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Os solos que olhavam as cabras

Washington, Estados Unidos, 24/6/2011 – O aumento dos rebanhos bovinos, ovinos e caprinos está transformando extensas áreas de terra de pastagem em desertos. Depois de criada a Terra, o solo se formou lentamente ao longo das eras geológicas, a partir da erosão das rochas. Manteve os primeiros organismos vegetais, que o protegeram e enriqueceram para que pudesse sustentar a diversidade de plantas e animais que conhecemos hoje. Agora está se degradando, e um indicador que nos ajuda a avaliar a saúde das terras de pastagem são as mudanças na população de cabras em relação às de ovinos e bovinos.

Com a deterioração dessas terras, a pastagem é substituída por arbustos típicos de paisagens desérticas. Em um ambiente assim, bovinos e ovinos não prosperam. Mas as cabras revolvem entre os arbustos. Sobrevivem especialmente ali porque suas patas são de um tipo que pulveriza a camada protetora do solo que se forma a partir das chuvas e que naturalmente freia a erosão causada pelo vento. Entre 1970 e 2009, a população pecuária mundial aumentou 28%, e a quantidade de ovelhas se manteve relativamente estática. Enquanto a de cabras mais que duplicou.

O aumento das populações de cabra é particularmente drástico em alguns países em desenvolvimento. Enquanto os rebanhos de gado no Paquistão duplicaram entre 1961 e 2009, e a quantidade de ovelhas quase triplicou, a de cabras aumentou mais de seis vezes, e agora é aproximadamente igual à soma das populações bovina e ovina. Ao pastarem, estes animais desnudam o país de sua vegetação que contém a água da chuva, o que contribuiu para as enormes inundações que devastaram o Paquistão no verão do ano passado.

Um terreno semidesértico gigante agora se forma ao Sul do Saara, na região africana do Sahel, graças, em parte, à pastagem excessiva. Na Nigéria, o país mais povoado da África, perde-se a cada ano mais de 350 mil hectares de pastagens e terras agrícolas devido à desertificação. Na medida em que crescem as populações humanas e de gado, criadores e agricultores competem por áreas cada vez menores para cada pessoa e animal. A população de cabras, em particular, disparou a erosão do solo. Se a população de seres humanos e de gado na Nigéria continuar crescendo ao ritmo atual, a degradação do solo acabará prejudicando as atividades agropecuárias.

Um segundo terreno semidesértico gigante se desenvolve ao Norte e no ocidente da China, no ocidente da Mongólia e na Ásia central. Depois que as reformas econômicas de 1978 retiraram a responsabilidade da agricultura de grandes equipes de produção organizadas pelo Estado para colocá-las nas mãos de famílias agrícolas individuais, as populações pecuárias da China começaram a crescer. A quantidade de cabras continua aumentando conforme a terra é despojada de vegetação e os ventos ajudam a remover o solo para transformar pastagem em deserto.

Pode-se comparar a situação da China com a dos Estados Unidos, que têm uma capacidade de pastagem comparável. Embora os dois países tenham uma quantidade semelhante de gado, a população combinada de ovelhas e cabras dos Estados Unidos, que somam nove milhões de cabeças, é ínfima comparada com os 281 milhões que a China possui. Lamentavelmente, todo tipo de gado degrada os solos ao eliminar a vegetação e pisotear a terra.

A rotação do gado, a produção agrícola combinada com a pecuária, e outras práticas agrícolas sustentáveis podem reduzir a erosão do solo, aumentar a produtividade das terras agrícolas e conduzir a uma quantidade maior de carbono e umidade no solo. Em algumas situações, pode-se criar pequenas quantidades de animais em áreas restritas e lhes fornecer forragem, como ocorre no modelo de cooperativas lácteas da Índia. Mas, no final, a única maneira viável de eliminar a pastagem em excesso é equilibrar a dimensão dos rebanhos com a capacidade da natureza se regenerar. Envolverde/IPS

* Lester R. Bron é fundador e presidente do Earth Policy Institute. O artigo destaca dados apresentados em seu livro “World on the Edge: How to Prevente Environmental and Economic Collapse” (O Mundo no Limite: como Prevenir o Colapso Ambiental e Econômico, Nova York: W.W. Norton & Company, 2011), disponível no site www.earth-police.org/books/wote.