COP19: “Os lobbys podem ter dinheiro, mas nós temos a razão”

lobbystaConversamos com Stefano Caserini, professor do Politécnico de Milão e autor de publicações ligadas à temática da mudança climática, entre as quais “Alguém gosta do calor” e “Guia para lendas das alterações climáticas”. Sentados no lounge room fora dos escritórios da UE, em meio ao rumor dos delegados que se dividiam entre eventos paralelos e encontros com jornalistas, tivemos um momento de reflexão ao falar de temas como a mudança climática e as estratégias de comunicação e sensibilização da opinião pública, além da própria COP19.

Em seus livros, você aborda o tema da mudança climática de forma direta e sem cair em tecnicismos. Por que é importante falar de modo claro e simples?

Você leu o artigo de Danilo Taino no “Corriere della Sera” sobre como os cientistas se dividem na COP19? Posso garantir que, no mundo científico, nunca houve tanta convergência de opiniões no que se refere aos efeitos da atividade antrópica sobre a mudança climática. Informar de modo objetivo é importante para chamar a atenção sobre as temáticas e evitar que artigos como o de Taino sejam levados ao pé da letra.

Nos fale mais sobre o blog Climalteranti, que o senhor coordena.

Climalteranti é uma experiência de 30 cientistas que buscam chamar a atenção para o tema da mudança climática e de como é tratada pela imprensa. A informação transparente é a base de uma opinião pública consciente. Há anos, instituí também o prêmio “Alguém gosta do calor”, dedicado ao jornalista que escreve as “melhores” notícias de desinformação.

Uma vez aconteceu de eu receber um convite para o jantar de entrega do prêmio. Um primeiro passo na direção do reconhecimento dos próprios erros.

Qual seria, então, a estratégia comunicativa mais eficaz para “combater” a desinformação?

É preciso atrapalhar a vida de quem trabalha mal. Não temos mais tempo a perder em relação à questão da mudança climática. Os lobbys podem ter o dinheiro, mas nós temos a razão.

E em relação ao alcance de um acordo em nível internacional?

Vou dizer algo que pode parecer utópico, mas o leitmotiv deve ser o de desenvolver a imaginação. Precisamos imaginar o que pode acontecer se não forem tomadas as decisões necessárias para afrontar de modo eficaz o problema da adaptação e mitigação da mudança climática. E fazer compreender, aos jovens participantes, que podem ser parte da mudança de rumos.

E qual é, na sua opinião, a mudança trazida por essa COP19?

Trata-se de discutir a metodologia mais eficaz para integrar o princípio da equidade, pensando no próximo acordo em Paris, em 2015. O resultado desta COP estará mais no nível metodológico e processual do que de conteúdo. Trata-se de estar de acordo sobre o princípio da equidade e fazer bem a lição de casa, para que o que for aprovado seja também ratificado em nível nacional, e se possam evitar casos como o dos Estados Unidos no Protocolo de Kyoto.

E este acordo será alcançado?

Todas as partes estão convencidas de que se deve chegar a um resultado. Precisamos, porém, definir qual é esse resultado. Trata-se de encontrar a medida que permita aos Estados ter confiança um no outro e quebrar a barreira que separa o Anexo 1 dos outros países.

Terminada a entrevista, Stefano Caserini nos observa e pergunta: eu os incomodei? Na realidade, nosso olhar baixo era pela reflexão que a conversa nos havia causado. O que podemos fazer para que essa mudança vá pelo caminho certo? Ao nos despedirmos dele, nossa mente volta a se calar dentro da realidade frenética das negociações da COP19 – e do fato de que chegou o momento de tomar a decisão certa sobre o que fazer. Antes de mergulharmos também nós nessa grande panela, agradecemos Caserini por este momento de intensa reflexão.

* Cristina Dalla Torre é do Observatório SOStenibile e participa da cobertura especial da Agência Jovem de Notícias, projeto encabeçado pela ONG Viração Educomunicação, que pretende levar propostas da juventude para serem contempladas pelos negociadores brasileiros durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP19).

** Para acompanhar a cobertura jovem da COP19 acesse também:  www.agenciajovem.org e www.redmasvos.org. Os conteúdos serão produzidos em português, espanhol e italiano.