Washington, Estados Unidos, 25/7/2011 – Os Estados Unidos cancelarão a ajuda externa que enviam para Bolívia, Equador, Nicarágua e Venezuela, e cessará toda contribuição à Organização dos Estados Americanos (OEA), caso influentes legisladores do opositor Partido Republicano consigam seu objetivo. Os legisladores republicanos do Comitê de Relações Exteriores da Câmara de Representantes trabalham febrilmente para incorporar dezenas de reformas ao projeto de lei que autoriza o orçamento do Departamento de Estado para 2012, com a esperança de eliminar pelo menos US$ 6 bilhões do total de US$ 51 bilhões solicitados pelo presidente Barack Obama.
No dia 20, os republicanos votaram a favor de eliminar toda contribuição de Washington à OEA, um símbolo do domínio norte-americano neste hemisfério há mais de 60 anos. Também votaram pela redução de 25% da ajuda dos Estados Unidos à Organização das Nações Unidas (ONU) e pela eliminação da assistência a todos os países que votarem contra Washington mais da metade das vezes na ONU.
Além disso, pretendem proibir a ajuda ao Paquistão, a menos que o Departamento de Estado certifique que esse país coopera plenamente contra o terrorismo. No dia 21, enquanto Washington e grande parte dos Estados Unidos sofriam uma onda de calor de 38ºC, votaram pela eliminação de US$ 650 milhões de um fundo de ajuda aos países em desenvolvimento para adaptação à mudança climática mundial. Também votaram pela proibição de que os Estados Unidos concedam fundos a qualquer organização estrangeira, governamental ou não, que promova, realize ou forneça informações sobre métodos de aborto, inclusive a pacientes portadores do vírus HIV, causador da aids.
É muito provável que a versão atual do projeto de lei não seja aprovada pelo Senado – com maioria democrata – ou que não supere o veto quase certo de Obama. Entretanto, é pelo menos reveladora da trajetória de política externa do Partido Republicano, que tem boas possibilidades de obter a maioria no Senado nas eleições do ano que vem, embora não as tenha quanto à recuperação da Presidência.
A hostilidade contra o resto do mundo, exibida por alguns legisladores republicanos na semana passada, levou o membro mais destacado do Partido Democrata no comitê, Howard Berman, a advertir que não se deve apoiar a postura de um “Estados Unidos fortaleza” adotada por muitos republicanos na década de 1930, contrários à entrada do país na Segunda Guerra Mundial. Outros democratas criticaram o “isolacionismo” do partido de oposição.
“Eu proporia uma reforma para nos retirarmos do mundo, construir um fosso em volta dos Estados Unidos e colocar uma cúpula” sobre o país, sugeriu, irônico, o democrata Gary Ackerman. “Isto é ridículo”, afirmou quando o representante da Flórida, Connie Mack, propôs que os Estados Unidos se retirassem da OEA. “É uma loucura. E mais ainda, é perigoso”, alertou.
Mack preside o subcomitê do Hemisfério Ocidental e também propôs negar ajuda à Venezuela e aos demais governos latino-americanos que considera aliados de Caracas. Também acusou a OEA (vista em toda a América como instrumento multilateral para preservar a hegemonia de Washington e cuja tarefa primordial ultimamente é a de observadora de eleições) de estar “decidida a destruir a democracia na América Latina”. A proposta de cancelar a contribuição anual de US$ 48,5 milhões dos Estados Unidos, que é uma obrigação de Washington, segundo o tratado da OEA – como mencionaram alguns democratas – foi aprovada por 22 votos a favor e 20 contra.
O Oriente Médio, ou mais precisamente a parte árabe do Oriente Médio, não teve melhor sorte. O comitê impôs fortes condições à ajuda norte-americana para os países árabes, enquanto confirmou a destinação anual de assistência militar e empréstimos a Israel no valor de US$ 3 bilhões. Na verdade, algumas propostas, como a mudança da embaixada dos Estados Unidos em Israel para a disputada cidade de Jerusalém, parecem redigidas pelo partido de governo de Israel, o direitista Likud.
O projeto da presidente do comitê, a representante da Flórida Ileana Ros Lehtinen, proíbe ajuda ao Egito e ao Iêmen com fins de segurança, a menos que Obama assegure que seus governos não estão sob o controle de uma “organização terrorista estrangeira”. O Egito também deverá cumprir na totalidade os termos dos acordos de paz de Camp David (1979) com Israel e “destruir os túneis utilizados para contrabandear materiais para Gaza”.
A iniciativa também proíbe assistência ao Líbano e à Autoridade Nacional Palestina (ANP) até que Obama confirme que nem o Hezbolá (Partido de Deus) nem o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) ocupam cargos em “ministério, agência” ou organismos “de governo”. No caso da ANP, Obama também deverá certificar que a mesma atue contra a “infraestrutura extremista em Gaza e que reconheça o direito de Israel existir como um Estado judeu”.
Os republicanos “acumularam más ideias, ressentimento, demência e indiferença pelo interesse nacional esta semana”, escreveu, no dia 21, em sua conta no Twitter, Marc Lynch, analista da política no Oriente Médio na Universidade de George Washington. O projeto de lei também nega ao Paquistão assistência civil ou de segurança, a menos que o secretário de Estado garanta que Islamabad coopera plenamente com as operações antiterroristas dos Estados Unidos. Atualmente, Washington entrega mais de US$ 3 bilhões ao ano de ajuda ao governo paquistanês.
“Creio que a perspectiva de cancelamento da ajuda chamará sua atenção e que, finalmente, acabarão os jogos que fazem com nossa segurança”, afirmou Lehtinen. E acrescentou que Obama teria a faculdade de não aplicar as reduções a esses países se considerar que a medida favorece “interesses vitais de segurança nacional” dos Estados Unidos e se puder garantir que nenhum receptor da ajuda norte-americana em matéria de segurança “integre ou esteja associado a uma organização terrorista estrangeira”.
Com o fim de reduzir o déficit do governo federal, o projeto também limita o valor da ajuda econômica e para o desenvolvimento dos países pobres abaixo do nível de 2010, e, entre outros cortes nas operações da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), elimina o escritório de orçamento que supervisiona o gasto.
Ken Forsberg, da InterAction, uma aliança de 200 grupos humanitários que trabalham nos países em desenvolvimento, disse que as medidas são “contraproducentes”. E advertiu que “quando cada dólar deve ser considerado como nunca, eliminar o escritório de orçamento da Usaid nos leva pelo caminho equivocado”. Envolverde/IPS
* O blog de Jim Lobe sobre política externa pode ser encontrado em www.lobelog.com.