Mesmo sabendo que uma dieta equilibrada fornece uma quantidade suficiente de vitaminas e sais minerais, uma boa parcela da população lança mão de suplementos alimentares com a intenção de promover o bem-estar e prevenir doenças. Em alguns países desenvolvidos, como é o caso dos Estados Unidos, esse consumo faz parte da vida de até mais da metade da população. Entretanto, as evidências científicas dos benefícios à saúde desses suplementos estão longe de serem conclusivas.
Nesta última semana, o Archives of Internal Medicine, periódico da Academia Americana de Medicina, publicou mais um estudo apontando que, quando o assunto é vitaminas e sais minerais, MAIS pode ser MENOS. Cerca de 40 mil mulheres americanas com uma média de idade de 61 anos foram acompanhadas por quase 20 anos. Aquelas que faziam uso de suplementos de vitaminas e sais minerais apresentaram uma maior chance de morrer do que as que não usavam. Os que se mostraram mais na contramão da saúde foram os complexos multivitamínicos, vitamina B6, ácido fólico, magnésio, cobre, zinco e ferro. Muitos outros microelementos não demonstraram qualquer associação com a longevidade, nem para o mal, muito menos para o bem.
O uso dos suplementos era comparável entre as mulheres com ou sem doenças no início do estudo, mais especificamente câncer, diabetes e doenças cardiovasculares. Além disso, no decorrer do estudo, as mulheres que tiveram esses diagnósticos não passaram a usar mais suplementos, sugerindo que não faz muito sentido o argumento de que as mulheres que usavam suplementos morreram mais precocemente porque eram mais doentes.
Esses resultados não estão isolados. Nesta mesma semana o periódico JAMA publica outro estudo evidenciando maior risco de câncer de próstata entre homens que fazem uso de suplementos de vitamina E. Essas pesquisas somam-se a um grande corpo de evidências que coloca em xeque o valor da prática de prevenção de doenças através das cápsulas de vitaminas.
A conclusão dos autores do presente estudo é aquilo que nosso Conselho Federal de Medicina (CFM) preconiza: os suplementos de vitaminas e sais minerais só devem ser utilizados em situações de comprovada deficiência nutricional. O CFM ainda acrescenta na sua última resolução sobre o assunto do ano de 2010: medidas higiênicas, dietéticas e de estilo de vida não podem ser substituídas por qualquer tratamento medicamentoso, suplementos de vitaminas, de sais minerais, de ácidos graxos ou aminoácidos.
* Ricardo Teixeira é doutor em Neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília.
** Publicado originalmente no blog do autor ConsCiência no Dia-a-Dia.