Terminou na última sexta-feira, em Kota Kinabalu, Malásia, a 6.ª assembleia-geral do FSC. Evento que ocorre a cada três anos, traça os rumos do sistema de certificação florestal mais reconhecido e de maior inserção de mercado do mundo. Em um sistema democrático de tomada de decisões, a assembleia do FSC reconhece e respeita os interesses dos três principais setores envolvidos com a questão florestal: os ambientalistas, as empresas e os movimentos sociais.
Este ano a assembleia teve uma missão singular: avaliar o gigantesco crescimento do FSC no mercado nos últimos anos e definir as medidas necessárias para garantir que esse crescimento não afete a sua credibilidade no médio e longo prazos. Este crescimento nos últimos cinco anos se deu em função da permissão de se misturar materiais certificados com não certificados, para a fabricação de produtos mistos, o que possibilitou um grande crescimento de produtos FSC no mercado internacional. Os materiais não certificados devem seguir as normas de madeira controlada, que visam garantir que a madeira não é ilegal e não vem de áreas de desmatamento.
Em Kota Kinabalu, este sistema foi colocado em xeque especialmente pelas ONGs ambientalistas, que questionaram fortemente o quanto o FSC tinha realmente o controle sobre a madeira nesses casos, apontando falhas no sistema que, se não resolvidas, representariam um forte risco à credibilidade do FSC no longo prazo. Após dias e dias de intensa discussão, os membros do FSC aprovaram uma moção que representa uma correção de rumo no sistema de madeira controlada. Se bem implementada, esta moção certamente fortalecerá o FSC, fortalecendo sua imagem no mercado de produtos florestais.
Além deste tema, outros assuntos marcaram a discussão na assembleia-geral do FSC, entre eles a questão do uso de biotecnologia e transgênicos em florestas certificadas, algo que não é permitido pelo FSC. Mesmo após muita discussão e insistência por parte de empresas florestais, os membros do FSC decidiram por não reabrir o diálogo sobre transgenia em florestas certificadas. O acesso à certificação por parte de pequenos produtores e comunidades florestais também foi um tema de grande relevância durante a semana passada.
Foi aprovada uma moção para que o FSC invista energia e recursos nos próximos três anos para criar condições que ampliem o acesso e a certificação de pequenas florestas e comunidades extrativistas.
Mais do que as 26 moções que foram aprovadas e que definem os rumos do FSC para os próximos anos, o principal resultado da assembleia-geral é o próprio fortalecimento do sistema. Os membros que participaram – representantes das maiores ONGs ambientalistas, das principais empresas do setor florestal, e de movimentos sociais de todo o mundo – saem de Kota Kinabalu com um sentimento de missão cumprida. Como as decisões são tomadas por consenso, no FSC não existem vitoriosos ou derrotados. Todos os que participaram são co-responsáveis pelos resultados alcançados e, portanto, se sentem parte do sistema. Isso fortalece o FSC, garantindo a continuidade do sistema de certificação florestal de maior credibilidade do mundo.
* Maurício de Almeida Voivodic é engenheiro florestal, mestre em ciência ambiental pela Universidade de São Paulo, é secretário-executivo do Imaflora.
** Publicado originalmente pelo Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola)n e retirado do site Amazônia.org.br.