Doha, Catar, 13/4/2011 – A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não faz o suficiente para proteger a população civil na Líbia, afirmou ontem o chanceler da França, Alain Juppe, um dia após fracassar uma proposta da União Africana (UA) para acabar com a guerra civil. Para Juppe, a aliança deveria focar suas baterias na sitiada cidade de Misurata, noroeste do país, onde continuam os fortes combates entre rebeldes e forças de Muammar Gadafi.
“A Otan deve desempenhar plenamente seu papel. Queria assumir a liderança das operações, e nós aceitamos”, disse o chanceler à rádio France Info antes de viajar ao Catar para se reunir com um grupo de contato sobre a Líbia. “A Otan deve desempenhar seu papel agora, o que significa impedir que Gadafi use suas armas pesadas contra a população civil”, acrescentou.
A Cruz Vermelha Internacional anunciou que abriria um escritório em Trípoli e enviaria uma equipe a Misurata para ajudar os civis presos entre os combates, mas um dos ministros de Gadafi advertiu que qualquer operação que tenha participação de tropas estrangeiras seria considerada uma declaração de guerra.
O Conselho Nacional de Transição na Líbia rejeitou, no dia 11, uma proposta da União Africana para negociar uma saída para a crise. O Conselho, com sede na cidade de Bengasi, disse que o “mapa do caminho” elaborado por uma delegação de cinco presidentes africanos ficou “desatualizado” após as mortes e a destruição ocorridas no último mês.
“A demanda de nosso povo, desde o primeiro dia, é que Gadafi renuncie”, afirmou o porta-voz do governo de transição, Mustafa Jabril. “Qualquer iniciativa que não inclua esta demanda popular não será considerada. Gadafi e seus filhos devem partir imediatamente”, ressaltou. Jabril alertou que os combatentes rebeldes marchariam rumo a Trípoli. “Não podemos negociar o sangue de nossos mártires. Morreremos com eles ou seremos recompensados com a vitória”, acrescentou. Ele também agradeceu à comunidade internacional e às forças da coalizão por seu apoio, que considerou fundamental para salvar vidas civis.
O mapa do caminho de cinco pontos propõe um cessar-fogo e medidas para proteção de civis, bem como ajuda humanitária tanto para líbios como para estrangeiros. O plano também propõe o diálogo entre as duas partes, um “período de transição inclusivo” e reformas políticas “que atendam as aspirações do povo líbio”. Os líderes africanos se reuniram, no dia 11, com Gadafi, que disse “aceitar” as propostas.
O plano da União Africana teve uma cautelosa acolhida na comunidade internacional. O secretário britânico de Assuntos Exteriores, William Hague, afirmou que qualquer acordo de cessar-fogo deveria cumprir plenamente os termos da resolução da Organização das Nações Unidas. O chanceler italiano, Franco Frattini, disse ser improvável que Gadafi respeitasse qualquer trégua, “depois dos horríveis crimes cometidos”.
Por sua vez, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, disse que qualquer cessar-fogo deve ser “confiável e verificável”. No entanto, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, assegurou que Trípoli “aceitou” o plano da UA, que poria fim ao bombardeio da Otan. Porém, combatentes rebeldes duvidam da adesão efetiva do líder líbio a um pacto como este.
Laurence Lee, correspondente da Al Jazeera em Bengasi, disse que a estratégia do Conselho é “antes morrer do que dobrar os joelhos”. Estão dispostos a negociar uma transição política para a democracia com alguns antigos líderes do regime, mas somente com a condição de Gadafi e seus filhos abandonarem o país, disse no dia 10. A população de Bengasi se pergunta se a proposta era “uma genuína tentativa de resolver o conflito ou um esforço de pessoas com estreitos vínculos econômicos e políticos com Gadafi para lhe dar legitimidade”, afirmou o correspondente.
A revolta contra o regime de 41 anos de Gadafi começou como uma onda de protestos em todo o país no final de fevereiro, mas logo se converteu em uma guerra civil, depois que as tropas leais ao governo dispararam contra manifestantes e rebeldes ocuparam várias cidades do Leste. Envolverde/IPS
* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.