Chernobyl, Ucrânia, 4/5/2011 – Ao completar 25 anos do pior desastre nuclear da história, as autoridades ucranianas se comprometem a não abandonar os que ainda necessitam de assistência. Entretanto, a Estratégia Energética, que continuará até 2030 no país, prevê um impulso significativo na geração atômica.
No dia 26 de abril de 1986, uma explosão no Reator 4 da central nuclear de Chernobyl, cem quilômetros ao norte de Kiev, causou o vazamento de enormes quantidades de radiação, deixando pelo menos quatro mil mortos e 400 mil desabrigados. As emissões radioativas cessaram apenas vários meses mais tarde, quando o reator foi finalmente coberto por uma estrutura de concreto conhecida como sarcófago.
“Chernobyl continua sendo uma das instalações nucleares mais perigosas do mundo”, disse à IPS Arthur Denisenko, especialista em energia do Centro Ecológico Nacional da Ucrânia. “O confinamento existente é instável e foi construído há 25 anos e rapidamente. Se a estrutura apresentar problemas, os resíduos radioativos serão liberados”, acrescentou. As autoridades estão construindo um novo sarcófago que cobrirá a estrutura existente. Custará US$ 2,3 bilhões, segundo nova estimativa divulgada em uma conferência de doadores realizada em Kiev, no dia 19 de abril.
“O sarcófago é bem-vindo, mas os funcionários que dizem que ele solucionará o problema estão mentindo. Continuará sendo perigoso porque em seu interior há 185 toneladas de combustível nuclear, que não está em barras, mas fundido e espalhado”, disse Denisenko. “Atualmente não existe uma tecnologia para eliminá-lo, e este combustível pode chegar ao lençol freático e contaminar os principais rios da Ucrânia”, acrescentou.
Apesar das catastróficas consequências de Chernobyl, a Estratégia Energética da Ucrânia, que continua até 2030, prevê um impulso significativo à produção de energia nuclear no país, com a construção de 22 novas unidades. “Este projeto não é apenas extremamente pouco realista, mas também é um dos mais ambiciosos do mundo”, disse Denisenko à IPS. A Ucrânia já tem 15 reatores em funcionamento, que produzem 47% de sua eletricidade, quantia que na Europa só é superada pela França.
A nova capacidade energética excederá a demanda interna, enquanto as oportunidades de exportação são poucas. Além disso, a Ucrânia não conseguirá seu muito divulgado objetivo de ser energeticamente independente da Rússia, já que este país é, de longe, o principal fornecedor de suprimentos nucleares. Não estão sendo feitos investimentos comparáveis para aumentar a eficiência energética. A Ucrânia ainda é duas ou três vezes mais intensiva em matéria energética do que a maioria da Europa, o que em parte explica os altos níveis de emissões de gases-estufa pelo país.
A possibilidade mais barata de modernizar as centrais termoelétricas e hidrelétricas existentes, e o que Denisenko afirma ser “um grande potencial em energias renováveis como eólica, biocombustíveis e hidreletricidade” em pequena escala é amplamente ignorado pelas autoridades ucranianas. Estas podem inclusive, estar aumentando o risco para a própria região de Chernobyl, ao planejar a construção de uma instalação para armazenamento do lixo atômico da central nuclear nessa área.
A localização se justifica pela virtual ausência de população na área, mas vai contra os planos de revitalizar a região e ignora os riscos que implica instalar a unidade nas proximidades do Rio Dniéper, que abastece de água 70% dos ucranianos. Na Ucrânia, são produzidas anualmente 150 toneladas de combustível nuclear usado, e, embora vários especialistas afirmem que o mesmo pode ser reutilizado em reatores de nova geração, ainda não se ouve falar da construção desses reatores em parte alguma do mundo.
Para o lixo radioativo, que se acumula em quase todas as usinas atômicas ucranianas, tampouco há uma solução à vista. Este problema não afeta apenas a Ucrânia. Não surpreende que 65% de seus habitantes acreditem que o país não tem capacidade econômica para realizar os ambiciosos planos atômicos.
Além disso, o Estado ainda sofre os enormes custos derivados de Chernobyl, que tem grande impacto em seu orçamento. Estima-se que sete milhões de pessoas em todo o mundo recebem benefícios sociais vinculados à catástrofe de 1986. A quantidade exata de vítimas de Chernobyl ainda é incerta, já que os números oficiais ignoram outros efeitos do desastre sobre a saúde, entre eles desordens mentais, apoplexias, ataques cardíacos, doenças hepáticas e danos cerebrais nos fetos.
Menos controversos são os números relativos ao câncer de tireoide e leucemia. Nos anos 1990, os casos de câncer na tireoide entre as crianças da Ucrânia, Bielorússia e Rússia aumentaram 200% em comparação com a década anterior. As estimativas menos conservadoras calculam em, aproximadamente, 400 mil mortes esperadas em todo o mundo relacionadas com Chernobyl, com base nos aumentos das complicações depois do desastre.
A explosão em Chernobyl também liberou grande quantidade de Césio 137, um isótopo radioativo que é a pior ameaça para a saúde, já que pode ser encontrado em verduras, frutas e fungos que crescem nas proximidades. A ingestão de grandes quantidades desta substância pode causar severas complicações à saúde, entre elas câncer de tireoide.
A organização Greenpeace coletou amostras de leite, frutos da floresta e batatas disponíveis em regiões que estiveram sob o impacto direto do nuvem radioativa liberada em 1986 e encontrou níveis inaceitavelmente altos de Césio 137. Apesar das restrições e dos controles alimentares por parte das autoridades ucranianas e sua provável persistência nas próximas décadas, o país ainda sofre a existência de mercados mal supervisionados em todo seu território. Envolverde/IPS