Brazzavillle, Congo, 26/8/2011 – “Estou grávida de seis meses, mas hesitei em ir ao centro de saúde porque nos maltratam”, disse a indígena congolesa Marguerite Kassa, de 30 anos. Tinha medo de se ver sozinha em uma pequena sala cheia de mulheres em Mossendjo, no sul do país. “Mas, tive uma boa recepção”, acrescentou. Uma em cada quatro indígenas dá à luz em centros de saúde, bem menos do que os 80% das congolesas que procuram por profissionais da saúde.
Em 2007, havia 43.500 indígenas no Congo, apenas 2% dos 3,7 milhões de habitantes. Em fevereiro deste ano foi sancionada uma lei que “proíbe” o uso da palavra “pigmeu”, usada para se referir a vários povos caçadores caracterizados por sua baixa estatura. O Artigo 22 da Lei garante “acesso sem discriminação” aos serviços de saúde. Menos de 20% das indígenas do Congo visitam pelo menos uma vez a clínica durante a gravidez, segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
“Não vão porque são discriminadas”, afirmou Jean Nganga, presidente da Associação de Defesa e Promoção da População Indígena, com sede em Brazzaville. “São tratadas como coisas”, acrescentou. “As parteiras nos deixam esperando, riem da gente, mesmo antes de chegarmos ao centro de saúde. Isso nos desanima”, queixou-se Kassa. Oito das 520 indígenas entrevistadas entre abril e maio pela Associação Congolesa para a Saúde, da região de Cuvette-Oeste, deram à luz em uma clínica.
“Falam que não têm dinheiro para pagar a consulta nem a roupa do bebê”, disse Thomas Okoko, diretor da organização, com sede em Mbomo, capital de Cuvette-Oeste. “Vemos que estão grávidas, mas não sabemos onde dão à luz porque não são vistas nas maternidades”, confirmou Léonard Itoba, médico do hospital no povoado de Ouesso, norte do país. “Não creio que a verdadeira razão seja a falta de roupa”, afirmou David Lawson, representante do UNFPA no Congo. “São instantâneos do estigma degradante que as afastam dos centros de saúde”, acrescentou.
“A hostilidade contra as indígenas é o que as leva a parir na selva”, concordou Roger Bouka Owoko, diretor-executivo do Observatório de Direitos Humanos, uma organização com sede em Brazzaville. Uma parteira tradicional contou que são atendidos, em média, de cinco a seis partos por mês em París, aldeia a 60 quilômetros de Ouesso. “Às vezes tenho de usar uma navalha para raspagem a fim de facilitar o parto por falta de cuidados pré-natais”, acrescentou.
“Ainda confiamos em nossas tradições”, explicou uma sexagenária da aldeia de Ngouha II, sul do país. “Por exemplo, quando uma mulher está próxima de dar à luz não caminha sozinha pela floresta. Quando começam as contrações sabe o que precisa fazer, sentar-se contra uma árvore”, acrescentou. “É uma questão cultural e há muitas ervas que facilitam o parto”, disse a socióloga Glydas Ngoma-Mofoundou, da Universidade de Brazzaville.
Os centros integrados de saúde não cobram a consulta das indígenas para motivá-las a procurarem parteiras profissionais em dois dos 12 departamentos administrativos do país, Lékoumou, no sul, e Sangha, no norte. “Decidimos não cobrar das mulheres indígenas grávidas”, disse à IPS o diretor do centro de saúde de Sangha, Marcel Elion.
O UNFPA colabora com a iniciativa dos diretores departamentais entregando às indígenas uma bolsa com artigos de primeira necessidade, como roupa para o recém-nascido, remédios, luvas e seringas”, explicou a indígena Philomène Ipande. Angélique Bounda, de 24 anos, deu à luz na Maternidade de Dolisie no sudoeste do Congo, no final de julho. “Vim para os exames pré-natais e segui o conselho da parteira até o fim”, disse sorrindo à IPS. Envolverde/IPS