Washington, 17/7/2013 – O novo governo do Irã estará disposto a dialogar sobre o futuro de seu plano de desenvolvimento atômico, mas somente será superada a paralisação se os Estados Unidos mudarem sua postura, afirmou um diplomata e ex-negociador nuclear iraniano. A vitória de Hassan Rouhani nas eleições do Irã, no mês passado, despertou expectativas nesse país, mas teve reações mais cautelosas na comunidade internacional.
O jornal The Wall Street Journal informou, no dia 13, que Washington procuraria conversações diretas com Teerã, mas ainda falta ver se o governo de Barack Obama está aberto a negociar um acordo aceitável para as duas partes. Rouhani ganhou o apelido de “xeique diplomático” quando foi negociador-chefe de seu país nas conversações internacionais sobre o programa de desenvolvimento nuclear iraniano, entre 2003 e 2005.
Israel, que há mais de duas décadas alerta que Teerã está perto de desenvolver tecnologia para fabricar armas atômicas, insiste para que Washington pressione esse país e o ameace militarmente. “O importante a ser transmitido aos iranianos, especialmente depois das eleições, é que a política não mudará. E isso deve ser apoiado por algumas sanções cada vez mais fortes e por uma ação militar”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamín Netanyahu, à rede de televisão norte-americana CBS.
Entretanto, segundo o embaixador Seyed Hossein Mousavian, ex-porta-voz da equipe negociadora de Rouhani, Teerã não mudará sua postura, a menos que Washington faça o mesmo. A IPS entrevistou Mousavina, agora pesquisador na Escola Woodrow Wilson de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade de Princeton, sobre as perspectivas de uma solução para a crise envolvendo o programa atômico iraniano.
IPS: Seu artigo para a revista Cairo Review, escrito mais de um mês antes da vitória de Rouhani, gerou muito debate sobre a opção iraniana de se retirar do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Teerã considera isto seriamente?
SEYED HOSSEIN MOUSAVIAN: Como disse no artigo, a primeira e mais favorável opção para o Irã é continuar procurando uma solução pacífica para o ponto morto. Expliquei quais foram as cinco grandes demandas do P5+1 (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, China, Rússia mais Alemanha) apresentadas nas últimas conversações para impedir que o Irã aumente sua capacidade atômica e para garantir um máximo nível de transparência. Por sua vez, o Irã apresentou duas demandas: que as sanções sejam levantadas e tenha seus direitos reconhecidos sob o TNP. Também propus que as potências mundiais e o Irã incluam todas as suas demandas dentro de um pacote de medidas a serem aplicadas passo a passo e reciprocamente. Nunca foi intenção do Irã se retirar do TNP. Foram Estados Unidos e Israel que puseram “todas as opções sobre a mesa”, deixando aberta a possibilidade de um ataque militar contra instalações nucleares iranianas. Esta política vai contra a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e do TNP, já que dois países com armas nucleares, Estados Unidos e Israel, estão ameaçando atacar o Irã, país sem arsenal atômico. Portanto, enquanto continuar sendo válida a política norte-americana de ter “todas as opções sobre a mesa” o Irã, como Estado soberano, se verá forçado a fazer o mesmo.
IPS: O governo de Barack Obama afirma que Teerã ainda não respondeu formalmente à sua oferta para restabelecer a confiança proposta em Almaty, no Cazaquistão, em fevereiro passado. Em sua opinião, por que o Irã não respondeu? O senhor espera que haja uma resposta por parte do novo governo de Rouhani?
SHM: A proposta do P5+1 em Almaty incluía grandes demandas e oferecia muito pouco em troca. A administração de Rouhani estará disposta a procurar um acordo justo e equilibrado, que contemple todas as grandes demandas das duas partes, que esteja baseado no TNP e que seja incluído em um pacote de medidas implementadas de forma proporcional e recíproca.
IPS: Uma das condições para uma solução negociada é que se reconheça o direito do Irã de enriquecer urânio?
SHM: Seria parte desse pacote.
IPS: Alguns membros do Congressos dos Estados Unidos gostariam de impor mais sanções ao Irã antes que Rouhani assuma. Que efeito teria isso nas perspectivas das negociações?
SHM: O Irã nunca participará de conversações diretas nem se envolverá seriamente enquanto os Estados Unidos continuarem com sua política de sanções e de pressão. Se Washington realmente procura mudar de enfoque, deve demonstrá-lo com um ato de boa vontade, em lugar de aumentar as hostilidades e a animosidade. Os iranianos dão importância às ações dos Estados Unidos, não apenas às palavras.
IPS: Como é o equilíbrio de forças no Irã entre os que querem adotar uma linha dura e os que são a favor de maior flexibilidade? E qual é o efeito das sanções no debate interno?
HSM: Há duas tendências de pensamento no Irã com relação ao tema nuclear, mas o que ninguém disputa é o direito nacional de adquirir tecnologia atômica com fins pacíficos, incluindo o enriquecimento de urânio. De todo modo, o P5+1 e o enfoque ocidental sobre o tema nuclear têm uma importante influência nessas duas tendências. Quando eu era membro da equipe negociadora nas conversações realizadas entre 2003 e 2005 com três potências europeias (Grã-Bretanha, França e Alemanha), o Irã demonstrou uma grande abertura para resolver a disputa. Lamentavelmente, não se conseguiu um acordo final porque os Estados Unidos continuavam negando os direitos legítimos do Irã sob o TNP. A intransigência dos Estados Unidos alterou o equilíbrio de forças dentro do Irã e favoreceu os mais radicais. Portanto, o Ocidente procura cooperação e flexibilidade do Irã, mas deve responder de forma proporcional e apropriada.
IPS: Em sua primeira entrevista coletiva, o presidente eleito Rouhani se referiu a Israel simplesmente como Israel, sem nenhum adjetivo nem ofensas. Acredita que isto reflete um novo enfoque?
SHM: Rouhani não é um homem de um discurso radical. É cortês, usa a lógica e respeita as normas e as regulações internacionais. A resolução da disputa com o Irã dependerá de as tradicionais políticas ocidentais de pressão, sanção, ameaças e humilhação serem trocadas pelo respeito, pelo reconhecimento dos interesses mútuos e pela cooperação com o governo de Rouhani. Envolverde/IPS