Peshawar, Paquistão, 11/5/2011 – A defesa que o primeiro-ministro do Paquistão, Yousaf Raza Gilani, fez dos serviços de inteligência de seu país (ISI) diante das acusações de ter protegido Osama bin Laden foi mais débil do que muitos esperavam. “Os ISI são um bem da nação”, disse Gilani em um discurso no parlamento no dia 9, em meio a uma decepção pública neste país por não ter detido as críticas internacionais. O primeiro-ministro falou em inglês, sinal de que sua mensagem destinava-se à comunidade mundial.
Além de anunciar que o chefe do Estado Maior do Exército, Ashfaq Pervez Kayani, apresentará um informe em uma sessão conjunta da Assembleia Nacional e do Senado, no dia 13, Gilani reiterou suas afirmações de que as forças especiais norte-americanas chegaram ao complexo de Abbottabad, onde Bin Laden se refugiava, graças à ajuda dos ISI. Gilani destacou que a nação toda confia nos serviços de inteligência e em seus líderes políticos. No entanto, o público esperava do primeiro-ministro declarações mais fortes, semelhantes às feitas pelo Exército, que qualificou de “ação unilateral não autorizada” a ação norte-americana, alertando que não seria permitida novamente.
“O argumento do primeiro-ministro de que a política nacional foi consistente com os desejos do povo não tem lógica, já que a nação foi severamente prejudicada por um ataque não autorizado dos Estados Unidos. O povo quer que o governo emita uma forte declaração”, disse o analista político Rohul Amin, professor no Colégio Governamental de Peshawar. A política externa paquistanesa nunca esteve alinhada com os desejos do povo, servindo aos interesses dos Estados Unidos em um nível inaceitável, acrescentou.
Por seu lado, o líder opositor Chaudhry Nisar Ali Khan disse em um discurso que confia no profissionalismo do Exército e dos ISI. Entretanto, “queremos uma explicação sobre como ocorreu a história de Abbottabad. Queremos que o primeiro-ministro siga as declarações do comando geral do Exército advertindo sobre ataques não provocados no futuro”, disse Khan.
Por um lado, Gilani admitiu o fracasso dos ISI para seguir o rastro até Abbattobad do terrorista mais procurado do mundo. Por outro, destacou que a agência facilitou o acesso norte-americano ao complexo. Também ordenou uma investigação sobre o ocorrido e garantiu que os responsáveis por Bin Laden ter permanecido no país seriam punidos. No entanto, o governo de Obama exigiu que o Paquistão revele quem entre seus funcionários deu amparo a Osama.
O Paquistão é a principal frente da guerra contra o terrorismo e perdeu mais de 3.500 soldados e dez mil civis em ataques suicidas e com bomba desde 2003, segundo estimativa. Muitos paquistaneses se decepcionaram com o discurso de Gilani. “Sabemos que nosso governo é fraco porque recebe enorme assistência financeira dos Estados Unidos”, disse à IPS Javid Ali, professor, acrescentando ter ouvido todo o discurso esperando uma declaração mais forte para contrapor as acusações de Washington.
O primeiro-ministro “só queria dizer aos Estados Unidos que está disposto a converter os militares e os ISI em bodes expiatórios apenas para agradar Washington”, disse à IPS Muhammad Farooq, estudante de Relações Internacionais na Universidade de Peshawar. Acrescentou que Gilani deveria responder de igual para igual as acusações de Washington, mas não o fez. Envolverde/IPS