Doha, Catar, 9/8/2011 – Arábia Saudita, Bahrein e Kuwait chamaram para consultas seus respectivos embaixadores em Damasco como forma de condenação à brutal repressão do regime sírio contra os protestos de oposição. O rei saudita, Abdalá bin Abdulaziz, repudiou ontem a repressão na Síria e exortou o governo de Damasco a implantar reformas políticas.
“O que acontece na Síria não é aceitável para a Arábia Saudita”, destacou o monarca em uma declaração escrita. “A Síria deveria pensar sabiamente antes que seja muito tarde, e aprovar reformas que não sejam simples promessas, mas transformações reais”, afirmou. Mais tarde, Bahrein e Kuwait também anunciaram que decidiram chamar seus embaixadores para consultas. “Ninguém pode aceitar o derramamento de sangue na Síria. A opção militar precisa ser detida”, disse a jornalistas o chanceler do Kuwait, xeque Mohammad Al Sabah. Seus comentários foram feitos um dia após o Conselho de Cooperação do Golfo exortar a Síria a “pôr fim ao derramamento de sangue”.
Por sua vez, a Liga Árabe, que esteve em silêncio desde o começo do levante, afirmou estar “alarmada” pela situação, e pediu o fim imediato de toda violência. O secretário-geral da Liga, Nabil el Araby, cobrou das autoridades sírias que iniciem um “sério diálogo” com os manifestantes.
Por outro lado, a agência estatal Petra, da Jordânia, citou o chanceler, Naser Judeh, qualificando de “perturbadora” a situação na Síria. Exortou Damasco a implantar as reformas prometidas, mas esclareceu que Amã não ia interferir nos assuntos internos sírios. O correspondente da rede de televisão Al Jazeera na fronteira entre Jordânia e Síria, Nisreen el-Shamayleh, afirmou que “na Jordânia, pela primeira vez, um funcionário governamental falou desde que começou a instabilidade na Síria”.
“As relações entre os dois países não foram exatamente as melhores nos últimos anos. Sempre houve tensões que afetaram os vínculos, e a Jordânia se esforça para não comentar o que ocorre na Síria, para evitar um agravamento da situação com o regime”, acrescentou Nisreen.
No Líbano, intelectuais e escritores realizarão um protesto, pela primeira vez, hoje, na Praça dos Mártires, em Beirute, informou Rula Amin, da Al Jazeera. Por sua vez, a Turquia, que tem fronteira com a Síria e até há pouco era sua forte aliada e sócia comercial, informou que enviará hoje seu chanceler para transmitir uma dura mensagem contra a repressão do regime de Bashar al-Assad.
O presidente sírio ignorou meses de críticas e sanções, e atribuiu a grupos criminosos a violência em seu país. Contudo, ontem, a televisão estatal síria informou a substituição do ministro da Defesa, Ali Habib, pelo chefe do Estado Maior do exército, Dawoud Rajha. A mudança aconteceu por motivos de saúde, segundo a informação. “O governo sente que é uma corrida contra o tempo, enquanto cresce a pressão árabe e internacional”, afirmou Amin.
Uma onda de críticas desabou sobre Damasco quando ativistas sírios denunciaram novos ataques com artilharia na cidade de Deir ez-Zor. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos informou que as forças de segurança mataram a mãe de duas crianças quando fugia do ataque. “A mulher e os filhos tentavam fugir do distrito de Huweika para um lugar seguro quando foram atacados por uma patrulha de segurança”, afirmaram os ativistas, citando testemunhas.
“Acabamos de falar com ativistas em Deir ez-Zor, e neste momento franco-atiradores estão ocupando os telhados dos prédios no coração da cidade”, disse El-Shamayleh, da Al Jazeera. “Também soubemos que a repressão iniciada ao amanhecer de ontem continuou até o meio-dia”, acrescentou. Outros ativistas disseram que as forças de segurança sírias teriam realizados várias blitze, detendo muitas pessoas. Além disso, informaram que mais de 300 pessoas morreram na última semana, a mais sangrenta nos cinco meses de levante contra o regime de Al-Assad.
Na opinião de analistas, a decisão dos Estados do Golfo de chamarem seus embaixadores poderia ajudar a mudar a situação. “O regime sírio realmente tem medo de perder a Arábia Saudita como amiga”, disse à Al Jazeera Ali Al Ahmed, diretor do Instituto para Assuntos do Golfo de Washington. Envolverde/IPS