Juba, Sudão do Sul, 8/7/2011 – Sudão do Sul e Sudão do Norte devem resolver com urgência como compartilharão as riquezas procedentes dos hidrocarbonetos para evitar que a escalada do conflito derivada da divisão do país acabe em guerra civil, afirmam porta-vozes governamentais e a organização humanitária Global Witness.
“Há uma semana que não há combustível em Sudão do Sul porque o Norte fechou o oleoduto antes de bombardear a região de Abyei”, disse James Morgan, embaixador deste país na Indonésia até junho. O presidente sudanês, Omar el-Bashir insiste em compartilhar o recurso igualmente. “Só queremos pagar aluguel pela tubulação e pelo uso do porto, para exportar petróleo”, afirmou.
O Sudão do Sul, que utiliza 85% do petróleo do país, celebrará amanhã seu nascimento como novo Estado ao se separar do Norte, convertendo-se no 55º país da África. O presidente da Assembleia Legislativa do Sudão do Sul, James Igga, proclamará a independência da República. A bandeira do Sudão será baixada e subirá a do novo país.
Salva Kiir assinará uma Constituição de transição e depois prestará juramento como presidente do novo Estado. O país terá dez divisões administrativas geridas por governadores. Resta resolver como serão compartilhados os benefícios do petróleo e como acabar com os conflitos nas zonas de Abyei, Kordofan do Sul e Nilo Azul. A Global Witness, que fez um estudo sobre a riqueza do país, concluiu que deve haver mais transparência sobre a renda com os hidrocarbonetos para preservar a paz.
“O mais importante da separação é o que acontecerá com a renda do petróleo”, disse Rosie Sharpe, da Global Witness. “Sem um acordo equitativo, é difícil pensar em uma separação pacífica. É fundamental um acordo para evitar uma guerra total. Houve muita desconfiança sobre se o atual sistema de distribuição de renda foi implantado com justiça”, diz o informe.
A população não sabe ao certo quanto petróleo o país produz, assim, tampouco, podem saber se a implantação do acordo é justa, ou não. O atual governo sudanês e a Corporação Nacional de Petróleo da China, principal companhia da região, não explicaram adequadamente as discrepâncias nos números de produção divulgadas.
Desde o Acordo Geral de Paz, de 2005, Sudão do Norte e Sudão do Sul dividem em partes iguais a renda do petróleo, mas há analistas estimando que quase três quartos dos 500 mil barris de petróleo produzidos diariamente procedem do Sul. A economia do Norte será prejudicada com a separação do Sul. Os ganhos com petróleo representaram 50% da renda e 93% das exportações do Sudão em 2009. Os preços dos alimentos e produtos básicos estão subindo, pois o governo reduz os subsídios que, estima, já não poderá custear, segundo a Global Witness.
As autoridades do Norte se mostram otimistas em público e irradiam confiança. As pessoas que fazem circular boatos de que a economia entrará em colapso com a separação do Sul estão “totalmente enganadas”, disse Nafie Alia Nafie, colaborador próximo de Al Bashir e ex-chefe de segurança nacional.
Entretanto, a confiança do Sudão do Sul no petróleo, que representa 98% de sua renda, também o deixa vulnerável. Desde que foi assinado o acordo de paz em 2005, recebeu US$ 10 bilhões. Porém, muitos se queixam de não terem visto os benefícios dos petrodólares. O território continua sendo uma das regiões menos desenvolvidas do mundo.
Sem petróleo, a economia do Sudão do Sul também entrará em colapso. Da sua população, 85% depende da agricultura e é possível que não sinta diretamente o impacto, mas o Estado não poderá pagar os soldados e haverá instabilidade política. O governo do Sudão do Sul disse que respeitará o acordo já assinado e alguns executivos do setor já se mudaram de Cartum para Juba, sua capital.
No longo prazo, o país terá de diversificar sua economia. “Estima-se que a produção atingirá seu máximo entre 2011 e 2012, e depois começará a cair gradualmente até seu esgotamento dentro de 20 a 30 anos”, disse Dirk-Jan Omtzigt, assessor econômico da Referendum Taskforce.
Não há eletricidade suficiente no Sul, mas há outros setores no auge. A construção civil encabeça os negócios incipientes, e foram erguidos numerosos edifícios na região. O engenheiro civil Leonard Moss está contente com a independência porque agora o Sudão do Sul poderá desfrutar dos ganhos de seus recursos naturais. “Nosso país tem muitos parques nacionais e boas chuvas, deve prosperar se todos fizerem seu papel”, afirmou.
Porém, alguns comerciantes do Sudão do Norte que trabalham em Juba ouvidos pela IPS não se mostraram tão otimistas e temem ser expulsos do território. O vendedor de peças de reposição Abu Masri afirmou que as garantias de Kiir, de que a população do Norte não será discriminada, não bastam para apaziguar as pessoas. “Nós comerciantes tememos represálias como nos obrigarem a voltar para Cartum, e também que os do Sul fiquem com quase todo o petróleo”, afirmou com tristeza.
O ministro de Informação, Rádio e Televisão do Sudão do Sul, Barnabas Mariel Benjamin, está otimista. “Será um momento histórico para nosso povo que passou por um longo e difícil caminho para ver o nascimento da nação. Sabemos que temos muitos desafios pela frente, mas os enfrentaremos unidos, de forma pacífica, e construiremos um país estável e próspero. Assuntos importantes serão negociados em separado, com apoio da comunidade internacional”, disse Benjamin. Envolverde/IPS