios em muitos aspectos. Para a meteorologia, o desafio maior é poder saber com maior a exatidão possível o que vai acontecer. Isto não é possível atualmente. Há um fator de incerteza, mas que está delimitado. Pode haver um grau de temperatura acima do normal, de até quatro graus. Isto significa que há coisas certas. Se continuarem as emissões de gases-estufa a temperatura vai subir, mas quanto? Aí está o fator de incerteza que depende muito dos modelos. Este é um dos desafios, poder conhecer em certa medida o que vai ocorrer no futuro.

IPS: Como é a relação dos serviços meteorológicos de Cuba com os dos Estados Unidos?

JR: Entre os especialistas norte-americanos e cubanos há relações muito boas. Eles estão aqui, nós estamos lá. Há um intercâmbio que flui bem. O governo cubano autoriza o voo sobre nosso território de seus aviões caça Hurricane quando solicitado pelos canais diplomáticos estabelecidos. Nunca houve dificuldades nesse sentido. Envolverde/IPS