Desde sempre, os sonhos foram motivos de curiosidades. Diversos mitos antigos tentavam explicar sua origem e até hoje muita gente acredita que eles podem prever a sorte ou o futuro. Com Freud, os sonhos ganharam significados mais filosóficos e analíticos. Para os psicanalistas, os sonhos são, em linhas gerais, a manifestação inconsciente do desejo. Mas o que se pode dizer, com certeza, de todos aqueles que sonham, é que ele é resultado de uma noite bem dormida.
“Os sonhos só ocorrem em uma fase do sono, a chamada ‘fase de movimentos rápidos dos olhos’, ou REM, na sigla em inglês. Isto quer dizer que para sonhar é preciso entrar no sono mais profundo e revigorante”, diz Sergio Ricardo Hototian, médico neurologista do Hospital Sírio-Libanês e supervisor do Ambulatório de Psicogeriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
“O sonho é como um reparador de memórias e traumas. Ele serve como uma catarse – uma válvula de escape – para as situações vividas durante o estado de vigília, ou seja, quando estamos acordados. Ao sonhar, expurgamos algumas experiências ruins e revisitamos outras positivas, por exemplo”, diz Hototian.
Mas o especialista lembra que nem todo mundo sonha, mesmo dormindo bem, e, além disso, quem sonha pode não fazê-lo toda noite. Entretanto, é certo dizer que quem dorme mal não consegue sonhar.
“Curiosamente, algumas condições – como transtornos mentais – também podem influenciar esse processo de sonhar. Esquizofrênicos, sabidamente, não sonham. E pessoas com transtornos depressivos têm sonhos mais desagradáveis”, observa o especialista.
Pesadelos e sonhos ruins
A primeira explicação para os sonhos ruins ou pesadelos – um sonho aterrorizante – pode ser, como foi dito anteriormente, uma forma de o cérebro se livrar de memórias ruins presenciadas durante a vigília. Mas indivíduos depressivos, como já indicaram diversas pesquisas, também são mais propensos a sonhos ruins, por motivos ainda não muito claros.
“Os depressivos têm essa característica de sonhos ruins mais constantes. O lado bom é que assim que iniciam a psicoterapia, esses sonhos diminuem a incidência”, afirma Hototian.
Outro dado interessante é que, em geral, pessoas que estão fazendo algum tipo de terapia psicológica costumam se lembrar mais dos próprios sonhos. “Isto é interessante, pois indica que há um aspecto psicológico no ato de sonhar e talvez seja possível aprender a se lembrar dos sonhos ou induzir esse estado de alguma maneira”, observa o neurologista.
O que impossibilita o sonho
Não sonhar pode ser algo corriqueiro e não necessariamente impede um bom sono. Mas alguns fatores podem impedir tanto um quanto outro. Indivíduos em tratamentos farmacológicos específicos – como aqueles envolvendo drogas mais antigas no mercado, como antidepressivos trifásicos – podem não conseguir atingir a fase REM e consequentemente não sonhar.
“Condições como a apneia do sono, que contribui para a insônia, também causam maior dificuldade para sonhar. Em ambos os casos, novamente, a questão é a impossibilidade de se ter um sono profundo e reparador. Essas pessoas, além de não terem o prazer de sonhar, ainda ficarão extremamente cansadas no dia seguinte”, finaliza.
* Publicado originalmente no site O que eu tenho.